sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
11:20
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
18:08
o que eu vivo hoje é completamente diferente. eu olho para o lado e se for sexta, sábado, feriado ou férias, ele está lá, com a cabeça pousada no outro travesseiro. me apertando e dizendo, com voz de sono, "eu te amo tanto". eu não sabia que eu podia ter essa vida. eu não acreditava nela. não comigo. viver junto com outra pessoa não era um objetivo. e depois eu vi, de relance, que poderia ser bom. meses depois, eu percebi que não seria possível. não com o fotógrafo.
e agora vem a vida e me dá uma rasteira boa. perco o ar antes de cair. eu não estou conseguindo ficar longe dele. não estou querendo. nem precisando. pelo contrário. quando o fim de semana acaba, eu fecho a porta, ele liga o carro. dou boa noite para os gatos, deito na minha cama de casal e fico processando a falta que ele faz.
eu contei isso pra ela. eu estava surpresa. ela disse que é por isso que as pessoas se casam. engraçado. eu nunca tinha parado para pensar nessa razão mais óbvia. para mim, o casamento era mais uma satisfação à sociedade, um sonho em tons de branco e cheiro de flor. no meu caso, algo totalmente inviável, dada a minha inconstância.
e eu tenho medo, agora que me vejo a ponto de dividir a minha vida com alguém. porque as coisas sempre acabam. se transformam, primeiro. e eu não queria nunca que isso sequer mudasse. meu estômago se contorce quando eu penso que um de nós pode se tornar infeliz. que as piadas podem perder a graça. que ele pode ir embora. que eu posso, de novo, não saber como é o amor.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
18:32
minha apresentação também é minha despedida. ou quase. viajo amanhã e passarei uma semana a 3 mil quilômetros de são paulo, por motivos melodramáticos demais para os olhos de tippi hedren. talvez para os seus também; na dúvida, não conto. como vocês ainda não me conhecem, não sentirão minha falta. mesmo assim, prometo que volto para desejar boas festas. porque as minhas, para variar, têm tudo para ser boas.
29 de dezembro de 2007
2007 foi um ano de contrastes. aconteceram coisas boas e outras tantas incômodas. mas, pensando bem, todo ano tem que ter esse equilíbrio entre as coisas totalmente dispensáveis e as bacanas. não há anos só bons ou só terríveis. há os acontecimentos, esses sim agrupados em bons e terríveis.
na lista dos acontecimentos perfeitos, incluo o emprego 2. esperei bastante para fazer parte da tal grande imprensa. foi só depois de formada que fui parar nela e acho que foi muito bom não carregar mais a inocência universitária ao adentrar o mundo das hard news, embora eu me considere ainda muito bobinha sob alguns aspectos.
de toda forma, eu não quero perder, em 2008 e nos próximos anos, essa minha bobice, porque é ela que me faz ser diferente. no ano que vem, eu pretendo continuar com a minha honestidade de risco, não importa a influência do meio ambiente sobre ela.
o emprego 2 quase foi um affairzinho besta neste ano que está pra acabar. porque eu cheguei a desistir dele pra ficar só no emprego 1. eu achei que daria conta do perrengue, que era tipo uma superjornalista, mas não rolou. fiquei cansada, fiquei frustrada, fiquei puta da vida e joguei pro alto. mas aí algumas coisas mudaram e eu resolvi encarar a briga, mais uma vez. vou tentar de verdade, não só part-time, antes de dizer um adeus tímido e incerto. em 2008, pois, não tem mais emprego 1 e 2, tem "o" emprego apenas.
vou sentir falta da editora, muita falta. mas eu sei que tá na hora de encarar o novo, sem medo, com paciência. afinal, fomos sempre nós duas, a santa paciência e eu, desde o começo.
na lista dos bons acontecimentos, também incluo as pessoas queridas que fizeram parte da minha vida em 2007. teve um monte de amigo véio de guerra e também as pessoas novas que chegaram e foram puxando uma cadeira e, quando a gente viu, tava amarrado o laço.
vou deixar claro, aqui, que eu não sou muito de ligar e mandar e-mail, essas coisas feitas "pra não perder contato". as pessoas que importam, porém, estão sempre comigo de algum jeito. de qualquer forma, espero que em 2008 eu consiga ser uma amiga mais presente.
2007 passou e eu consegui resolver parte dos meus problemas financeiros, o que dá um alívio tremendo. aparentemente, eu sou uma pessoa que sabe cuidar do próprio dinheiro.
nota de rodapé: não precisa, né?
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
18:18

terça-feira, 14 de dezembro de 2010
20:49
15:54
eu vivi o meu primeiro plantão no trabalho voluntário ontem. foram meses de treino e de simulações. a gente treinou tanta coisa, testou ouvir quase todo tipo de dor. da perda, de não ser querido, de ser sozinho, de ter problemas, muitos deles. e eu achei que seria tranquilo, que eu estava pronta. não foi. fiquei acabada. pensando que porra de privilégio é esse que eu tenho de ter uma vida boa, apesar das minhas dores.
eu nunca fui internada pela minha família. eu tenho amigos. eu tenho um trabalho. eu tenho desejos. por que eu tenho? por que eles não têm? nada explica isso. e que não me venham com um papo religioso. eu não caio nessa.
foi complicado ouvir uma repetição infinita dos problemas mesmo quando, juntos - a pessoa e eu -, conseguimos ver uma luz fraquinha. e aí eu dizia que precisava desligar. e sentia que não tinha de fato ajudado a pessoa. sofrido. mas vou continuar tentando. quem sabe eu percebo que o processo todo ajuda de alguma forma.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
19:00
***
então eu achei, sem querer*, o perfil dela no twitter. ela, que me falou que sabia da história e que tinha pena de mim. eu meio bêbada; ela, dona da razão. eu sem ele; ele com ela. ela tuitou que comprou panetone pra sogra. então é verdade que eles se casaram. é verdade que eu não servi. que tudo aquilo que ele disse e que doeu tanto era mesmo o que ele queria ter dito. não um jeito estranho de gostar de mim. me senti mal. fazia tempo que eu não me interessava, que eu não buscava notícias. fui clicar pra quê. cliques malditos. não por ele, por eles. por mim e por quem eu já fui. pelo caminho tortuoso que eu fiz pra pedir pra ele ficar. justo eu que não acredito nessas coisas de pedir. eu fiz o que eu mais abomino. e isso, toda vez, ele me joga na cara.
*sem querer. he-he. claro que se a gente faz, é porque a gente quer. freud etc.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
21:25
terça-feira, 9 de novembro de 2010
18:59
fui destruída pelo quarto do filho, um filme italiano de 99 minutos. pareceram horas. tão bonito, tão humano. que dor possível, aquela. todo mundo vai sentir um dia. todo mundo.
fiquei estática quando acabou. pelo filme, por causa daquela música que toca no final. eu mal conseguia explicar por que estava naquele estado. de pé, virando poça. eu já disse isso antes, no outro blog. eu não era mais uma pessoa. eu era um sentimento.
o que doeu é que todo mundo estava separado. até tentavam se ajudar, principalmente a filha, que conseguiu olhar mais para a dor dos pais do que para a própria. porém, eles estavam impenetráveis. cada um tentando resolver aquilo como podia, com as limitações todas.
e vem a arianna e quebra todo mundo. mais ainda. só que de um jeito libertador. ela é alguém de quem eles podem cuidar. ela é a lembrança mais viva e mais alegre do andrea.
eu adoro quando o giovanni chora no trabalho dele. eu sinto o alívio dele de longe.
já a cena do jogo do basquete, a da notícia, corta o meu coração irremediavelmente.
mas adoro quando eles cantam no carro. ali sim. todo mundo junto. ridículos. e tão felizes.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
18:11
a segunda vez foi quando eu sonhei que uma barata andava em mim. no meu braço. rá, não era sonho! gritei, gritei. o namorado, inocente, achou que eu tinha tido um pesadelo. quem me dera etc. mencionei a barata. e ele: onde ela tá agora? eu: joguei aí do seu lado! é, eu sei, não foi uma atitude camarada.
aí, teve essa outra vez também.
e hoje tinha uma semi-viva no box. e os gatos ficaram disputando o prêmio nojento. e eu atrasada, precisando tomar banho. finalmente, a gata caolha levou o bicho pra fora do box e eu pude varrê-lo. tomei banho de chinelo. juro por deus, tinha sangue de barata no chão.
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
19:55
19:52
"o que mata é que não há espaço para a verdade na ditadura"
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
19:37
18:22
tirando, portanto, o piriguetismo (exemplos aqui e aqui) do leque de opções, sobram os modelos não muito decotados e não muito curtos, com as devidas exceções (tipo decote nas costas, que é uma coisa bonita, a depender das costas em questão).
sobraram os básicos e os chiques. os básicos são aqueles de uma cor só, longos ou curtos. o legal de um básico é poder usar sempre. e fica bonito e ryco a depender da maquiagem etc. o chique, bem... o chique é aquela coisa oscar. não trabalhamos.
até porque, além de caros, os chiques geralmente são muito brilhantes. é cafona. perdoável se - e somente se - a usuária for a mãe da noiva. moças não precisam se jogar naquele mar de canutilhos.
e há o problema do tecido brilhante, tipo cetim. se o pano não for realmente bom, vai marcar todas as dobras. a sua pochete discreta? vão nascer holofotes em volta dela.
por isso eu prefiro investir num vestido que não vai me deixar passar vergonha*. e que ninguém vai ter. nem sequer parecido. é no nível björk. brinks!
a verdade é que eu gosto de costureiras. essas senhoras que nos medem inteiras e, com base na nossa imaginação, fazem os vestidos de festa mais graciosos.
para o casamento do ano, eu vou mandar fazer um todo trabalhado no tule. uma coisa meio swing dress com bailarina. e a bolsa que eu vou comprar, prestem atenção, é a bolsa de festa mais linda que pode existir no universo. oremos para que eu tenha dinheiro pra isso tudo.
* eu já passei vergonha. muitas e muitas vezes. é por isso que eu falo do assunto com tanta propriedade.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010
18:03
no sábado, começa o treinamento para o trabalho voluntário. vai ser um alívio. isso soa estranho, eu sei.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
21:32
outra coisa que me fez pensar esses dias foi a falta de temas. não que a minha vida tenha ficado desinteressante pra mim mesma. pelo contrário. acho que ela ficou maior com a minha saída de casa e com a casa que eu tenho pra manter.
talvez haja uma crise muito bem escondida dentro de mim por causa dessas coisas ou talvez eu tenha aprendido a lidar com elas de uma maneira tranquila, com mais tolerância à minha pessoa.
vai ver é o apoio dele, o menino que está comigo de um jeito como ninguém antes esteve. ou é tudo culpa da internet que eu não tenho em casa.
só sei que não vim aqui, como faço agora. desde o blog antigo, é assim que funciona. algo dói ou alegra demais, eu venho aqui, eu escrevo, algo bom acontece dentro de mim.
e hoje? bem, hoje eu estou com medo das coisas que eu sinto, porque elas me fazem mal. começou por causa de uma crítica e terminou com uma culpa que eu senti e alimentei até doer muito.
eu queria ter acertado totalmente. queria a perfeição. não a que está boa pra mim. a perfeição medida pelo outro. o que acontece é que eu sempre faço isso. o olhar do outro é uma reprovação quase sempre. um olhar que me enxerga através de lentes de aumento. diante delas, eu fico pequena. é exaustivo, porque é sempre frustrante. eu sei que é ruim pra mim. eu não consigo parar.
minha insegurança foi escancarada, talvez seja por causa dela que eu demoro tanto para sair do lugar. se eu fosse mais durona, se eu fosse mais cara-de-pau, se eu tivesse menos preguiça, se eu fosse mais nerd, se eu fosse mais popular, se fosse um monte de coisas que eu não sou, talvez...
tão vendo?
"paternalista". foi essa a palavra que desencadeou tudo, eu acho. grandes chances também para a frase "você se diminuiu". e eu analisando tudo. e me cansando de ser tão entusiasta de freud e lacan, porque, por deus, eu não consigo parar de pensar. e de me martirizar. e de ver como eu sou torta. e que algumas coisas demoram muito pra passar.
superar. talvez eu desconheça o verbo.
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
20:59
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
22:08
hedren, t.: mistério
d: tô muito interessado em saber.
hedren, t.: pq?
d: sei lá. acho legal sua vida.
hedren, t.: hahahahahahahaha*
*porque, né? é claro que é uma piada.
15:32
terça-feira, 21 de setembro de 2010
19:25
terça-feira, 14 de setembro de 2010
23:04
não consigo ir pro meu quarto dormir, não consigo. todos os hóspedes já foram e eu, a louca do computador, tô aqui. eu sei que eles pensam isso de mim. que eu sou louca. e agora paranóica.
nem sei o que eu tô sentindo, mas a vontade de escrever é inesgotável. esqueço às vezes que isso aqui é meu e que eu posso vir sempre e ficar à vontade. quando lembro, é essa avalanche.
falei com um amigo querido hoje. fazia um tempão que a gente não se falava. tipo... anos. casou, teve filho, separou. incrível como a vida das pessoas acaba se parecendo quando passa o tempo. já tenho pencas de amigos separados. aí, você vai ouvir os detalhes e - pânico! - os motivos também são os mesmos, na essência. dura quanto o amor? suporta o que?
dói pra cacete se separar de alguém. quando eu tava esquecendo dessa dor, revejo brilho eterno de uma mente sem lembranças e volta tudo. aí, eu leio o blog dela e tão lá as partes mais fucking hard da história emocional da humanidade. de todo modo, acho que a maior parte das pessoas pode fazer outra coisa com essas dores. é deixar virar outra coisa. e a gente sai melhor desse processo chato, longo, cruel. eu acredito piamente nisso, piamente.por outro lado, sempre desconfio quando me dizem que o amor acabou e foi isso. eu mesma tô tentando sempre explicar pra mim porque eu parei de amar o garoto da fotografia. sempre me pego tentando dizer que "amor acaba" e aí vem ela pra me dizer o momento exato em que eu matei o amor. tem até sessão-chave. medo.
visitei meu pai nas férias. foi como se nunca tivéssemos ficado longe um do outro. primeira vez na vida que eu não choro pós-infância na frente dele. quer dizer, eu chorei, mas ele não viu. vou ganhar mais um irmão. ou irmã.
21:45
a a., eu já percebi, é obstinada. cortou os doces da vida, não come nem os dietéticos que servem aqui. anda rápido e deixa todo mundo pra trás na caminhada. comprou um relógio que conta a pulsação e tá toda feliz com o brinquedinho.
ela tem alergia a um monte de coisas e na quinta-feira eu vou pra "cidade" com ela, porque ela precisa tomar vacinas toda semana.
eu não sei o que eu sinto por essa moça. às vezes, ela me irrita com o radicalismo todo. outras vezes, eu tenho vontade de cuidar dela.
depois, veio a l., que a a. me apresentou. a l. é uma senhora bonita, refinada. demanda muita atenção, porque gosta de falar pelos cotovelos. tem opinião sobre tudo. está aqui há mais de um mês e só perdeu uns 2 quilos. ela diz que o seu metabolismo é lento. eu acho que ela sofre muito, na verdade.
aí tem a menina que eu não sei o nome. ela é a mais empolgada com tratamentos estéticos, massagens orientais, com lama, banho disso, daquilo etc. ela é divertida. tem um sotaque ótimo, do interior. faz questão de mostrar pras pessoas a foto de quando ela era gorda. eu ainda não vi. e também não fiz nenhum tratamento estético. acho que dá pra pensar nisso com uns 40 anos. até lá, quero preservar meu lado trash.
a s. (nome da minha filha, se eu tiver uma) é a que tem o papo mais legal. ela deve estar perto dos 40, é dentista, mas fez direito depois e agora só trabalha com advocacia. ela poderia ser chata, uma vez que ela tem uma voz muito chata, mas ela é muito agradável. tem mil histórias familiares e a gente pensa de um jeito meio parecido sobre a criação de animais e crianças, embora eu não me sinta nem um pouco apta a criar seres humanos. ela tem um bulldog e isso conta 50 pontos a favor dela. ela também tem muitas expressões faciais, o que eu acho ótimo.
por último, o melhor. com vocês, m. m. tem 65 anos e é viúva há 13. ela joga toda a culpa dos seus 130 quilos na morte do marido. ela reclama muito da comida. a gente começou a conversar porque ela estava justamente blasfemando contra a dieta. e eu tentando consolar. aí, ela veio com o papo do "rosto lindo e corpo zoado" e eu desanimei.
mas então ela me surpreendeu. fui tomar uma ducha e ela elogiou as minhas tatuagens. achou tudo lindo e disse que vai fazer algumas em homenagem aos netos. "borboletinha pras meninas, né?", ela disse. os filhos dela criticam muito essa vontade. eu dei a maior força. depois, ela desembestou a falar, porque eu fui perguntando tudo.
me contou que tinha um namorado, também criticado pelos filhos. e agora ela deu um basta nessa relação, porque descobriu que ele é "mulherengo", mas não tenho certeza de que foi essa a palavra que ela usou.
ela viajou para os estados unidos com esse cara, bancando tudo. até roupa e declaração para o visto. ele é mais novo. tem menos de 50. eu só disse "cuidado pra ele não se aproveitar da senhora". ela respondeu "ah, ele não tinha condição de pagar e eu queria ir com ele". eu, que defendo a livre crença e a ilusão terapêutica, não disse mais nada.
fiquei morrendo de curiosidade quando ela contou desse namorado. uma coisa que eu sempre quis saber como funciona é o sexo dos velhinhos. aí, eu disse: "posso fazer uma pergunta íntima"? e ela: "claro". perguntei: "como era er... o sexo? bom?" ela abriu o maior sorriso da piscina e disse que é melhor do que antes, que ela tem o maior fogo agora, embora o marido fosse um "safado bom de cama". ela se divertia com o ex três vezes por noite (bem melhor do que a minha média, diga-se).ela fala disso tudo com as netas, principalmente sobre usar camisinha. isso desperta a ira das mães das meninas (?!). m. me chama de "amiguinha".
17:27
tô de maiô, evitando molhar a cadeira do spa. tô cheia de energia também. tentei dormir à tarde, na piscina e no quarto, porque eu adoro dormir. a surpresa gigante foi que eu não consegui, mesmo pegando no sono só às 2h de ontem. nasceu um pique em mim que... uau. agora entendo quem malha feliz. quero tanto conseguir fazer isso quando sair daqui... descobri que suco de morango com banana é o céu. também descobri que era triste acordar ao meio-dia. perdia um tempão cultivando a minha pancinha quando poderia estar matando todas as malditas células adiposas que brotaram em mim. e isso me faria uma pessoa mais feliz. feliz em uma simples calça jeans. tô achando que desta vez não vou desistir de uma vida melhor e de um reflexo animador no espelho. mas sempre tem a porra de um big mac no meio do caminho. tudo bem se eu comer sem culpa e depois correr milhas?
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
20:36
imaginei certo, exceto pela parte do chocolatinho, que eu não trouxe. autoenganação: vamos estar evitando.
um alívio: aqui é bonito. fica no alto de uma montanha, e dá pra ver algumas cidades desse interiorzão de são paulo. quando eu quero relaxar, eu sento num banquinho e fico vendo a paisagem. depois, eu deito e fico olhando o céu. é um jeito de pensar em outra coisa além das coisas gostosas que eu não estou comendo.
depois da natação, que eu fiz porque deu vontade, sem professor, e da hidroginástica da tarde, lá fui eu pro banquinho. de roupão. é legal chocar os outros hóspedes.
mas dá pra entender. estamos em uma situação limite. e as pessoas ficam selvagens quando estão nos seus limites. só acho besteira fazer os exercícios de qualquer jeito, parando quando dói ou cansa. seremos gordinhos pra sempre se não aceitarmos os desafios! viram? já tô adotando um discurso motivador chato. bocejem.
é o que eu faço mentalmente quando algum professor grita palavras de estímulo e nos convoca a malditos abraços grupais.
pense antes de falar, mundo, pense.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
12:43
tinha bastante sentimento nesse sonho. alguns bons, outros nem tanto. acordei atordoada como se tivesse visto um filme pesado que não entendi muito bem.
eu me sentia alegre. meu pai tinha ido me visitar. a gente estava em uma casa que não era a minha de hoje, mas a impressão que eu tenho é a de que eu já morava fora da casa da minha mãe, porque o roomie antigo estava no sonho.
aconteceu que deve ter ficado tarde e eu disse pro meu pai que ele podia dormir lá. mal contendo a ansiedade, lá fui eu tentar dormir. no meio da noite, eu acordei pra checar se ele tinha mesmo ficado na casa. e ele tinha. só que estava na cama com uma mulher que eu não conhecia. fiquei pensando "qual parte do filme eu perdi?". e também no que tinha sido feito da atual namorada dele. concluí: "lá vou eu, de novo, testemunhar uma traição".
do lado da cama dele, tinha uma outra, de solteiro. lá também dormia uma pessoa que eu não sabia quem era. e no sofá dormia o roomie. e eu entendi que ele tinha ido dormir muito puto da vida, afinal a cama dele estava ocupada por um casal. aí, fiquei muito preocupada, pensando que aquilo não era mesmo legal e que no dia seguinte iria ter bronca. e das justas.
eu me sentia triste, então. meu pai estava com uma mulher e isso me corroeu de raiva, porque nunca ficamos só nós dois fazendo alguma coisa. sempre tem uma nova esposa ou namorada, às vezes duas ao mesmo tempo. ou tem as minhas irmãs, a bateria que ele toca sem cessar, alguma coisa urgente que ele tem que resolver. no sonho foi como é na vida. e eu com aquela sensação de "como fui boba ao pensar que seria diferente desta vez".
eu me senti envergonhada quando, na cozinha, dei de cara com ele pelado. ficou claro pra mim que eles tinham feito sexo. eu me senti pequena, sem importância. ele não tinha se preocupado comigo.
eu não sou moralista. várias vezes briguei com a minha mãe porque ela não me deixava levar namorado pra dormir em casa. achava um contrasenso ela querer proibir o que, fora de casa, não teria como controlar. então a chateação do sonho é menos pelo sexo dentro de casa e mais pelo sentimento de ele não estar nem aí pro que eu sinto.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
22:10
o coração dela virou poça d'água. desfeita por um sentimento menor?
como num clipe da björk, onde o que é pequeno fica grande, grande. insuportável. dói. mas é encantador. e até engraçado.
p.s.: björk, pra mim, é ovo fritando e coração bagunçado. ou excessivamente feliz.
20:49
isso é o que eu chamo de interpretação peculiar da realidade. e viva o maluf, que desde 1969 só pensa no bem-estar de quem tem carro.
17:10
16:33
p.s.: a vida tá um saco agora, com tanta coisa pra fazer e nenhuma vontade. tô vendo o fracasso em toda empreitada. mas tô botando fé que com um pouco de descanso, eu volto animada a continuar. porque nada tem sido fácil. correr atrás cansa pra caralho.
p.p.s: saudade do blog antigo. tinha tanto mais de mim lá. eu era maior, mais inteira, mais corajosa. ou é só saudosimo, mesmo.
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
15:18
nesses momentos, eu vejo que me importo mais do que deveria com o que eu deveria ser ou ter e fico estabelecendo comparações terríveis pra minha autoestima.
elas, essas garotas que eu sempre encontro, trabalham em uma revista feminina da mesma editora que responde pela minha revista.
não sei se elas precisam ser ou se gostam de ser ou se apenas são, mas o fato é que elas se parecem muito com as mulheres que aparecem na revista delas. não as modelos. é como se elas fossem as leitoras que elas imaginam que existam. as chamadas mulheres-alfa, a quem a revista se dirige. mulheres que têm uma carreira, um marido, filhos e ainda são lindas, malham, prestam atenção às tendências e, por deus, têm dinheiro pra bancar essa porra toda.
elas são magras. e eu com a minha camiseta roxa, minha saiona preta. praticamente morro de vergonha dos meus braços gordinhos, da minha barriga, das minhas bochechas de quico. e ainda falo as coisas erradas!
- olha só, tá toda a faculdade praticamente na revista x.
- é, que legal.
- só falta você, tippi.
- tem vaga?
- agora não...
- olha, eu gosto muito da sua revista (de fato, eu gosto quando tô no mood mulherzinha. também tem umas reportagens boas, às vezes). mas acho que ainda preciso me testar mais na revista y, pois nem sempre escrevo e eu quero escrever mais blá blá blá (o velho papo de sempre).
- ah tá, eu só tava falando, mesmo.
tipo, não era pra eu levar a sério. não era uma proposta de trabalho, lógico. tudo culpa dessa dificuldade interpretativa que eu tenho às vezes. e aí o assunto morreu e eu fiquei só ouvindo a conversa delas, que era sobre como a tpm se tornou fútil.
e eu todo tempo pensando que queria comer mais alguma coisa, mas fiquei com vergonha de levantar na frente delas. praticamente podia ouvir seus pensamentos, todos mais ou menos assim: "- nossa, a tippi engordou, né? não sei como tem mulher que não se cuida. tanta academia por aí etc."
é, eu sofro com essas merdas.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
21:22
me agradava particularmente o fato de ele ser no centro e de eu ter uma varanda (que eu nunca usei de verdade).
(engraçado como praticamente abandonar a terapia me deixou mais lenta. agora, penso com dificuldade sobre o que eu senti. este post tá bem difícil de sair. ou talvez eu ainda me censure muito. ou seja só mania de jornalista, mesmo. alow, tippi, isso aqui é um blog pessoal, não uma reportagem.)
ok.
no 44, eu finalmente tive liberdade. quase todos os dias cheguei de madrugada. em boa parte desses dias eu estava bêbada. coisa libertadora, porque eu nunca consegui beber muito. medo do que aconteceria se a minha mãe percebesse o meu estado. alguns podem pensar que é ridículo sair de casa só pra poder voltar tarde e bebaça. saber como eram as coisas sem uma sensação permanente de culpa era tudo o que eu precisava.
foi legal finalmente não ser questionada sobre o horário em que eu dormia e acordava. mais legal ainda foi poder fumar maconha em casa. e ter o meu próprio maço de cigarros mentolados e de cravo. maço este que ficava jogado em qualquer lugar, nunca escondido.
mas aí as conversas legais com o roomie rarearam. apareceu um vão. fiquei com preguiça dele. acho que começou quando ele defendeu a abordagem de um programa escroto pseudojornalístico e justiceiro com as minorias deste mundo, sendo que ele mesmo não gosta de travesti nem "desses baianos que a gente vê no metrô, em qualquer lugar". e foi ficando grave com a louça sempre transbordando na pia, o banheiro permanentemente nojento, a caixa onde o gato faz cocô sempre suja.
e eu não sei falar as coisas. mania de ser sempre ok que me fode. fui deixando crescer e, pra evitar o conflito, me isolava com meus salgadinhos, chocolates, livros e dvds. bem adulta. só ficava no quarto ou fora do apartamento, pra não ter que lidar com o que me causava desconforto. acho que eu deveria ter tentado falar. teria sido importante no momento de dizer tchau, inclusive. mas... #fail.
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
16:23
sexta-feira, 16 de julho de 2010
19:30
quinta-feira, 1 de julho de 2010
00:11
em primeiro lugar, sinto falta de ter aquelas duas por perto. nem chegamos a ser tão amigas, mas era bom poder falar sobre qualquer coisa e principalmente sobre o universo dos blogs (dos blogueiros, mais propriamente). era igualmente bom rir, assistir seriado, ir ao mcdonald's numa noite de fuga, comemorar aniversário com bolo e flute (ou flûte) do vanilla. se não fosse por aquela noite desastrosa, estaria tudo bem e eu ainda seria uma pessoa compreensível para elas.
aquela noite também mudou a percepção que tenho dele, mas não sei se gostei disso. nem sei se estou certa. eu apenas senti que ele não me protegeu. pelo contrário, me expôs ao risco. eu fui, feito onda. estava submersa nos desejos que não eram propriamente meus. mas eu sou grande o bastante para escolher, não sou?
eu gosto dele, desse garoto. gosto mesmo. no sentido mais amplo, que abarca mais do que noite de sexo, romance e expectativa. como não gostar pra sempre de alguém que ensinou a gente a ouvir música? de quem está por aí, por perto, ainda que os anos passem? de um cara que está lutando pra sair de sua concha? tem tanta coisa lá dentro que não ouso mais classificar. só sendo muito simplista. ou muito ingênua.
e agora há uma nova pessoa na minha vida. já existia, mas ganhou novo status. é bom, é seguro, é gostoso. mas não paro de me perguntar "até onde dou conta?". isso me angustia logo na partida. de cara. não sei até onde vou, o que quero e o que fazer. mas vamos, então, juntos descobrir.
espero que ninguém descubra que demoro tanto pra escrever um texto e depois ainda posto no meu blog confessional.
tô sentindo um monte de coisas, um monte. ainda termino este post.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
17:18
86 - méxico
seleção campeã: argentina
eu tinha acabado de completar dois anos de vida. não entendia bulhufas de futebol, de copa do mundo ou de qualquer outra coisa, mas ganhei uma camiseta do brasil e posei para uma foto no quintal. eu tinha um casal de maritacas que nos venderam como papagaios. eram o romeu e a julieta. não lembro qual deles morreu primeiro, mas, pasmem, o outro morreu pouco depois.
90 - itália
seleção campeã: alemanha ocidental
eu estava no pré. continuava não ligando pra copa. tô procurando qualquer memória na cachola, mas só consigo me lembrar do jogral ensaiado à exaustão, da festa de formatura, finalmente, e da lambada que dancei na festinha. eu estava banguela, meu cabelo estava todo cacheado e eu tinha ganhado uma pulseira da minha mãe. minha melhor amiga era a bia. quase 15 anos depois, ela deu em cima do meu namorado da época. bitch.
94 - estados unidos
seleção campeã: brasil
agora sim eu sabia o que era uma copa, mas descobri que meu avô não. até hoje, ele só assiste porque considera uma espécie de dever cívico, mas não entende nada do que está vendo. faz questão de perguntar sempre de que lado o brasil deve fazer gol. comemora o sucesso da seleção, naturalmente. acha que futebol é uma grande palhaçada. e que os salários são injustos. quanto a mim, fiquei maravilhada com bebeto e romário. nana, neném! eu tinha um hamster, o pig. ele morreu antes da final, após agonizar durante todo o campeonato. enterramos no jardim.
98 - frança
seleção campeã: frança
todo o frescor da oitava série e o inexplicável fiasco brasileiro. sem mais.
2002 - coreia e japão
seleção campeã: brasil
estava muito feliz por ver o felipão comandar a seleção. se tinha alguém que eu amava mais do que o marcos, no palmeiras, esse alguém era felipão. impagável vê-lo comemorar o penta como comemorou a conquista da libertadores da américa. descobri que o bial se tornava poeta quando o brasil ganhava e isso me chateou. assisti aos jogos no apartamento recém-comprado pela minha mãe. foi sua primeira aventura fora da casa dos pais, excetuando-se o casamento frustrado que durou menos de um ano. era o nosso espaço e éramos felizes.
2006 - alemanha
seleção campeã: itália
foi a copa dos adultos, como ele escreveu. eu já trabalhava duro, tinha um chefe escroto e queria morrer de raiva por ele abominar sites não relacionados ao trabalho, fones de ouvido, alegria etc. estava prestes a me formar, correndo com o tcc, mini-torcendo, portanto. neste ano, consegui meu primeiro trabalho como repórter.
2010 - áfrica do sul
seleção campeã: ?
sem dúvida, a copa acompanhada com mais ardor. vi quase todos os jogos, cornetei e amei dunga. minha felicidade é grande ao vê-lo peitar a vênus platinada, mas shhhh. kaká finalmente se revelou mais humano e menos cordeiro de deus. porra! e o felipão tá voltando pro palmeiras.
* não posso linkar. ele chora.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
00:04
i cried and i cried
there were nights that i died for you beibeeeeeeeee
i tried and i tried to deny
that your love drove me creizeee, beibeeee
if the love that i got for you is gone
if the river i cried ain't that long
then i'm wrong
yeah i'm wrong
this ain't a love song
p.s.: mal aí. precisava desabafar.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
23:23
detalhe importante: não serve ler coisa que exige concentração. é como se a brochura fosse uma TV aberta. e, como tal, a qualidade tem de ser duvidosa. você simplesmente não deve precisar pensar. é a brecha perfeita para mergulhar nas previsíveis tramas dos livros de mulherzinha como comer, rezar, amar ou em seu lugar, porcarias que eu absolutamente adoro. pausa para suspiro de alívio pós confissão vexaminosa. (tô ouvindo, neste exato momento, never say goodbye, do bon jovi, aproveitando a deixa.)
eu tinha onde comer, mas me faltava o livro ruim. fui à banca de jornais. na primeira, nenhum título "interessante". eis que na vitrine da segunda dou de cara com como me livrar de matthew. perfeito, pensei. é romance de mulherzinha, aparentemente um bouquet de clichês recheados de paixão e frustração e custa R$ 12,90.
aí, pedi o título ao senhor japonês dono da banca. ele, ocupado, pediu ao moço que com ele trabalha. repeti o nome do título. e ele perguntou - se livrar do quê?. e eu - do matthew. espirituoso, ele continuou: - manda e-mail. e eu só ria, claro. aí, um cara xis que também estava na banca opinou: - não atende as ligações dele. já com o livro em mãos, ele diz: - nossa, comprido. deve ser chato mesmo esse matthew. eu: - é...
paguei e fui embora, rindo. como não amar, ainda que brevemente, essas pessoas que fazem dos meus previsíveis dias esquetes de stand-up comedy?
21:33
sexta-feira, 28 de maio de 2010
15:35
13:33
nunca pensei que veria chan marshall mandando beijo, fazendo coraçãozinho com as mãos e enxugando uma lágrima imaginária. eu ouvi sobre seu lado mais frágil, desencontrado e introspectivo, justamente o que ela mostra no palco.
e agora, para nosso espanto, ela parecia feliz. tenho medo de quem, subitamente, aparenta felicidade. é como a melhora repentina antes da morte ou a estranha alegria do suicida.
eu queria ouvir todas as canções que me marcaram e fizeram sentido. mas ela não veio aqui para mexer nas nossas lembranças, cutucar a nossa dor. veio para esquecer as suas lembranças, espantar a própria tristeza.
tudo bem, lute contra os fantasmas.
sorte que metal heart ficou, apesar da faxina. uma superação? um tributo? uma pista? jamais saberemos. ela, mesmo quando fala, não diz.
foi até o camarim e voltou com uma cesta de frutas e flores. nem roberto carlos se entrega tanto assim. pena que não fiquei nem com as pétalas. na falta de xícara, tenho a toalha que estava jogada no palco. nem usada foi.
ei, você. sim, você. muito obrigada. melhor presente de aniversário em anos.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
19:54
no entanto, isso só é viável se a "promoção" "prometida" vier. decidi que não posso mais ganhar tão mal. sobretudo porque eu me esforço. num mundo onde existe justiça, cósmica que seja, isso deveria contar. mas esse mundo existe? claro que não. as coisas podem simplesmente dar errado. ou dar certo de um jeito torto.
se a promoção não vier, eu vou tirar férias, coisa que jamais aconteceu em toda a minha vida profissional. e lá se vão sete anos de labuta. na volta, devo bater em outras portas. de jornais, talvez. este é o segundo caminho.
a terceira possibilidade, por incrível que pareça aos que já ouviram todo o meu repertório sobre a paixão pelo jornalismo, é o que mais me agrada. consiste em voltar para a faculdade.
para isso, eu precisaria trabalhar em alguma agência de comunicação que pague bem. aí, cursaria psicologia. me tornaria uma acadêmica. depois, com algum dinheiro guardado, montaria um consultório, ao mesmo tempo em que frequentaria aulas da escola de psicanálise. ouviria os outros e ajudaria essas pessoas a escrever suas próprias histórias, a enxergar esses enredos tão inacessíveis por vezes.
no meio do caminho, achei que a construção de histórias era jornalismo. literário, para ser mais exata. demorei para notar que dificilmente é. se você não for um gay talese da vida você vai ficar na superfície. e eu quero mergulhar, como sempre.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
17:18
quinta-feira, 20 de maio de 2010
16:18
Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.
Eu queria entrar,
coração ante coração,
inteiriça
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando
Eu queria até mesmo
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.
Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.
Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.
Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio
Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las
Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.
ana cristina césar
sexta-feira, 14 de maio de 2010
quinta-feira, 13 de maio de 2010
19:43
14:59
o roomie e eu estamos ficando íntimos. ele me conta coisas da vida dele enquanto toma conhaque, eu conto coisas da minha enquanto tento refrear os ímpetos diabólicos do gato. fomos, mais uma vez, dormir às 3 da manhã. trocamos receitas de torrada - porque pão é o que mais tem naquela casa - e fizemos planos de hospedagem de camaradas durante a virada cultural. parece que a sala vai ficar pequena.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
personal jesus (ou um texto que é sobre você)
acho que consegui. pelo menos ecoou e, portanto, é de verdade. mensuro assim.
personal jesus é uma música do johnny cash. não tenho religião, acho que você sabe. mas, diante de tudo isso, bem que precisei de um personal jesus. pra ouvir minhas preces, pra se importar com o que eu senti. porque, nessa vida, tem coisa que é stronger than him.
20:17
ainda assim, decidi ler até o final. no quinto parágrafo, comecei a sentir o êxtase. nunca tinha pensado, por exemplo, que a performance de lady gaga traria, na apresentação estética, elementos do pós-feminismo.
ela explica bem melhor do que eu poderia:
O tema da mulher morta torna-se quase um lugar-comum na arte contemporânea, como foi no século 19. Naquele tempo, ele representava o impulso próprio do romantismo que via na mulher falecida e inválida um ideal agora retomado de modo irônico por diversas artistas contemporâneas. Lady Gaga vai, no entanto, muito além dessas artistas em termos de coragem feminista. Enquanto elas zombam das mulheres estereotipadas que morrem como Ofélias por um homem, Lady Gaga, de modo mais surpreendente e corajoso do que importantes artistas cultas, dá um passo adiante.
depois, ela fala sobre a estética de telephone, ressaltando o desprezo pelo amor dos homens e a subversão da imagem da mulher-mãe, que se dedica a alimentar seu homem.
não sei se lady gaga ou alguém de sua equipe pensou nesses conceitos para elaborar os vídeos. e ninguém vai se importar com essas coisas também, a não ser os doutores. e eu, pelo visto.
na íntegra.
terça-feira, 11 de maio de 2010
21:34
fulano,
a exemplo da coisa x, acha que seria viável fazer y? acho que seria um exercício interessante para mim, mas não sei se você teria confiança ou se estou indo com muita sede ao pote.
obs.: vou carregar perpetuamente o erro histórico de ter feito z, né? ok, é justo. mas tenho minhas dúvidas. pode ser que o tenham cometido antes e deixado passar batido. é um consolo.
ele, para mim:
sim, esta semana estou cuidando de n. é uma boa semana para vc se virar sozinha.
sobre o erro, precisa pagar um pedágio, né? vc ainda vai ter que ouvir um tempinho.
é possível que tenham cometido esse erro no passado, embora eu ache que não. já vi outros, o pior deles foi no w...
21:21
16:23
por enquanto, as palavras de um nostálgico. também na casa dos 50, também um pária.
"Quando eu não passava de um jovem repórter, já lá vão três décadas, lembro-me de que recorríamos aos jornalistas mais velhos para obter alguma informação útil ou para resolver dúvidas. Eles eram figuras importantes no ambiente de trabalho. A gente os considerava cidadãos veneráveis e dignos de atenção. Desafortunadamente, agora que seria a minha hora de figurar como referência e exemplo para os outros, só me sobrou ouvir as maldisfarçadas gargalhadas de desprezo daqueles que recorrem às bases de dados e aos mecanismos de busca da internet para consultar e pedir conselhos. Lembro de ter escrito uma crônica sobre isso, e talvez alguém a encontre na blogosfera. Eu afirmei, se não me falha a memória, que os venerandos sábios anciãos foram substituídos pelo Google search. E eu era Google e não sabia! Um Google search meio gauche, mas ainda assim repleto de memórias, verdadeiras, verazes e até inventadas. Ou melhor, em um passado não tão distante, eu poderia ter sido respeitado como um sábio, mas não houve tempo. E poderia ter criado fatos e dados e ninguém me questionaria. Vários conhecidos meus fizeram carreira assim, na mistificação mais desavergonhada. Eles podiam inventar lembranças. Agora a gente erra uma vírgula e lá vem o sabichão acenando sua busca infalível... Mas esta é outra crônica e um outro tempo, mais adiantado do que o da crônica em questão."
na íntegra.
domingo, 9 de maio de 2010
22:41
e tudo quero
sou quem toca
sou quem dança
quem na orquestra desafina
sexta-feira, 7 de maio de 2010
16:08
olha, se são os moleques do centro*, eu entendo. agora, gente que é colega e inclusive ganha mais do que eu**... ah, por favor.
(fora que eu tô pobre demais. demais.)
* ontem, o cobrador e o motorista do ônibus deram carona a uns sete meninos de rua. achei tão legal. eles estavam cantando funk, o que eu também achei legal. ao contrário de quem coloca o celular pra tocar funk no último volume, que desperta apenas o meu ódio. um deles falou umas baixarias e pediu desculpas pra mim logo depois. o maior contou que ia no baile da rose bombom (que eu achei tinha falecido nos anos 80) e que não podia levar os menores, que seriam barrados na entrada. "lá só tem gostosa", afirmou.
** meu contrato é uma bizarrice aqui, pois é de cinco horas enquanto o de todos os demais é de sete. por isso, acho que ganho menos do que o povo. mas não menos que os estagiários e auxiliares, acho.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
21:04
A fobia social é bem mais do que uma simples falta de vontade de estar com os outros ou timidez. Trata-se de um medo exagerado de sentir vergonha ou sofrer humilhação quando a pessoa acha que será avaliada pelo grupo. Por isso, ela foge de situações como falar em público, comer na frente de outras pessoas e até assinar cheques diante de estranhos. Segundo o psicólogo Ari Rehfeld, da PUC de São Paulo, muitos fóbicos não conseguem olhar e nem mesmo falar com outras pessoas e acabam evitando sair. Qualquer desconforto desse tipo é capaz de desencadear sintomas de ansiedade exacerbada, como taquicardia, tremores, sudorese e boca seca, o que acaba prejudicando atividades sociais e trabalho. O tratamento é feito com remédios e psicoterapia. (Folha de S.Paulo)
em verdade vos digo que, até a idade dos 16 anos, eu era popular. ao lado de mais três ou quatro amigos, era uma das alunas mais antigas da escola. entrei naquela instituição de ensino no berçário e fui até o segundo colegial. não concluí o ensino médio lá apenas porque meu colégio querido foi à falência.
acho que sempre fui emo. no dia em que anunciaram o encerramento das atividades da escola, lembro de ter chorado rios, abraçado professores, diretores, funcionários e amigos. se não me engano, até escrevi uma carta ou fiz um discurso. sim, eu era meio bocó. ou não. é que hoje acho ridículo expressar o pesar na frente de muita gente, ainda mais quando isso pode ser interpretado como puxa-saquismo. mas, no passado, eu me expressava em público, para as massas.
sofri aquela falência. era o fim de uma era. uma era sobretudo confortável. sempre transitei por lá como se fosse a dona do pedaço. todos me conheciam, me achavam engraçada e simpática. eu era meio líder da turma, conselheira, bom e mau exemplo ao mesmo tempo. nunca precisei me esconder dentro do uniforme, mesmo sendo um desastre no que diz respeito aos jogos esportivos. eu era a garota que sempre sabia o que fazer, o que falar.
então meu sonho acabou e precisei me matricular num outro colégio. alguns dos meus amigos foram para um de elite, maior, e eu os segui. aquilo ali me ensinou a ser quieta. primeiro porque a maioria dos alunos era rica e eu não era. hoje, acho calça jeans e camiseta a coisa mais digna do mundo para se vestir. na época, eu sentia que era a pessoa mais desprezível do mundo por usar essa combinação de peças enquanto as demais garotas usavam saias das mais bonitas, blusas das mais charmosas. e elas faziam tratamentos estéticos jamais sonhados por mim. e elas tinham carro e outras quinquilharias materiais que eu secretamente invejava.
essas coisas parecem bobas se olhadas hoje. sobretudo porque eu não dou a mínima para o luxo. mas vai pensar assim tendo 17 anos num colégio de patys e boys. é criar uma tribo ou se sentir deslocado. eu acabei ficando na minha. outra coisa que me incomodava é que eu não sabia mais puxar assunto. descobri que era tímida, que morria de vergonha de falar a coisa errada e ser zoada para todo o sempre. sobrevivi a esse ano de 2001 com poucos e bons amigos, o que se repetiu no ano seguinte, no cursinho, nos quatro anos após o cursinho e não parou até hoje. nem nunca vai parar, eu acho.
que bom que o colégio faliu, se a gente for ver. conheci um outro mundo, uma outra parte de mim. no entanto, ainda é meio estranho sentir vontade de não interagir, de ficar contemplando meus pensamentos, de ler durante o almoço. não é que eu não goste de pessoas. eu gosto muito de algumas e algumas também gostam muito de mim. é só que às vezes eu não sei o que fazer com elas. aí, entro no meu retiro emocional. a sorte é que sempre vem um pra me salvar.
p.s.: enquanto concluía este texto, veio uma garota fofa aqui da redação conversar. foi uma conversa ótima, até profunda. realmente gosto dela e sempre vou gostar quando as pessoas me lembrarem que existe vida além do quarto. ou dos livros. ou do cinema. ou da redação. ou seja, além de todos os lugares onde costumo me esconder.
14:13
sempre penso que poderia manter um diário, e poupar as pessoas de ler certas coisas. confesso, porém, que tenho necessidade de falar, de transformar os sentimentos em algo legível e não apenas para mim. é muito ego, é muita pretensão artística, é muito new generation? o que é, por favor? alguém me diz?
de todo modo, a ideia de criar um blog novo, que eu sei que a minha mãe não vai ler, trazia, na essência, um desejo de liberdade, de escrever com menos amarras, de não dar importância ao julgamento alheio e à preocupação que eu posso vir a despertar. porém, estou mais longe disso do que pensava. me censuro demais.
hoje, acordei em cima da hora, como acontece todos os dias. antes, eu dizia para mim mesma que isso acontecia porque gosto muito de dormir. não posso negar a verdade, entretanto. e a verdade é que eu durmo para parar um pouco de pensar. não aguento mais pensar nas coisas que eu gostaria de fazer, que eu gostaria que acontecessem, nas que eu preciso resolver, nas que estou sentindo. há toneladas em cima de mim, a vida não está fácil. eu achei que ela só melhoraria depois de um limite que precisei cruzar. não é de todo verdade, nem de todo mentira. é só que os problemas de antes ficaram mais agudos, mais na cara. outros deixaram de existir.
e daí que eu estou no lugar onde sempre quis estar? não consegui, até o momento, ser o que eu quero ser.
não vou fazer sessão de desculpas aqui, prometo. você me lê, você pode pensar o que melhor lhe aprouver. eu sou mais do que está aqui. e menos também. aqui tem só parte de mim. a parte mais esquisita, inacabada e em dúvida de todas.
terça-feira, 4 de maio de 2010
20:17
texto de 23/04, das 13h51
18:21
com vocês, maria rita kehl.
03 de abril de 2010 | 0h 00
Maria Rita Kehl - O Estado de S.Paulo
O que tanta gente foi ver do lado de fora do tribunal onde foi julgado o casal Nardoni? Torcer pela justiça, sim: as evidências permitiam uma forte convicção sobre os culpados, muito antes do encerramento das investigações. Mas para torcer pela justiça não era necessário acampar na porta do tribunal, de onde ninguém podia pressionar os jurados. Bastava fazer abaixo-assinados via internet pela condenação do pai e da madrasta da Isabella. O que foram fazer lá, ao vivo? "Ver" a morte? "Lá onde moro não tem esse negócio de morte violenta. Lá só tem árvores e passarinhos", disse à TV um rapaz que viajou de Ibiúna para dormir ao relento na frente do fórum de Santana. Ele foi ver a morte.
Mas a morte não se vê de fora do tribunal. Nem pelo lado de dentro. Nem de lugar nenhum. A morte mesmo, mesmo, é aquilo que não se vê. Vê-se o corpo sem vida. Vêm-se marcas de violência, decrepitude, doença. A morte está fora de nossa capacidade, tanto de representação em imagem quanto de simbolização. Por isso (assim como o gozo sexual) ela dá tanto o que falar.
Talvez um assassino chegue muito perto de ver, frente a frente, a morte que causou. Como pode suportar? Matar alguém é um ato que rompe a tela de proteção que separa o indivíduo de um gozo excluído da consciência, da lei dos homens, da linguagem. Matar não traumatiza somente a família da vítima. Traumatiza o assassino. Não precisamos ser piedosos para reconhecer esse fato que, por si, não perdoa ninguém. Importa entender que a repetição é a resposta do psiquismo ao trauma. O sujeito que mata uma vez é compelido a repetir seu ato na busca inconsciente de sentido não só para o horror que cometeu, mas também para a identificação indelével na qual se precipitou: a de assassino.
Todos os assassinos primários deveriam ter direito a tratamento psicológico. Independente da magnitude da pena. Imaginemos quantos meninos da Febem não estão neste momento ruminando seus atos, tentando combinar o antes e o depois, sem encontrar outra alternativa para reorganizar-se psiquicamente a não ser se convencer de que são assassinos. Elaborar o trauma não diminui o mal que foi feito, mas pode minimizar a possibilidade de que repitam o ato que também os destruiu psiquicamente, além de ter destruído a vida alheia. A alternativa solitária é parar de pensar e mergulhar de vez no mal absoluto.
Volto ao julgamento dos assassinos da criança Isabella. Penso que as pessoas não torceram apenas pela condenação dos principais suspeitos. Torceram também para que a versão que inculpou o pai e a madrasta fosse verdadeira. Alguém me disse, depois do assassinato dos queridos Glauco e Raoni, que sentiu alívio ao saber que o criminoso era conhecido das vítimas. Ora essa: por quê? Afinal, um crime cometido entre amigos - ou, pior ainda, por alguém da família - não é muito mais hediondo do que a violência praticada por um estranho? Certamente sim. Quem pode se conformar com a ideia de que um pai tenha participado do assassinato da filha pequena?
O relativo alívio que se sente ao saber que um assassinato se explica a partir do círculo de relações pessoais da vítima talvez tenha duas explicações. Primeiro, a fantasia de que em nossas famílias isso nunca há de acontecer. Em geral temos mais controle sobre nossas relações íntimas do que sobre o acaso dos maus encontros que podem nos vitimar numa cidade grande. Nada mais assustador do que a possibilidade do mau encontro: um ladrão armado, nervoso, cabeça fraca, que depois de roubar resolve atirar sem saber por que, porque sim, porque já matou outras vezes e então, por que não? Morrer na mão de um semelhante a quem não se pode dizer palavra alguma.
Segundo porque o crime familiar permite o lenitivo da construção de uma narrativa. Se toda morte violenta, ou súbita, nos deixa frente a frente com o real traumático, busca-se a possibilidade de inscrever o acontecido numa narrativa, ainda que terrível, capaz de produzir sentido para o que não tem tamanho nem nunca terá, o que não tem conserto nem nunca terá, o que não faz sentido.
Até hoje não se inventou nada melhor do que as narrativas para proporcionar algum sentido para o sem sentido do real. Não é o simbólico que faz efeito de verdade sobre o real, é o imaginário. O mar de histórias, lendas, mitos, fofocas, as mil versões que correm de boca em boca, ainda que mentirosas, ainda que totalmente inventadas, promovem um pequeno descanso na loucura que é estar nesse mundo sem bússola, sem instruções de voo, sem verdade, sem amparo.
Desde que o renascimento abalou a narrativa hegemônica que a Igreja impôs ao homem medieval, as pessoas se lamentam de que o mundo perdeu sua antiga ordem. A modernidade, primeiro, pulverizou as grandes narrativas, depois tentou consolidar utopias mortíferas da razão e agora procura recobrir a face do mundo com imagens industrializadas. Mas ainda não foi capaz de inventar narrativas à altura da complexidade das forças humanas que ela própria liberou.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
23:04
como o topete, tudo funcionou bem até determinado momento naquela noite. pessoas que sabem como se divertir por perto, música boa, bebida doce, promessas. aí, ele chegou.
eu desandei assim que o vi. não acreditava que ele tinha ido, que ele estava vindo na minha direção dar "oi". atônita, vi seu desfile de cumprimentos. quando chegou minha vez, não só me disse "oi" como disse que eu estava linda. quem merece ouvir isso do cara que há dias partiu seu coração?
durante o resto da noite, ficou tentando segurar minha mão. eu escapava. ele brincava com a minha pulseira. eu ia falar com desconhecidos. perguntava sobre a minha mãe e eu dizia "vai bem, muito obrigada" com uma educação que é típica de mim, mas não com música alta, não ali. reclamava do calor, me oferecia vodka pura. por que conversar, por que? e por que estar ali, naquele lugar? e por que oferecer carona na volta? por que, por que, por que?
e por que eu, apesar de tudo, fiquei tão estupidamente feliz sabendo que ele estava lá? feliz recebendo migalhas. por que? feliz sem entender o que aconteceu. por que? feliz com o meu topete e beijando quem não deveria, que não, não era ele.
21:57
estava em busca de um novo analista e decidi me tratar com a irmã da maria rita kehl, de quem já falei aqui (droga, não posso linkar meu blog antigo). mas digo que ela é ótima. além de ser psicanalista e de ter escrito um livro que adorei, entre tantos outros livros e ensaios e palestras, ela teve a decência de olhar para o rap dos racionais sem preconceito e analisar o movimento proposto por mano brown e demais e pela própria periferia.
pois bem. decidi me tratar com a irmã da maria rita kehl, a juliana kehl. no meu sonho, ela era uma senhora de uns 70 anos de imensos olhos azuis e cabelos loiros. na vida real, a juliana tem pouco mais de 30 anos e é cantora ligeiramente conhecida da cena indie paulistana.
no meu sonho, o consultório dela ficava em um prédio com cara de repartição pública, desses baixos, completamente antigos, dos rodapés ao elevador. quando cheguei, descobri que em frente ao elevador que eu precisava usar, ficava um necrotério. mas não era um necrotério oficial, com placa e tudo. era mais um lugar onde ficavam cadáveres, todos eles classificados como produtos de "morte violenta" ao que parecia. estavam lá para estudo, talvez.
achei de um tremendo mau gosto colocar aquele lugar tenebroso ali, naquele prédio, e deixar a porta aberta. e o pior: havia um trânsito frenético de corpos. o primeiro que vi estava coberto por um lençol. os seguintes estavam completamente à mostra.
como me perdi, precisei voltar à cena dantesca uma segunda vez. e o que vi foi o tronco de um homem que morrera afogado. estava totalmente inchado. o segundo, também um homem, tinha um imenso buraco que compreendia o espaço entre o nariz e a boca. estava afundado. parecia que não tinha sido feito por uma arma. era como se ele tivesse aspirado com muita força o próprio rosto. o terceiro corpo eu achei que era de mulher, mas não tive como me certificar. estava coberto por um plástico transparente e tudo que se via era sangue. alguém comentou algo comigo a respeito ou eu entendi alguma coisa sobre esses corpos, especialmente o ensaguentado, mas não consigo me lembrar.
assustada com essas visões, cheguei ao consultório. era como uma sala de aula do pré-primário. mesas pequenas, talvez coloridas, muita gente. foi só aí que descobri que se tratava de terapia de grupo. fiquei incomodada, porque não queria ter que falar das minhas questões para muita gente ou ter que dividir o tempo do analista, o meu tempo, com outras pessoas.
aí que a juliana kehl ficava mesmo como uma professora, passando de mesa em mesa com questões professorais. ela ouvia um pouco do que dizíamos e soltava uma pergunta meio clichê, que eu sentia que era um clichê, uma vez que ela precisava dar atenção a toda aquela gente. eram boas perguntas, mas eu precisava de mais atenção, eu não queria ouvir conselho de gente tão perdida quanto eu. acho que foi assim, com essa angústia, que o sonho acabou.
agora a parte real de tudo isso.
tenho me interessado cada vez mais pela psicanálise. antes eu apenas gostava, mas não lia a respeito. há algum tempo, um ano talvez, tenho lido não só livros que me emprestam como tenho buscado comprar. ontem, estava com um amigo na livraria e mostrei a ele um livro da maria rita kehl do qual gosto muito, o tempo e o cão. ele, que é um enamorado das cantoras da cena indie mundial, me disse que a juliana kehl, que ele andava ouvindo, é irmã da maria rita. mas claro. sobrenome mais incomum. eu deveria ter desconfiado. ficamos de talvez vê-la em seu show na próxima virada cultural.
antes de dormir, li boas páginas do livro recém-comprado, que tem um título cafona, mas tem sido ótimo até aqui. chama-se o carrasco do amor e traz a história de alguns pacientes e da interação do analista com eles. o primeiro capítulo é sobre uma paciente de 70 anos, a mesma idade da "minha" juliana kehl no sonho. no livro, o autor fala sobre a terapia de grupo, o que acho que explica o fato de ser esse o modelo de terapia do sonho. o autor diz, no livro, que essa modalidade de terapia é boa porque, no grupo, repetimos comportamentos que temos fora dele, e isso pode ser tremendamente útil no processo de identificação dos problemas e na terapia em si. me convenceu.
há também uma boa passagem sobre como tememos a morte. acho que isso tem a ver com os corpos do sonho. a violência ali talvez seja explicada pela violência da própria morte. lembro de, no sonho, ter ouvido a terapeuta falar sobre isso. que era preciso encarar a morte, mas não me lembro direito. fiquei pensando, no próprio sonho, se o fato de ela estar tão perto daquela espécie de necrotério não era uma estratégia terapêutica macabra. terapia de choque. isso se a morte fosse a questão central naqueles grupos. não sei se era. nem me lembro de qual era a minha questão.
só sei que tenho sentido muita falta das minhas sessões de análise. precisei diminuir a frequência após sair de casa e começar a pagar aluguel, de modo que há questões fervilhando dentro de mim que eu não tenho como compartilhar.
escrevi ao som de juliana kehl. gostei. mas maria rita feelings. devo ir ao show ainda assim.