terça-feira, 14 de setembro de 2010

21:45

eu falo mais do que "oi" com cinco pessoas daqui. primeiro veio a a., que é uma menina de são paulo, como eu. a a. tem 37 anos, mas a gente olha pra ela e dá uns 27. ela trabalha no tribunal de justiça, acho. se formou em tradução. é ruiva, extremamente tímida, usa aparelho e pesa a mesma coisa que eu. ela já perdeu um monte de quilos antes de vir pra cá.

a a., eu já percebi, é obstinada. cortou os doces da vida, não come nem os dietéticos que servem aqui. anda rápido e deixa todo mundo pra trás na caminhada. comprou um relógio que conta a pulsação e tá toda feliz com o brinquedinho.

ela tem alergia a um monte de coisas e na quinta-feira eu vou pra "cidade" com ela, porque ela precisa tomar vacinas toda semana.

eu não sei o que eu sinto por essa moça. às vezes, ela me irrita com o radicalismo todo. outras vezes, eu tenho vontade de cuidar dela.

depois, veio a l., que a a. me apresentou. a l. é uma senhora bonita, refinada. demanda muita atenção, porque gosta de falar pelos cotovelos. tem opinião sobre tudo. está aqui há mais de um mês e só perdeu uns 2 quilos. ela diz que o seu metabolismo é lento. eu acho que ela sofre muito, na verdade.

aí tem a menina que eu não sei o nome. ela é a mais empolgada com tratamentos estéticos, massagens orientais, com lama, banho disso, daquilo etc. ela é divertida. tem um sotaque ótimo, do interior. faz questão de mostrar pras pessoas a foto de quando ela era gorda. eu ainda não vi. e também não fiz nenhum tratamento estético. acho que dá pra pensar nisso com uns 40 anos. até lá, quero preservar meu lado trash.

a s. (nome da minha filha, se eu tiver uma) é a que tem o papo mais legal. ela deve estar perto dos 40, é dentista, mas fez direito depois e agora só trabalha com advocacia. ela poderia ser chata, uma vez que ela tem uma voz muito chata, mas ela é muito agradável. tem mil histórias familiares e a gente pensa de um jeito meio parecido sobre a criação de animais e crianças, embora eu não me sinta nem um pouco apta a criar seres humanos. ela tem um bulldog e isso conta 50 pontos a favor dela. ela também tem muitas expressões faciais, o que eu acho ótimo.

por último, o melhor. com vocês, m. m. tem 65 anos e é viúva há 13. ela joga toda a culpa dos seus 130 quilos na morte do marido. ela reclama muito da comida. a gente começou a conversar porque ela estava justamente blasfemando contra a dieta. e eu tentando consolar. aí, ela veio com o papo do "rosto lindo e corpo zoado" e eu desanimei.

mas então ela me surpreendeu. fui tomar uma ducha e ela elogiou as minhas tatuagens. achou tudo lindo e disse que vai fazer algumas em homenagem aos netos. "borboletinha pras meninas, né?", ela disse. os filhos dela criticam muito essa vontade. eu dei a maior força. depois, ela desembestou a falar, porque eu fui perguntando tudo.

me contou que tinha um namorado, também criticado pelos filhos. e agora ela deu um basta nessa relação, porque descobriu que ele é "mulherengo", mas não tenho certeza de que foi essa a palavra que ela usou.

ela viajou para os estados unidos com esse cara, bancando tudo. até roupa e declaração para o visto. ele é mais novo. tem menos de 50. eu só disse "cuidado pra ele não se aproveitar da senhora". ela respondeu "ah, ele não tinha condição de pagar e eu queria ir com ele". eu, que defendo a livre crença e a ilusão terapêutica, não disse mais nada.

fiquei morrendo de curiosidade quando ela contou desse namorado. uma coisa que eu sempre quis saber como funciona é o sexo dos velhinhos. aí, eu disse: "posso fazer uma pergunta íntima"? e ela: "claro". perguntei: "como era er... o sexo? bom?" ela abriu o maior sorriso da piscina e disse que é melhor do que antes, que ela tem o maior fogo agora, embora o marido fosse um "safado bom de cama". ela se divertia com o ex três vezes por noite (bem melhor do que a minha média, diga-se).

ela fala disso tudo com as netas, principalmente sobre usar camisinha. isso desperta a ira das mães das meninas (?!). m. me chama de "amiguinha".

3 comentários:

M. disse...

ué, as mães das meninas podem gostar de fazer tudo sem camisinha, oras. rsrsrs

tippi hedren disse...

bem colocado.

LiC disse...

Eu e meu traquejo social... Acho q entraria em um lugar desses e sairia sem falar nada com ninguém. Praticamente o mesmo de qdo resolvi viajar em excursão. Por isso, viajo solo e com mta música e alguns livros adquiridos pelo caminho pra me acompanhar.