quarta-feira, 16 de maio de 2012

A vida (quase) sem Tippi Hedren

A esta altura, com o ritmo frenético de atualizações deste blog e a enorme campanha que fizemos para conquistar leitores, imagino que só quem cadastrou nosso feed no Google Reader vai ler este texto. É para vocês cinco (ou quatro?) que resolvi escrever um esclarecimento. Como vocês devem ter reparado - o layout fofinho e a jukebox com Regina Spektor não deixam dúvidas -, este é o blog de uma garota. No meio do caminho, por motivos até agora nebulosos para mim, a garota decidiu que seria uma boa se eu escrevesse com ela. Por motivos ainda mais nebulosos, eu aceitei.

Estaria mentindo se negasse que me diverti horrores em meus dias de Gary Barlow. Este blog fez por mim o que anos de terapia não fizeram. Graças a ele (e com o apoio de Tippi Hedren), percebi que eu precisava de mais alguns anos de terapia. Passei a limpo o meu passado, um texto triste por vez. Consegui manter a calma nos dias mais desesperadores do trabalho. Virei uma pessoa melhor, tanto na vida quanto no trabalho. E conheci uma mulher incrível, que me fez perder a mão para escrever meus textos tristes e que, um ano e alguns meses depois, está encostada no travesseiro ao lado enquanto faço este post.

O texto tem cara de fim de blog. E acho que é bem por aí mesmo. Tippi Hedren has left the building.

Tippi Hedren foi nos deixando aos poucos. Não posso dizer que não fui avisado. Primeiro, ela parou de postar por aqui - logo ela, que vivia me cobrando produtividade. Depois, criou um outro blog às escondidas - e teve a pachorra de só me contar meses depois. Em seguida - abandono dos abandonos! -, saiu da revista feliz (cof, cof) em que trabalhava comigo para tocar projetos pessoais. Sites incríveis, aulas de análise, grupos de estudos. Toda essa coisa de gente interessante que decidiu não baixar a cabeça para os chefinhos e chefinhas do mundo.

Tenho visto Tippi Hedren pela vida. De vez em quando o nome dela pula na janela de um desses comunicadores instantâneos, com notícias da vida lá fora, uma ou outra fofoca e todo aquele despropósito verbal sem fim. Algumas vezes (bem menos do que deveríamos), marcamos encontros em restaurantes pela cidade. Ela com M., eu com minha garota. Os dois vão se casar. Qualquer dia eu também caso.

Tippi virou uma daquelas amigas que podem desaparecer por meses e reaparecer como se nada tivesse acontecido, como se a última conversa tivesse sido ontem e nada tivesse mudado desde então. É o meu tipo favorito de amizade. As coisas, afinal, não mudam muito de um dia para o outro. É bom saber que há alguém em quem posso confiar sempre, sem que tenhamos de ficar enchendo o saco um do outro com small talk para lembrar que estamos lá. Estamos lá e isso basta.

Por mais que Tippi Hedren continue em nossos corações, não sei se consigo continuar a escrever aqui sozinho. Intromissões à parte, este blog sempre foi dela.

Adiei este post por alguns meses porque sempre gostei da ideia de deixar este espaço aberto. De poder voltar para o lugar que me trouxe tantas coisas boas. De, quem sabe, tirar Tippi Hedren da carreira solo e trazê-la de volta para esta humilde residência. Bobagem. Tippi Hedren é um espírito livre. Hora de aprender com ela e ser um espírito livre também.

Qualquer dia crio um blog por aí. Se alguém ainda estiver lendo (pouco provável) e quiser o endereço (jura?), é só pedir que eu passo.

Peace,
Gary Barlow (16/12/2010 - 16/5/2012)

sexta-feira, 13 de maio de 2011

a parte chata

[gary barlow] a parte chata de viver um grande amor - sim, ela existe - é que, comparado a ele, todo o resto parece irremediavelmente sem graça.

é uma frase de efeito para quebrar o silêncio, mas também uma incômoda verdade.

eu tinha minhas frustrações, vocês sabem, como qualquer pessoa que chegou à idade adulta sem uma startup milionária, um verbete na wikipédia e um fã-clube de adolescentes ensandecidas gritando seu nome. mas confesso que achava minha vida bem satisfatória.

me formei na faculdade certa, depois de perder algum tempo na errada. sobrevivi a alguns fracassos amorosos. tenho uma boa relação com minha família e meia dúzia de amigos em quem posso confiar como se fossem parentes. consegui um emprego vergonhosamente divertido. convivo com pessoas que respeito e recebo respeito em troca. nas horas vagas, lia meus poucos livros, assistia a alguns filmes e procurava um amor.

o amor veio. descobri que ele poderia ser melhor do que eu imaginava. e todo o resto continuou satisfatório, mas satisfatório virou sinônimo de medíocre.

aí agora falta só encontrar um trabalho que eu ame, fazer novos amigos e renovar velhas amizades, cumprir o roteiro de todas as viagens dos meus sonhos, redescobrir o prazer de escrever, tirar do papel algumas ideias antigas, plantar uma árvore, trocar de carro, aprender a falar aqueles dois ou três idiomas, ler os livros incríveis que eu tive preguiça de começar até agora e ver todos os filmes que faltam na lista interminável que só cresce há dez anos.

acho que vai demorar muito. acho que vou me frustrar, falhar miseravelmente e até me arrepender de ter tentado.

mas, até aí, nunca achei que encontraria um grande amor.

quarta-feira, 16 de março de 2011

este texto não é triste

[gary barlow] temos um trato e eu acabo de quebrá-lo.

blogs como este existem, acredito, para abrigar desabafos sobre a vida. textos movidos a melancolia e escritos não por escolha, mas por necessidade de revisitar sentimentos difíceis. na vida offline, aprendemos cedo a ter discrição nos momentos de tristeza e a gritar nossas pequenas alegrias para todos, como se isso nos transformasse em pessoas melhores - quase normais. na vida virtual, vale o contrário: altruísmo na frustração, egoísmo na alegria. ninguém quer ler textos felizes, essas bolhas de ingenuidade que não ensinam nada. a tela existe para textos bonitos e tristes, com espaço apenas para a pequena dose de esperança necessária para encarar a vida até o próximo post. foi por isso que comecei a escrever aqui. é por isso que eu escrevo.

este texto não será um deles. depois de quase duas semanas de silêncio, sou forçado a burlar as regras e escrever um texto feliz.

tenho de escrever um texto feliz porque, neste último mês, vivi alguns dos momentos mais agradáveis da minha vida. resisti a falar disso. tentei mudar de assunto ou disfarçar minha alegria citando diálogos aleatórios e sem contexto. ficou difícil. não há como continuar a escrever textos tristes quando, diante do teclado, lembranças do último fim de semana (e do anterior, e do outro) invadem minha cabeça e minha vontade é repetir, a cada linha, a frase que joel disse a clementine. a frase que eu repetia mentalmente enquanto assistia a seriados e comia brigadeiro no sofá, abraçado à garota. ou quando acordava ao lado dela depois de combinarmos, sem sucesso, que naquela noite eu dormiria em minha casa. ou no dia em que prometemos parar de tomar coca-cola e quebramos a promessa depois de meia hora, só porque as bocas mereciam um gosto doce e quem está apaixonado tem a permissão do universo para agir como criança, ainda que por alguns instantes.

"i've never felt that before. i'm just exactly where i want to be."

confesso que me considerava incapaz de sentir algo assim. no ano passado, depois do fim de um relacionamento problemático, uma amiga me aconselhou. disse que eu deveria aprender a ser solteiro, e ser solteiro era como ser malabarista. o segredo era imitar aqueles garotos chineses do circo, que conseguem equilibrar vários pratos sem piscar, tremer ou deixar que um deles caia no chão. os garotos faziam malabarismo com pratos. eu deveria fazer malabarismo com pessoas.

quem conhece minha história sabe o quanto me custa lidar com isso. depois de traumas antigos, havia aderido à regra (muito razoável) de me interessar por uma garota de cada vez. ainda assim decidi tentar de novo, e devo dizer que aprendi. redescobri o prazer momentâneo de sair à noite sozinho e voltar acompanhado. reatei amizades antigas e mal-intencionadas. tratei de fazer amizades novas. vivi amores de verão. inventei paixões platônicas mirabolantes, por amigas e colegas de trabalho, para não perder o coração por falta de uso. administrei paixões platônicas alheias. machuquei pessoas - algumas, pouco; outras, um pouco mais. me machuquei um pouco mais que um pouco, mas menos do que eu esperava. bebi, liguei para amigos de madrugada, ouvi canções de amor e escrevi textos tristes. tudo sem perder o equilíbrio, como os garotos do circo.

mas a vida reserva surpresas para todos - até para quem tenta imitar a disciplina impassível dos malabaristas chineses. o inesperado pode dar as caras a qualquer hora. na fila de um bar, em uma cidade desconhecida, em uma janela de bate-papo ou em um blog cheio de textos tristes. você pensa que está preparado para tudo e o inesperado aparece, de saia preta e blusa azul turquesa, e antes de conseguir abrir a boca você se dá conta de que não aprendeu nada. ninguém aprende nada.

pensei que podia amar e desamar como os garotos chineses do circo. equilibrar paixões como pratos de porcelana. bastou um sorriso, uma caminhada de alguns quarteirões e algumas centenas de milhares de palavras para que eu abandonasse a tentativa e nem notasse o chão cheio de cacos. só existe vida onde há desequilíbrio. é por isso que este texto não é triste.

não vou me gabar da minha alegria. não sou equilibrista. não há sentido em criar a ilusão de controle num mundo feito de ajustes e precariedade. no futuro, posso ler este texto com saudade, raiva, melancolia - ou com a satisfação de quem comprova que estava certo. não importa. agora, para mim, este texto não é triste. e não vou fingir que isso seja pouco.

quinta-feira, 3 de março de 2011

big brother na firma

[gary barlow] out of the blue, a secretária me chama. o diretor quer falar comigo. eu estranho. pergunto duas vezes se não é engano, já que há outras duas pessoas na empresa com o meu nome. não. é comigo mesmo.

eu não consigo pensar em qualquer motivo, bom ou ruim, para ter sido chamado. em vez de me assustar, fico curioso. entro na sala dele, sento-me à sua frente e pergunto:

- aconteceu alguma coisa?

aconteceu.

aconteceu que a empresa tem uma política obscura de redes sociais, e que eu aparentemente tinha quebrado as regras. minha infração? curtir um post de uma ex-colega, que hoje trabalha na concorrência. tudo dito com a maior serenidade do mundo. "sei que você não teve nenhuma má intenção, mas tome cuidado com isso."

gelei. eu, que sempre tomei todo o cuidado para não me expor em excesso nas redes sociais, estava ouvindo um sermão sobre facebook do chefe do chefe do meu chefe. o diretor monitorava o que eu fazia na internet. e o pior de tudo: eu não sabia quais eram os critérios.

na dúvida, limpei meu perfil. primeiro, excluí todas as fotos de festas. depois, qualquer menção ao consumo de álcool - não gostamos, afinal. em seguida, pensei melhor e resolvi tirar também as fotos em que eu tinha saído mal: já que a audiência é tão ilustre, uma má impressão é um risco que não queremos correr. por fim, aproveitei para mandar para o espaço todas as fotos velhas de que eu não gostava mais. vai saber quando terei paciência para organizar meus álbuns do facebook novamente. melhor fazer tudo de uma vez.

sobraram sete fotos. duas com os colegas de empresa, porque a habilidade de trabalhar em equipe é um dos nossos pontos fortes. duas da colação de grau, para destacar a nossa formação acadêmica. e três com os amigos, porque valorizamos o networking e a construção de boas relações interpessoais.

foi assim, às vésperas do carnaval e em um dia com trabalho dobrado, que meu facebook virou linkedin. não curti.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

pillow talk #2

[gary barlow] ela: você sabe que tem o direito de fugir de mim, né?
ele: tenho?
ela: tem, ué.
ele: que direito mais inútil.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

pitty hedren

[tippi hedren] desculpem a ausência! tenho muito a dizer e pouco tempo, pra variar. fiz uma lista dos assuntos pendentes:

- mãe da thaís;
- frustrações da vida adulta;
- morar junto antes de casar;
- batavo;
- sumiço;
- desapego em relação ao jornalismo;
- completo apego em relação à psicanálise;
- cisne negro;
- identidade de tippi;
- nikolai.

vou falar do que toma menos tempo e aguça os leitores: minha identidade real, rá! soube, via caixa de comentários e e-mails trocados com gary barlow, que ele mesmo, nosso ex-take that, foi identificado. ele se descuidou, jemt. e os stalkers não perdoam descuidos. eles se alimentam deles. eu também cometi descuidos e sei que corro riscos. mas, enquanto ninguém me descobre, fico aqui, toda pimpona.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

artimanhas femininas (00:50)

[gary barlow] não que isso tenha qualquer coisa a ver com vocês ou comigo, mas o peguete de uma colega de trabalho está doente. no hospital, internado. não sei exatamente o motivo. pelo jeito casual como ela deu a notícia ontem, entre uma risada e outra, não deve ser nada grave.

não vou ficar dizendo que ela deveria se sentir mal, visitá-lo ou algo do tipo, porque eles nem são tão próximos assim e, francamente, não é da minha conta. mas fiquei levemente chocado com o que ela disse depois.

"será que ele vai sair do hospital mais magro? ele engordou um pouco desde que a gente começou a ficar. era tão mais bonitinho."

eu ri, claro, assim como todos que estavam no elevador. já vi muitas garotas reclamarem da forma física dos parceiros e arquitetarem planos para fazê-los perder peso. nada de novo. pelo visto os planos têm ficado cada vez mais ousados. as mulheres estão perdendo os escrúpulos de vez, pensei.

daí lembrei da garota deste post (não direi "peguete" porque foi vetado).

ela, que solta muxoxos quando eu falo que, para variar, seria legal se fizéssemos três refeições num dia.

ela, que sempre acaba me convencendo a tomar café na hora do almoço, almoçar na hora do jantar e jantar... as pessoas ainda jantam hoje em dia?

ela, que aparentemente desenvolveu a habilidade de se alimentar somente de bisnaguinhas, coca-cola e (claro) remédios para dor de estômago.

eu engordei seis quilos desde dezembro. quando ela me conheceu, eu já estava com meu peso atual. mas mesmo assim fiquei intrigado. seria eu vítima de um plano feminino para me emagrecer à força? caso a estratégia falhe, qual poderia ser o próximo passo?

quando o elevador chegou ao meu andar, o riso já tinha se transformado em preocupação. preciso parar de adiar minha volta à academia.