sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

11:20

[informante secreto] uma atualização: gary barlow foi visto pela última vez visitando praias exóticas do nordeste brasileiro. vestia apenas algumas camadas de protetor solar fator 60. parecia feliz. rumores ainda não confirmados indicam que ele encerrou sua peregrinação litorânea para passar o réveillon em regiões pouco nobres da zona oeste paulistana. seria uma escolha inusitada. mas os astros pop nasceram para surpreender. não é mesmo?

ainda segundo fontes que preferem manter o anonimato, há fortes indícios de que ele tenha desejado boas festas a todos, conforme prometido em sua mensagem anterior.

consultado sobre as possíveis new year's resolutions do cantor, um conhecido astrólogo paulistano afirmou que ele deverá se dedicar mais às atividades blogosféricas em 2011. a lua em câncer e a ameaça de ser chicoteado publicamente por uma certa atriz americana parecem ter influência direta sobre a decisão. o ano também promete muito romantismo para capricornianos do terceiro decanato. se você for um deles, aproveite. ou fuja.

aguardemos novos boletins sobre o paradeiro de barlow. e feliz 2011.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

18:08

[tippi hedren] eu estava lendo o blog dela e senti saudades do tempo em que eu era uma pessoa que ia a festas e bebia vodka e sonhava com os meninos mais bonitos do mundo. eventualmente, eu pegava esses meninos e a minha vida era pura emoção. será que ele está interessado? será que ele vem falar comigo? será que vamos sair? vai ser bom? vamos sair de novo? e de novo? e aí acontecia. e depois vinha um outro garoto, que era ainda mais interessante. e eu vivia tudo de novo. e tinha o menino que eu não posso linkar. antes, eu tinha raiva dele, porque ele claramente não queria me namorar. depois, eu aprendi a me divertir com ele, com a vodka, os filmes, as canções e a putaria também. eu era a dona do pedaço, embora isso não me caia muito bem.

o que eu vivo hoje é completamente diferente. eu olho para o lado e se for sexta, sábado, feriado ou férias, ele está lá, com a cabeça pousada no outro travesseiro. me apertando e dizendo, com voz de sono, "eu te amo tanto". eu não sabia que eu podia ter essa vida. eu não acreditava nela. não comigo. viver junto com outra pessoa não era um objetivo. e depois eu vi, de relance, que poderia ser bom. meses depois, eu percebi que não seria possível. não com o fotógrafo.

e agora vem a vida e me dá uma rasteira boa. perco o ar antes de cair. eu não estou conseguindo ficar longe dele. não estou querendo. nem precisando. pelo contrário. quando o fim de semana acaba, eu fecho a porta, ele liga o carro. dou boa noite para os gatos, deito na minha cama de casal e fico processando a falta que ele faz.

eu contei isso pra ela. eu estava surpresa. ela disse que é por isso que as pessoas se casam. engraçado. eu nunca tinha parado para pensar nessa razão mais óbvia. para mim, o casamento era mais uma satisfação à sociedade, um sonho em tons de branco e cheiro de flor. no meu caso, algo totalmente inviável, dada a minha inconstância.

e eu tenho medo, agora que me vejo a ponto de dividir a minha vida com alguém. porque as coisas sempre acabam. se transformam, primeiro. e eu não queria nunca que isso sequer mudasse. meu estômago se contorce quando eu penso que um de nós pode se tornar infeliz. que as piadas podem perder a graça. que ele pode ir embora. que eu posso, de novo, não saber como é o amor.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

18:32

[gary barlow] oi. talvez vocês não se lembrem, mas há alguns meses a dona disso tudo mencionou um sujeito que dedicava sua vida a um "despropósito verbal sem fim". o sujeito sou eu e o despropósito é este. a partir de agora, passo a integrar a equipe do contrastalker no emocionante desafio de propagar em letras minúsculas meus mais maiúsculos devaneios. assumo a tarefa sem saber exatamente o que ela significa. o que é um indício de que farei tudo errado e frustrarei as expectativas de todos. inclusive as minhas, como sempre.

minha apresentação também é minha despedida. ou quase. viajo amanhã e passarei uma semana a 3 mil quilômetros de são paulo, por motivos melodramáticos demais para os olhos de tippi hedren. talvez para os seus também; na dúvida, não conto. como vocês ainda não me conhecem, não sentirão minha falta. mesmo assim, prometo que volto para desejar boas festas. porque as minhas, para variar, têm tudo para ser boas.

29 de dezembro de 2007

[tippi hedren] achei o texto abaixo perdido na minha pasta de drafts. eu não publiquei por alguma razão, agora esquecida. não sei se vai dar tempo de fazer um balanço de 2010. espero que sim. enquanto isso, o de 2007. fiquei surpresa quando li. sou eu ali. igualzinha. mas tão diferente também...

2007 foi um ano de contrastes. aconteceram coisas boas e outras tantas incômodas. mas, pensando bem, todo ano tem que ter esse equilíbrio entre as coisas totalmente dispensáveis e as bacanas. não há anos só bons ou só terríveis. há os acontecimentos, esses sim agrupados em bons e terríveis.

na lista dos acontecimentos perfeitos, incluo o emprego 2. esperei bastante para fazer parte da tal grande imprensa. foi só depois de formada que fui parar nela e acho que foi muito bom não carregar mais a inocência universitária ao adentrar o mundo das hard news, embora eu me considere ainda muito bobinha sob alguns aspectos.

de toda forma, eu não quero perder, em 2008 e nos próximos anos, essa minha bobice, porque é ela que me faz ser diferente. no ano que vem, eu pretendo continuar com a minha honestidade de risco, não importa a influência do meio ambiente sobre ela.

o emprego 2 quase foi um affairzinho besta neste ano que está pra acabar. porque eu cheguei a desistir dele pra ficar só no emprego 1. eu achei que daria conta do perrengue, que era tipo uma superjornalista, mas não rolou. fiquei cansada, fiquei frustrada, fiquei puta da vida e joguei pro alto. mas aí algumas coisas mudaram e eu resolvi encarar a briga, mais uma vez. vou tentar de verdade, não só part-time, antes de dizer um adeus tímido e incerto. em 2008, pois, não tem mais emprego 1 e 2, tem "o" emprego apenas.

vou sentir falta da editora, muita falta. mas eu sei que tá na hora de encarar o novo, sem medo, com paciência. afinal, fomos sempre nós duas, a santa paciência e eu, desde o começo.

na lista dos bons acontecimentos, também incluo as pessoas queridas que fizeram parte da minha vida em 2007. teve um monte de amigo véio de guerra e também as pessoas novas que chegaram e foram puxando uma cadeira e, quando a gente viu, tava amarrado o laço.

vou deixar claro, aqui, que eu não sou muito de ligar e mandar e-mail, essas coisas feitas "pra não perder contato". as pessoas que importam, porém, estão sempre comigo de algum jeito. de qualquer forma, espero que em 2008 eu consiga ser uma amiga mais presente.

2007 passou e eu consegui resolver parte dos meus problemas financeiros, o que dá um alívio tremendo. aparentemente, eu sou uma pessoa que sabe cuidar do próprio dinheiro.

nota de rodapé: não precisa, né?

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

18:18

[tippi hedren] eu gosto do otto. eu me emocionei tanto num show... porque é grandiosa a música que ele faz. não me arrisco a dizer qual é minha preferida. mas isso tudo pra dizer que do nada ele me chamou pra conversar no facebook esses dias. nunca fomos apresentados. evidentemente, ele me confundiu com outra pessoa. a conversa não me deixa mentir. eu adorei mesmo assim. quase que tieto. quase que menciono seis minutos. achei que era melhor não dizer nada a respeito. vai que ainda dói.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

21:03

e ele quis! detalhes em breve.

20:49

só deixando claro. não é que a tippi vai parar de escrever. é só que o river vai começar. se ele quiser.

15:54

talvez o contrastalker passe a ser escrito por um garoto. eu sugiro que ele seja o river phoenix. ele acha triste, porque o river morreu jovem. eu disse a ele que os bons morrem jovens. e que o river combina com a tippi. eu disse assim: "vc pode ser o river phoenix. era pra ser. não foi. tipo a tippi". ele ainda não sabe se vai aceitar meu convite. tá com medo de não ter nada que interesse a dizer. eu sei que ele tem.

eu vivi o meu primeiro plantão no trabalho voluntário ontem. foram meses de treino e de simulações. a gente treinou tanta coisa, testou ouvir quase todo tipo de dor. da perda, de não ser querido, de ser sozinho, de ter problemas, muitos deles. e eu achei que seria tranquilo, que eu estava pronta. não foi. fiquei acabada. pensando que porra de privilégio é esse que eu tenho de ter uma vida boa, apesar das minhas dores.

eu nunca fui internada pela minha família. eu tenho amigos. eu tenho um trabalho. eu tenho desejos. por que eu tenho? por que eles não têm? nada explica isso. e que não me venham com um papo religioso. eu não caio nessa.

foi complicado ouvir uma repetição infinita dos problemas mesmo quando, juntos - a pessoa e eu -, conseguimos ver uma luz fraquinha. e aí eu dizia que precisava desligar. e sentia que não tinha de fato ajudado a pessoa. sofrido. mas vou continuar tentando. quem sabe eu percebo que o processo todo ajuda de alguma forma.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

19:00

aconteceu de eu virar blogueira profissional. foi na semana passada. perdi mais um pedaço do meu tempo. vai ficar ainda mais complicado vir aqui. então pensei em fechar o contrastalker. e viver de postar pra muita gente, fingindo que aqueles assuntos me bastam. decidi que não quero fingir. preciso disso aqui. pros meus segredos. pra elaborar as minhas questões. então eu digo que fico. aqui eu não tenho foto, não espero ser a mais lida. sou só eu. e toda a confusão.

***

então eu achei, sem querer*, o perfil dela no twitter. ela, que me falou que sabia da história e que tinha pena de mim. eu meio bêbada; ela, dona da razão. eu sem ele; ele com ela. ela tuitou que comprou panetone pra sogra. então é verdade que eles se casaram. é verdade que eu não servi. que tudo aquilo que ele disse e que doeu tanto era mesmo o que ele queria ter dito. não um jeito estranho de gostar de mim. me senti mal. fazia tempo que eu não me interessava, que eu não buscava notícias. fui clicar pra quê. cliques malditos. não por ele, por eles. por mim e por quem eu já fui. pelo caminho tortuoso que eu fiz pra pedir pra ele ficar. justo eu que não acredito nessas coisas de pedir. eu fiz o que eu mais abomino. e isso, toda vez, ele me joga na cara.

*sem querer. he-he. claro que se a gente faz, é porque a gente quer. freud etc.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

21:25

chorei sem entender por que. acho que foi de alívio. acho que não preciso mais do bisturi. acho que entendi o quanto dói em você relembrar o passado. pena que eu tenha precisado ver você chorar. pena que eu tenha recorrido ao bisturi tantas outras vezes e machucado outros corações por aí. eu não percebi que o que eu quero, a verdade, se ela existir, não merece essas cicatrizes. acho que chorei por me livrar desse padrão dolorido. me despedi mais uma vez de mim. de um jeito tão conhecido de agir. mas isso eu só percebo agora, porque ontem doía demais. e eu não podia pensar direito. mas te amo. ainda. sim. ainda. disso nunca duvidei. nem quando doeu mais. whatever words i say, i will always love you.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

18:59

(para ler ouvindo isto )

fui destruída pelo quarto do filho, um filme italiano de 99 minutos. pareceram horas. tão bonito, tão humano. que dor possível, aquela. todo mundo vai sentir um dia. todo mundo.

fiquei estática quando acabou. pelo filme, por causa daquela música que toca no final. eu mal conseguia explicar por que estava naquele estado. de pé, virando poça. eu já disse isso antes, no outro blog. eu não era mais uma pessoa. eu era um sentimento.

o que doeu é que todo mundo estava separado. até tentavam se ajudar, principalmente a filha, que conseguiu olhar mais para a dor dos pais do que para a própria. porém, eles estavam impenetráveis. cada um tentando resolver aquilo como podia, com as limitações todas.

e vem a arianna e quebra todo mundo. mais ainda. só que de um jeito libertador. ela é alguém de quem eles podem cuidar. ela é a lembrança mais viva e mais alegre do andrea.

eu adoro quando o giovanni chora no trabalho dele. eu sinto o alívio dele de longe.

já a cena do jogo do basquete, a da notícia, corta o meu coração irremediavelmente.

mas adoro quando eles cantam no carro. ali sim. todo mundo junto. ridículos. e tão felizes.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

eet

sweet.

chorei ouvindo. a resposta fácil é a tpm. a verdadeira é que eu sou mesmo assim, de chorar por tudo que me toca, de leve ou o coração todo.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

18:11

eu atraio baratas. já tive dois contatos íntimos e totalmente nojentos. uma vez, a gata velha (que tem cara de barata, por sinal) estava toda saltitante a brincar. e eu sentada no chão, entretida com alguma coisa no notebook da minha mãe. aí, a gata começou a me dar patadinhas de leve, do tipo "sai daí". e eu achei que eu tinha sentado em cima de algum brinquedo dela. e eu tinha. e esse brinquedo era gelado e se mexia. quase morri do coração quando me vi voluntariamente segurando uma barata. asco. profundo asco.

a segunda vez foi quando eu sonhei que uma barata andava em mim. no meu braço. rá, não era sonho! gritei, gritei. o namorado, inocente, achou que eu tinha tido um pesadelo. quem me dera etc. mencionei a barata. e ele: onde ela tá agora? eu: joguei aí do seu lado! é, eu sei, não foi uma atitude camarada.

aí, teve essa outra vez também.

e hoje tinha uma semi-viva no box. e os gatos ficaram disputando o prêmio nojento. e eu atrasada, precisando tomar banho. finalmente, a gata caolha levou o bicho pra fora do box e eu pude varrê-lo. tomei banho de chinelo. juro por deus, tinha sangue de barata no chão.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

19:55

na madrugada de hoje, eu sonhei que tinha feito uma megacagada numa matéria. o meu desespero: eu tinha me esforçado pra que ela ficasse boa e correta. mesmo assim, alguém recebeu alguma denúncia contra mim. alguém importante, do alto escalão da revista. parece que eu tinha usado uma informação errada ou adotado uma linha que não agradava, não me lembro direito. e havia muitos erros na matéria. erros de ortografia, de lógica. na história, também entra um jornal argentino. o clarín, talvez. chegou uma carta do clarín falando mal da minha matéria e me incriminando. acho que foi isso. só o meu chefe acreditou em mim. mesmo com vergonha do que eu tinha feito. e ele ainda me deu outra pauta. e eu pensando "que louco de confiar em mim".

19:52

cada sonho mais perturbador que o outro. na madrugada de sábado, sonhei que um mega escândalo divulgado pela mídia tirava 10% dos votos de dilma a cada hora. e apareciam os boletins. e eu ficava desesperada, sem ver chance nenhuma.

"o que mata é que não há espaço para a verdade na ditadura"

dilma, presidenta. um dos dias mais felizes da minha vida.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

19:37

hoje eu criei um blog novo, o afterpomp.wordpress.com, mas ele não existe mais. viveu poucas horas. o tempo de eu perceber que não preciso de um blog novo pra falar de vestidos, bolsinhas fofas, penteados e afins. cabe tudo aqui. sei lá porque pensei que o contrastalker não daria conta. talvez eu quisesse ter um blog lido por mais de quatro pessoas. talvez eu quisesse escrever sobre o que não dói. bom, paciência. contrastalker vai ter que aguentar fofices.

18:22

sabemos que é um tormento procurar vestido pra usar em casório. se a menina tem um corpo ótimo, fica mais fácil. mas não muito. algumas reclamam da falta de peito; outras se queixam da discrição da própria bunda. eu não. eu tenho bastante dessas coisas e meu problema é justamente fugir de um padrão valesca popozuda moda festa.

tirando, portanto, o piriguetismo (exemplos aqui e aqui) do leque de opções, sobram os modelos não muito decotados e não muito curtos, com as devidas exceções (tipo decote nas costas, que é uma coisa bonita, a depender das costas em questão).

sobraram os básicos e os chiques. os básicos são aqueles de uma cor só, longos ou curtos. o legal de um básico é poder usar sempre. e fica bonito e ryco a depender da maquiagem etc. o chique, bem... o chique é aquela coisa oscar. não trabalhamos.

até porque, além de caros, os chiques geralmente são muito brilhantes. é cafona. perdoável se - e somente se - a usuária for a mãe da noiva. moças não precisam se jogar naquele mar de canutilhos.

e há o problema do tecido brilhante, tipo cetim. se o pano não for realmente bom, vai marcar todas as dobras. a sua pochete discreta? vão nascer holofotes em volta dela.

por isso eu prefiro investir num vestido que não vai me deixar passar vergonha*. e que ninguém vai ter. nem sequer parecido. é no nível björk. brinks!

a verdade é que eu gosto de costureiras. essas senhoras que nos medem inteiras e, com base na nossa imaginação, fazem os vestidos de festa mais graciosos.

para o casamento do ano, eu vou mandar fazer um todo trabalhado no tule. uma coisa meio swing dress com bailarina. e a bolsa que eu vou comprar, prestem atenção, é a bolsa de festa mais linda que pode existir no universo. oremos para que eu tenha dinheiro pra isso tudo.

* eu já passei vergonha. muitas e muitas vezes. é por isso que eu falo do assunto com tanta propriedade.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

18:03

ok, 18 minutos pra escrever este texto. aqui não é a redação. as regras quem fixa sou eu. mas acontece que eu estou na redação neste exato momento. portanto, ela manda no meu tempo. especialmente hoje, quinta-feira. é o dia em que eu preciso deixar tudo quase pronto para o ingrato fechamento de amanhã. tá difícil. olho pra todo aquele texto que eu tenho que editar e a única coisa que me dá vontade de fazer é ir embora. a cada dia tenho mais certeza de que jornalismo não é o que eu gosto de verdade de fazer. no meu teste vocacional, deu psicologia como primeira opção. a segunda era jornalismo. de cara, a minha mãe desqualificou a psicologia. acho que por causa disso eu inverti as posições, de modo que estou neste exato momento cercada por colegas ávidos por notícias. eu não ligo pra elas. as minhas notícias são outras. mas essas ninguém quer publicar. aí, eu opto por caminhos alternativos e vou fazer resenha de cinema. poderia viver disso. também tenho escrito sobre carreira. o que pedirem eu faço, porque eu não quero ficar mais tempo na seção de cartas. porém, acho que mal disfarço a minha falta de paixão, exceto pelas resenhas. passei o dia pesquisando sobre cursos de psicanálise, já que fazer outra faculdade me obrigaria a voltar a morar com a minha mãe. devo mesmo apostar nisso no ano que vem. se eu pudesse, começava já na segunda. e de novo mudaria o rumo da minha vida. doeria abrir mão das aulas de dança e da academia. mal voltei. que agonia. sempre tão difícil escolher. e que mania de não suportar as coisas. não imagino onde isso vai me levar.

no sábado, começa o treinamento para o trabalho voluntário. vai ser um alívio. isso soa estranho, eu sei.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

21:32

várias vezes eu pensei que deveria tornar isso aqui público. então eu seria mais lida. mas mudei de ideia. eu quero continuar anônima e não precisar torcer palavras quando o assunto for complicado, como é o caso.

outra coisa que me fez pensar esses dias foi a falta de temas. não que a minha vida tenha ficado desinteressante pra mim mesma. pelo contrário. acho que ela ficou maior com a minha saída de casa e com a casa que eu tenho pra manter.

talvez haja uma crise muito bem escondida dentro de mim por causa dessas coisas ou talvez eu tenha aprendido a lidar com elas de uma maneira tranquila, com mais tolerância à minha pessoa.

vai ver é o apoio dele, o menino que está comigo de um jeito como ninguém antes esteve. ou é tudo culpa da internet que eu não tenho em casa.

só sei que não vim aqui, como faço agora. desde o blog antigo, é assim que funciona. algo dói ou alegra demais, eu venho aqui, eu escrevo, algo bom acontece dentro de mim.

e hoje? bem, hoje eu estou com medo das coisas que eu sinto, porque elas me fazem mal. começou por causa de uma crítica e terminou com uma culpa que eu senti e alimentei até doer muito.

eu queria ter acertado totalmente. queria a perfeição. não a que está boa pra mim. a perfeição medida pelo outro. o que acontece é que eu sempre faço isso. o olhar do outro é uma reprovação quase sempre. um olhar que me enxerga através de lentes de aumento. diante delas, eu fico pequena. é exaustivo, porque é sempre frustrante. eu sei que é ruim pra mim. eu não consigo parar.

minha insegurança foi escancarada, talvez seja por causa dela que eu demoro tanto para sair do lugar. se eu fosse mais durona, se eu fosse mais cara-de-pau, se eu tivesse menos preguiça, se eu fosse mais nerd, se eu fosse mais popular, se fosse um monte de coisas que eu não sou, talvez...

tão vendo?

"paternalista". foi essa a palavra que desencadeou tudo, eu acho. grandes chances também para a frase "você se diminuiu". e eu analisando tudo. e me cansando de ser tão entusiasta de freud e lacan, porque, por deus, eu não consigo parar de pensar. e de me martirizar. e de ver como eu sou torta. e que algumas coisas demoram muito pra passar.

superar. talvez eu desconheça o verbo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

20:59

eu queria ter tempo de vir aqui e dizer que a minha vida tá positivamente confusa, com tantas oportunidades mini apontando no horizonte. e que eu finalmente tô sabendo dividir os meus dias com outra pessoa sem exagerar e sem surtar muito com isso. e que, como sempre, eu tô com medo de que essa relação se torne algo insuportável em alguns meses, porque é isso que acontece comigo. é gostoso, é melhor do que qualquer coisa que houve antes, é apaixonante. e aí eu sinto que tô em movimento constante. e vem a descida. e me falta o freio. queria contar que o meu chefe me fez chorar hoje de tão fofo que ele foi. e que eu vivo pra me relacionar com gente que tem coração. e eu agora tenho um celular de gente que se conecta e tô supermega nerd. disse.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

22:08

d: vc viajou pra onde, l?
hedren, t.: mistério

d: tô muito interessado em saber.
hedren, t.: pq?

d: sei lá. acho legal sua vida.
hedren, t.: hahahahahahahaha*


*porque, né? é claro que é uma piada.

15:32

um dia que nem a mais deliciosa previsão de susan miller salvaria. tá tudo fora de lugar e eu não vejo como pode melhorar. desde ontem, quando voltei de férias, tô lerda. paralisada numa vontade de driblar as obrigações e finalmente ver sentido no que eu faço. pra ser sincera, poucas vezes eu vi. ele, de novo. aquele desejo de ser relevante, de ir atrás de uma pauta por instinto, pela emoção que ela provoca. acho que não sei fazer diferente. eu preciso de humanidade.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

19:25

eu fui pra augusta e as pessoas ainda estavam lá. foi por acaso. fiquei feliz. e extremamente desconcertada. eu poderia estar lá com elas, se as coisas ainda fossem as mesmas. de todo modo, é bom saber que as coisas são diferentes e, mesmo assim, elas continuam lá, no bar favorito. é preciso atravessar a rua mais vezes ou esperar? é preciso não fazer nada, talvez. do mesmo jeito que começou acaba. e volta a ser. e continua. até que os blogs não tenham mais nada a dizer. o meu ainda tem. preciso pegar a tv. e pagar em vodca. sempre me lembro.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

23:04

não consigo ir pro meu quarto dormir, não consigo. todos os hóspedes já foram e eu, a louca do computador, tô aqui. eu sei que eles pensam isso de mim. que eu sou louca. e agora paranóica.

nem sei o que eu tô sentindo, mas a vontade de escrever é inesgotável. esqueço às vezes que isso aqui é meu e que eu posso vir sempre e ficar à vontade. quando lembro, é essa avalanche.

falei com um amigo querido hoje. fazia um tempão que a gente não se falava. tipo... anos. casou, teve filho, separou. incrível como a vida das pessoas acaba se parecendo quando passa o tempo. já tenho pencas de amigos separados. aí, você vai ouvir os detalhes e - pânico! - os motivos também são os mesmos, na essência. dura quanto o amor? suporta o que?

dói pra cacete se separar de alguém. quando eu tava esquecendo dessa dor, revejo brilho eterno de uma mente sem lembranças e volta tudo. aí, eu leio o blog dela e tão lá as partes mais fucking hard da história emocional da humanidade. de todo modo, acho que a maior parte das pessoas pode fazer outra coisa com essas dores. é deixar virar outra coisa. e a gente sai melhor desse processo chato, longo, cruel. eu acredito piamente nisso, piamente.

por outro lado, sempre desconfio quando me dizem que o amor acabou e foi isso. eu mesma tô tentando sempre explicar pra mim porque eu parei de amar o garoto da fotografia. sempre me pego tentando dizer que "amor acaba" e aí vem ela pra me dizer o momento exato em que eu matei o amor. tem até sessão-chave. medo.

visitei meu pai nas férias. foi como se nunca tivéssemos ficado longe um do outro. primeira vez na vida que eu não choro pós-infância na frente dele. quer dizer, eu chorei, mas ele não viu. vou ganhar mais um irmão. ou irmã.

21:45

eu falo mais do que "oi" com cinco pessoas daqui. primeiro veio a a., que é uma menina de são paulo, como eu. a a. tem 37 anos, mas a gente olha pra ela e dá uns 27. ela trabalha no tribunal de justiça, acho. se formou em tradução. é ruiva, extremamente tímida, usa aparelho e pesa a mesma coisa que eu. ela já perdeu um monte de quilos antes de vir pra cá.

a a., eu já percebi, é obstinada. cortou os doces da vida, não come nem os dietéticos que servem aqui. anda rápido e deixa todo mundo pra trás na caminhada. comprou um relógio que conta a pulsação e tá toda feliz com o brinquedinho.

ela tem alergia a um monte de coisas e na quinta-feira eu vou pra "cidade" com ela, porque ela precisa tomar vacinas toda semana.

eu não sei o que eu sinto por essa moça. às vezes, ela me irrita com o radicalismo todo. outras vezes, eu tenho vontade de cuidar dela.

depois, veio a l., que a a. me apresentou. a l. é uma senhora bonita, refinada. demanda muita atenção, porque gosta de falar pelos cotovelos. tem opinião sobre tudo. está aqui há mais de um mês e só perdeu uns 2 quilos. ela diz que o seu metabolismo é lento. eu acho que ela sofre muito, na verdade.

aí tem a menina que eu não sei o nome. ela é a mais empolgada com tratamentos estéticos, massagens orientais, com lama, banho disso, daquilo etc. ela é divertida. tem um sotaque ótimo, do interior. faz questão de mostrar pras pessoas a foto de quando ela era gorda. eu ainda não vi. e também não fiz nenhum tratamento estético. acho que dá pra pensar nisso com uns 40 anos. até lá, quero preservar meu lado trash.

a s. (nome da minha filha, se eu tiver uma) é a que tem o papo mais legal. ela deve estar perto dos 40, é dentista, mas fez direito depois e agora só trabalha com advocacia. ela poderia ser chata, uma vez que ela tem uma voz muito chata, mas ela é muito agradável. tem mil histórias familiares e a gente pensa de um jeito meio parecido sobre a criação de animais e crianças, embora eu não me sinta nem um pouco apta a criar seres humanos. ela tem um bulldog e isso conta 50 pontos a favor dela. ela também tem muitas expressões faciais, o que eu acho ótimo.

por último, o melhor. com vocês, m. m. tem 65 anos e é viúva há 13. ela joga toda a culpa dos seus 130 quilos na morte do marido. ela reclama muito da comida. a gente começou a conversar porque ela estava justamente blasfemando contra a dieta. e eu tentando consolar. aí, ela veio com o papo do "rosto lindo e corpo zoado" e eu desanimei.

mas então ela me surpreendeu. fui tomar uma ducha e ela elogiou as minhas tatuagens. achou tudo lindo e disse que vai fazer algumas em homenagem aos netos. "borboletinha pras meninas, né?", ela disse. os filhos dela criticam muito essa vontade. eu dei a maior força. depois, ela desembestou a falar, porque eu fui perguntando tudo.

me contou que tinha um namorado, também criticado pelos filhos. e agora ela deu um basta nessa relação, porque descobriu que ele é "mulherengo", mas não tenho certeza de que foi essa a palavra que ela usou.

ela viajou para os estados unidos com esse cara, bancando tudo. até roupa e declaração para o visto. ele é mais novo. tem menos de 50. eu só disse "cuidado pra ele não se aproveitar da senhora". ela respondeu "ah, ele não tinha condição de pagar e eu queria ir com ele". eu, que defendo a livre crença e a ilusão terapêutica, não disse mais nada.

fiquei morrendo de curiosidade quando ela contou desse namorado. uma coisa que eu sempre quis saber como funciona é o sexo dos velhinhos. aí, eu disse: "posso fazer uma pergunta íntima"? e ela: "claro". perguntei: "como era er... o sexo? bom?" ela abriu o maior sorriso da piscina e disse que é melhor do que antes, que ela tem o maior fogo agora, embora o marido fosse um "safado bom de cama". ela se divertia com o ex três vezes por noite (bem melhor do que a minha média, diga-se).

ela fala disso tudo com as netas, principalmente sobre usar camisinha. isso desperta a ira das mães das meninas (?!). m. me chama de "amiguinha".

17:27

tô de maiô, evitando molhar a cadeira do spa. tô cheia de energia também. tentei dormir à tarde, na piscina e no quarto, porque eu adoro dormir. a surpresa gigante foi que eu não consegui, mesmo pegando no sono só às 2h de ontem. nasceu um pique em mim que... uau. agora entendo quem malha feliz. quero tanto conseguir fazer isso quando sair daqui... descobri que suco de morango com banana é o céu. também descobri que era triste acordar ao meio-dia. perdia um tempão cultivando a minha pancinha quando poderia estar matando todas as malditas células adiposas que brotaram em mim. e isso me faria uma pessoa mais feliz. feliz em uma simples calça jeans. tô achando que desta vez não vou desistir de uma vida melhor e de um reflexo animador no espelho. mas sempre tem a porra de um big mac no meio do caminho. tudo bem se eu comer sem culpa e depois correr milhas?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

20:36

um spa. eu. nós. imaginava que seria revistada na entrada e que aquele chocolatinho escondido no fundo da mala seria confiscado. também imaginava obrigações esportivas sem fim. meu estômago rugia em protesto à fome que ele sabia estar próxima.

imaginei certo, exceto pela parte do chocolatinho, que eu não trouxe. autoenganação: vamos estar evitando.

um alívio: aqui é bonito. fica no alto de uma montanha, e dá pra ver algumas cidades desse interiorzão de são paulo. quando eu quero relaxar, eu sento num banquinho e fico vendo a paisagem. depois, eu deito e fico olhando o céu. é um jeito de pensar em outra coisa além das coisas gostosas que eu não estou comendo.

depois da natação, que eu fiz porque deu vontade, sem professor, e da hidroginástica da tarde, lá fui eu pro banquinho. de roupão. é legal chocar os outros hóspedes.

eles me irritam um pouco. falam demais, palpitam demais, perguntam demais. é como se cada um precisasse falar de si e se comparar ao outro pra aliviar o peso da privação. alguns são muito reclamões também. hoje uma mulher se exaltou no almoço. ela dizia "no prato dela tem mais comida do que no meu!". eu achei bem engraçado.

outro exemplo do comportamento doentio observado: duas hóspedes decidiram passar a tarde no shopping, em vez de fazer exercícios. vida delas, né? mas criticaram, claro. e com ar de deboche, fruto do mais puro ódio. é todo mundo espelho do outro aqui. vai tentar quebrar pra você ver. te fuzilam. enche um pouco o saco.

mas dá pra entender. estamos em uma situação limite. e as pessoas ficam selvagens quando estão nos seus limites. só acho besteira fazer os exercícios de qualquer jeito, parando quando dói ou cansa. seremos gordinhos pra sempre se não aceitarmos os desafios! viram? já tô adotando um discurso motivador chato. bocejem.

é o que eu faço mentalmente quando algum professor grita palavras de estímulo e nos convoca a malditos abraços grupais.

fora essa amargura, tô mais ok do que pensava que estaria. comendo MUITO pouco (muitas vezes ao dia, pra compensar), mas descobrindo que é possível se sentir superbem depois de correr ou de nadar. e que se eu fizer isso com frequência, eu posso sempre comer coisas deliciosas e continuar tendo uma vida divertida.

comida, eu deveria saber, é só comida. mas ignoro essa informação. e comida vira alegria, afeto, companhia e outras coisas que nem sei nomear. "faz bem" pra cacete comer uma panela de brigadeiro. foda é fazer isso quase a vida inteira e descobrir que só umas três peças de roupa te servem. ou ser sempre tomada por gestante. ou ouvir a pior frase ever, que é "tem um rosto tão lindo...". porque se eu não tivesse, segundo quem diz, eu poderia comer até a morte, é isso?

pense antes de falar, mundo, pense.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

12:43

eu sei que o sonho que eu tive é importante. duro é entender por que. mas se eu conseguir lembrar direito o enredo já tá de bom tamanho.

tinha bastante sentimento nesse sonho. alguns bons, outros nem tanto. acordei atordoada como se tivesse visto um filme pesado que não entendi muito bem.

eu me sentia alegre. meu pai tinha ido me visitar. a gente estava em uma casa que não era a minha de hoje, mas a impressão que eu tenho é a de que eu já morava fora da casa da minha mãe, porque o roomie antigo estava no sonho.

aconteceu que deve ter ficado tarde e eu disse pro meu pai que ele podia dormir lá. mal contendo a ansiedade, lá fui eu tentar dormir. no meio da noite, eu acordei pra checar se ele tinha mesmo ficado na casa. e ele tinha. só que estava na cama com uma mulher que eu não conhecia. fiquei pensando "qual parte do filme eu perdi?". e também no que tinha sido feito da atual namorada dele. concluí: "lá vou eu, de novo, testemunhar uma traição".

do lado da cama dele, tinha uma outra, de solteiro. lá também dormia uma pessoa que eu não sabia quem era. e no sofá dormia o roomie. e eu entendi que ele tinha ido dormir muito puto da vida, afinal a cama dele estava ocupada por um casal. aí, fiquei muito preocupada, pensando que aquilo não era mesmo legal e que no dia seguinte iria ter bronca. e das justas.

eu me sentia triste, então. meu pai estava com uma mulher e isso me corroeu de raiva, porque nunca ficamos só nós dois fazendo alguma coisa. sempre tem uma nova esposa ou namorada, às vezes duas ao mesmo tempo. ou tem as minhas irmãs, a bateria que ele toca sem cessar, alguma coisa urgente que ele tem que resolver. no sonho foi como é na vida. e eu com aquela sensação de "como fui boba ao pensar que seria diferente desta vez".

eu me senti envergonhada quando, na cozinha, dei de cara com ele pelado. ficou claro pra mim que eles tinham feito sexo. eu me senti pequena, sem importância. ele não tinha se preocupado comigo.

eu não sou moralista. várias vezes briguei com a minha mãe porque ela não me deixava levar namorado pra dormir em casa. achava um contrasenso ela querer proibir o que, fora de casa, não teria como controlar. então a chateação do sonho é menos pelo sexo dentro de casa e mais pelo sentimento de ele não estar nem aí pro que eu sinto.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

22:10

era uma vez uma garota. e um garoto. eles eram amigos. ele nunca quis nada além de um despropósito verbal sem fim. e tão divertido! ela também não queria romance. mas ela queria que ele quisesse. carência, ego... qual é o nome disso?

o coração dela virou poça d'água. desfeita por um sentimento menor?

como num clipe da björk, onde o que é pequeno fica grande, grande. insuportável. dói. mas é encantador. e até engraçado.

p.s.: björk, pra mim, é ovo fritando e coração bagunçado. ou excessivamente feliz.

20:49

"bom dia. gostaria de sugerir uma lei instituindo a carteira nacional de habilitação para ciclistas. atualmente, os ciclistas fazem tudo o que querem nas ruas, sem obedecer a lei alguma: andam na contramão, ultrapassam o sinal vermelho e andam na calçada, sem que nenhuma penalidade lhes seja aplicada. isto não pode continuar assim. se houvesse a exigência de uma (sic) exame para adquirir uma carteira de habilitação, os ciclistas teriam de estudar as regras de trânsito referentes aos ciclistas e, pelo menos, saberiam que existem estas leis. atualmente, se você reclama com o ciclista infrator, ele ainda fica nervoso com você!".

isso é o que eu chamo de interpretação peculiar da realidade. e viva o maluf, que desde 1969 só pensa no bem-estar de quem tem carro.

17:10

estava terminando o post anterior, logo depois da parte dos pensamentos pobres, e ela ligou. sabe tudo, essa lacaniana. acolhe, fala macio, pergunta como eu tô. e eu digo. tô bem. dou uma risadinha. nego a informação e depois reafirmo. ela sabe que eu tô, mas que as questões continuam fervendo em algum lugar de mim. eu sei que é possível viver sem análise. mas também sei o quanto sinto falta daquele lugar onde cabe tudo. principalmente eu.

16:33

eu vou poder pintar algumas paredes e portas da casa nova. vou sair ao sol sem pressa de entrar em um ônibus calorento. vou decorar o lar onde eu quero receber gente e, com sorte, receber essa gente. vou estender toalha no quintal e tomar sol, como fazem os gatos - só que sem toalha, sem roupa de banho e sem protetor solar. vou ler jornal todos os dias. preciso chegar à conclusão definitiva sobre quem informa melhor: folha ou estadão (sim, eu sei. talvez seja tudo a mesma merda). vou às últimas consequências para ter internet em casa. e então vou poder linkar todo mundo/toda coisa que eu gosto. e baixar música e seriado. ahhhhh! mal posso esperar!! vou perder algumas horas colando gravuras em um painel, um projeto velho, velhíssimo. vou gastar um pouco de dinheiro com bonitezas, como fotografias e posters de bandas e novas tatuagens e novos piercings. outro pouco de dinheiro eu vou gastar com calor. almofadas e uma cabeceira coberta com um bonito tecido de vó. vou gastar tempo comigo e com os meus pensamentos, que estão pobres e tão sem vontade de aparecer aqui. vou calcular, vou sim. e aí vou diminuir o tanto de dinheiro que sai da minha conta. de cara, sei que preciso gastar menos com restaurantes incríveis e mais com o que não se digere.

p.s.: a vida tá um saco agora, com tanta coisa pra fazer e nenhuma vontade. tô vendo o fracasso em toda empreitada. mas tô botando fé que com um pouco de descanso, eu volto animada a continuar. porque nada tem sido fácil. correr atrás cansa pra caralho.

p.p.s: saudade do blog antigo. tinha tanto mais de mim lá. eu era maior, mais inteira, mais corajosa. ou é só saudosimo, mesmo.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

15:18

não é nada bom ficar encontrando as pessoas da faculdade quando você deveria ter uma vida adulta, um corpo em forma, saber se vestir, ter um carro e assuntos palpitantes, mas você não tem. e elas sim.

nesses momentos, eu vejo que me importo mais do que deveria com o que eu deveria ser ou ter e fico estabelecendo comparações terríveis pra minha autoestima.

elas, essas garotas que eu sempre encontro, trabalham em uma revista feminina da mesma editora que responde pela minha revista.

não sei se elas precisam ser ou se gostam de ser ou se apenas são, mas o fato é que elas se parecem muito com as mulheres que aparecem na revista delas. não as modelos. é como se elas fossem as leitoras que elas imaginam que existam. as chamadas mulheres-alfa, a quem a revista se dirige. mulheres que têm uma carreira, um marido, filhos e ainda são lindas, malham, prestam atenção às tendências e, por deus, têm dinheiro pra bancar essa porra toda.

elas são magras. e eu com a minha camiseta roxa, minha saiona preta. praticamente morro de vergonha dos meus braços gordinhos, da minha barriga, das minhas bochechas de quico. e ainda falo as coisas erradas!

- olha só, tá toda a faculdade praticamente na revista x.
- é, que legal.
- só falta você, tippi.
- tem vaga?
- agora não...
- olha, eu gosto muito da sua revista (de fato, eu gosto quando tô no mood mulherzinha. também tem umas reportagens boas, às vezes). mas acho que ainda preciso me testar mais na revista y, pois nem sempre escrevo e eu quero escrever mais blá blá blá (o velho papo de sempre).
- ah tá, eu só tava falando, mesmo.

tipo, não era pra eu levar a sério. não era uma proposta de trabalho, lógico. tudo culpa dessa dificuldade interpretativa que eu tenho às vezes. e aí o assunto morreu e eu fiquei só ouvindo a conversa delas, que era sobre como a tpm se tornou fútil.

e eu todo tempo pensando que queria comer mais alguma coisa, mas fiquei com vergonha de levantar na frente delas. praticamente podia ouvir seus pensamentos, todos mais ou menos assim: "- nossa, a tippi engordou, né? não sei como tem mulher que não se cuida. tanta academia por aí etc."

é, eu sofro com essas merdas.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

21:22

o 44 não existe mais pra mim. o 44, no fim, não foi auspicioso, sabe garota? foi o que tinha de ser: a primeira coisa que apareceu. não a melhor, apenas a que existia no momento. a que se encaixava na vida que eu queria levar.

me agradava particularmente o fato de ele ser no centro e de eu ter uma varanda (que eu nunca usei de verdade).

(engraçado como praticamente abandonar a terapia me deixou mais lenta. agora, penso com dificuldade sobre o que eu senti. este post tá bem difícil de sair. ou talvez eu ainda me censure muito. ou seja só mania de jornalista, mesmo. alow, tippi, isso aqui é um blog pessoal, não uma reportagem.)

ok.

no 44, eu finalmente tive liberdade. quase todos os dias cheguei de madrugada. em boa parte desses dias eu estava bêbada. coisa libertadora, porque eu nunca consegui beber muito. medo do que aconteceria se a minha mãe percebesse o meu estado. alguns podem pensar que é ridículo sair de casa só pra poder voltar tarde e bebaça. saber como eram as coisas sem uma sensação permanente de culpa era tudo o que eu precisava.

foi legal finalmente não ser questionada sobre o horário em que eu dormia e acordava. mais legal ainda foi poder fumar maconha em casa. e ter o meu próprio maço de cigarros mentolados e de cravo. maço este que ficava jogado em qualquer lugar, nunca escondido.

mas aí as conversas legais com o roomie rarearam. apareceu um vão. fiquei com preguiça dele. acho que começou quando ele defendeu a abordagem de um programa escroto pseudojornalístico e justiceiro com as minorias deste mundo, sendo que ele mesmo não gosta de travesti nem "desses baianos que a gente vê no metrô, em qualquer lugar". e foi ficando grave com a louça sempre transbordando na pia, o banheiro permanentemente nojento, a caixa onde o gato faz cocô sempre suja.

e eu não sei falar as coisas. mania de ser sempre ok que me fode. fui deixando crescer e, pra evitar o conflito, me isolava com meus salgadinhos, chocolates, livros e dvds. bem adulta. só ficava no quarto ou fora do apartamento, pra não ter que lidar com o que me causava desconforto. acho que eu deveria ter tentado falar. teria sido importante no momento de dizer tchau, inclusive. mas... #fail.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

16:23

me bateu um medo... de repente, vi que posso me tornar – facilmente – uma dessas pessoas que veem a vida passar. uma fatalista. alguém que diz: "- tinha de ser" ou "- as coisas são assim mesmo" ou ainda o temível "- eu sou assim". não quero ser assim! eu sou do grupo dos que se torturam de tanto pensar no que fizeram e por que. no que poderiam ter feito. no que farão, quando e como. um verdadeiro quebra-cabeças onde as peças são os sentimentos. me esforço para explicar todas as coisas para mim e para os outros. evidentemente, é inútil.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

19:30

hoje, ele completou 55 anos. eu tive coragem de ligar e dar os parabéns. reatar o laço é mais complicado. pelo menos, eu desengavetei a questão.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

00:11

é tarde, passa da meia-noite. estou sozinha na redação. há apenas o tec tec tec do meu teclado e o som que vem de uma das oito tvs de plasma daqui. o assunto do momento é a investigação do jogador bruno, do flamengo, suspeito de matar a ex-namorada. eu não consigo pensar nisso nem no texto que acabei de entregar. penso em tantas outras coisas... escreverei sem censura, conforme me vêm os pensamentos.

em primeiro lugar, sinto falta de ter aquelas duas por perto. nem chegamos a ser tão amigas, mas era bom poder falar sobre qualquer coisa e principalmente sobre o universo dos blogs (dos blogueiros, mais propriamente). era igualmente bom rir, assistir seriado, ir ao mcdonald's numa noite de fuga, comemorar aniversário com bolo e flute (ou flûte) do vanilla. se não fosse por aquela noite desastrosa, estaria tudo bem e eu ainda seria uma pessoa compreensível para elas.

aquela noite também mudou a percepção que tenho dele, mas não sei se gostei disso. nem sei se estou certa. eu apenas senti que ele não me protegeu. pelo contrário, me expôs ao risco. eu fui, feito onda. estava submersa nos desejos que não eram propriamente meus. mas eu sou grande o bastante para escolher, não sou?

eu gosto dele, desse garoto. gosto mesmo. no sentido mais amplo, que abarca mais do que noite de sexo, romance e expectativa. como não gostar pra sempre de alguém que ensinou a gente a ouvir música? de quem está por aí, por perto, ainda que os anos passem? de um cara que está lutando pra sair de sua concha? tem tanta coisa lá dentro que não ouso mais classificar. só sendo muito simplista. ou muito ingênua.

e agora há uma nova pessoa na minha vida. já existia, mas ganhou novo status. é bom, é seguro, é gostoso. mas não paro de me perguntar "até onde dou conta?". isso me angustia logo na partida. de cara. não sei até onde vou, o que quero e o que fazer. mas vamos, então, juntos descobrir.

espero que ninguém descubra que demoro tanto pra escrever um texto e depois ainda posto no meu blog confessional.

tô sentindo um monte de coisas, um monte. ainda termino este post.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

17:18

inspirada pelo texto dele*, escrevo minha versão das copas.

86 - méxico
seleção campeã: argentina

eu tinha acabado de completar dois anos de vida. não entendia bulhufas de futebol, de copa do mundo ou de qualquer outra coisa, mas ganhei uma camiseta do brasil e posei para uma foto no quintal. eu tinha um casal de maritacas que nos venderam como papagaios. eram o romeu e a julieta. não lembro qual deles morreu primeiro, mas, pasmem, o outro morreu pouco depois.

90 - itália
seleção campeã: alemanha ocidental

eu estava no pré. continuava não ligando pra copa. tô procurando qualquer memória na cachola, mas só consigo me lembrar do jogral ensaiado à exaustão, da festa de formatura, finalmente, e da lambada que dancei na festinha. eu estava banguela, meu cabelo estava todo cacheado e eu tinha ganhado uma pulseira da minha mãe. minha melhor amiga era a bia. quase 15 anos depois, ela deu em cima do meu namorado da época. bitch.

94 - estados unidos
seleção campeã: brasil

agora sim eu sabia o que era uma copa, mas descobri que meu avô não. até hoje, ele só assiste porque considera uma espécie de dever cívico, mas não entende nada do que está vendo. faz questão de perguntar sempre de que lado o brasil deve fazer gol. comemora o sucesso da seleção, naturalmente. acha que futebol é uma grande palhaçada. e que os salários são injustos. quanto a mim, fiquei maravilhada com bebeto e romário. nana, neném! eu tinha um hamster, o pig. ele morreu antes da final, após agonizar durante todo o campeonato. enterramos no jardim.

98 - frança
seleção campeã: frança

todo o frescor da oitava série e o inexplicável fiasco brasileiro. sem mais.

2002 - coreia e japão
seleção campeã: brasil

estava muito feliz por ver o felipão comandar a seleção. se tinha alguém que eu amava mais do que o marcos, no palmeiras, esse alguém era felipão. impagável vê-lo comemorar o penta como comemorou a conquista da libertadores da américa. descobri que o bial se tornava poeta quando o brasil ganhava e isso me chateou. assisti aos jogos no apartamento recém-comprado pela minha mãe. foi sua primeira aventura fora da casa dos pais, excetuando-se o casamento frustrado que durou menos de um ano. era o nosso espaço e éramos felizes.

2006 - alemanha
seleção campeã: itália

foi a copa dos adultos, como ele escreveu. eu já trabalhava duro, tinha um chefe escroto e queria morrer de raiva por ele abominar sites não relacionados ao trabalho, fones de ouvido, alegria etc. estava prestes a me formar, correndo com o tcc, mini-torcendo, portanto. neste ano, consegui meu primeiro trabalho como repórter.

2010 - áfrica do sul
seleção campeã: ?

sem dúvida, a copa acompanhada com mais ardor. vi quase todos os jogos, cornetei e amei dunga. minha felicidade é grande ao vê-lo peitar a vênus platinada, mas shhhh. kaká finalmente se revelou mais humano e menos cordeiro de deus. porra! e o felipão tá voltando pro palmeiras.

* não posso linkar. ele chora.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

00:04

vocês não têm vontade de cantar MUITO alto músicas que fazem corar? eu tenho. no momento, estou ouvindo sucessos do bon jovi. this ain't a love song quase me faz levantar da cadeira puída da lan house e agitar as mãos sobre a cabeça num ritmo lento, mas emocionante. ou acender um isqueiro e apertar os olhos como se estivesse diante de um palco imaginário. e, ao meu lado, tem um cara fazendo uma supercoreografia com a cabeça. acho que é rap o que ele está ouvindo. será que ele me apoiaria? comigo!

i cried and i cried
there were nights that i died for you beibeeeeeeeee
i tried and i tried to deny
that your love drove me creizeee, beibeeee

if the love that i got for you is gone
if the river i cried ain't that long
then i'm wrong
yeah i'm wrong
this ain't a love song


p.s.: mal aí. precisava desabafar.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

23:23

não queria voltar cedo para casa, apesar do vento frio. decidi comer alguma coisa. ou melhor: comer lendo, que é uma coisa que minha mãe condena e que eu gosto muitíssimo de fazer. eu julgo que é estranha a pessoa que vai sozinha a um lugar que serve comida e, ainda por cima, come lendo. mesmo assim, eu tenho esse comportamento... estranho.

detalhe importante: não serve ler coisa que exige concentração. é como se a brochura fosse uma TV aberta. e, como tal, a qualidade tem de ser duvidosa. você simplesmente não deve precisar pensar. é a brecha perfeita para mergulhar nas previsíveis tramas dos livros de mulherzinha como comer, rezar, amar ou em seu lugar, porcarias que eu absolutamente adoro. pausa para suspiro de alívio pós confissão vexaminosa. (tô ouvindo, neste exato momento, never say goodbye, do bon jovi, aproveitando a deixa.)

eu tinha onde comer, mas me faltava o livro ruim. fui à banca de jornais. na primeira, nenhum título "interessante". eis que na vitrine da segunda dou de cara com como me livrar de matthew. perfeito, pensei. é romance de mulherzinha, aparentemente um bouquet de clichês recheados de paixão e frustração e custa R$ 12,90.

aí, pedi o título ao senhor japonês dono da banca. ele, ocupado, pediu ao moço que com ele trabalha. repeti o nome do título. e ele perguntou - se livrar do quê?. e eu - do matthew. espirituoso, ele continuou: - manda e-mail. e eu só ria, claro. aí, um cara xis que também estava na banca opinou: - não atende as ligações dele. já com o livro em mãos, ele diz: - nossa, comprido. deve ser chato mesmo esse matthew. eu: - é...

paguei e fui embora, rindo. como não amar, ainda que brevemente, essas pessoas que fazem dos meus previsíveis dias esquetes de stand-up comedy?

21:33

vim aqui e li alguns posts. quase me esqueço desse espaço que tanto me serviu. no começo, para mandar recado, depois para tentar fazer arte, por último para desabafar. eventualmente, fazia as vezes de ferramenta de divulgação de filmes e músicas. mas o que combinava mais mesmo com tudo isso (ou aquilo tudo) era a minha angústia, a minha paixão, o meu desacerto, a minha felicidade. ainda volto aqui. tem tanta coisa de que preciso falar... me dá alívio saber que pelo menos isso aqui não vai me cobrar a presença. permanece. e não ameaça, não morde, não fica triste.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

15:35

agora eu tô assim. adicionando como amigo no facebook tudo quanto é artista mezzo desconhecido que eu gosto. tem leo cavalcanti, tulipa ruiz, tita lima e karina buhr. fazer o quê se eu amo a sensação de que estou perto deles? difícil é controlar a vontade de tietar no bate-papo. com certeza, eles devem suspirar resignadamente cada vez que um fã tenta se fazer de amigo. ou eles ficam animados. de todo modo, que assunto que a gente puxa? só rola puxar o saco mesmo. e isso eu me recuso a fazer, porque é o que todo mundo faz. mas bem que eu queria ter coragem de ficar no senso comum e babar dúzias de ovos. pior que não ter o que falar é ver leo no meio da rua durante o show da tulipa na virada cultural. tão perto, tão longe. #suspiros. fiquei tentando fazer contato visual, mentalizei dicumforça um "olha pra mim, olha pra mim". e nada. também eu queria o quê? paquerar o cara? que puta coisa de groupie.

13:33

malditas as pessoas que conseguiam ficar batendo papo enquanto aquela mulher incrível cantava. ou melhor, cochichava. tudo nela era sussuro. até o jeito de olhar pra gente. e de pedir para que mudassem o volume do microfone. era um movimento suave do indicador. nenhuma palavra.

nunca pensei que veria chan marshall mandando beijo, fazendo coraçãozinho com as mãos e enxugando uma lágrima imaginária. eu ouvi sobre seu lado mais frágil, desencontrado e introspectivo, justamente o que ela mostra no palco.

e agora, para nosso espanto, ela parecia feliz. tenho medo de quem, subitamente, aparenta felicidade. é como a melhora repentina antes da morte ou a estranha alegria do suicida.

eu queria ouvir todas as canções que me marcaram e fizeram sentido. mas ela não veio aqui para mexer nas nossas lembranças, cutucar a nossa dor. veio para esquecer as suas lembranças, espantar a própria tristeza.

tudo bem, lute contra os fantasmas.

sorte que metal heart ficou, apesar da faxina. uma superação? um tributo? uma pista? jamais saberemos. ela, mesmo quando fala, não diz.

foi até o camarim e voltou com uma cesta de frutas e flores. nem roberto carlos se entrega tanto assim. pena que não fiquei nem com as pétalas. na falta de xícara, tenho a toalha que estava jogada no palco. nem usada foi.

ei, você. sim, você. muito obrigada. melhor presente de aniversário em anos.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

19:54

desenhei, na cabeça, três caminhos profissionais para mim. o primeiro é continuar na revista e seguir lutando bravamente para ser uma repórter de verdade, o que consiste basicamente em entregar textos com regularidade, coisa que eu não faço.

no entanto, isso só é viável se a "promoção" "prometida" vier. decidi que não posso mais ganhar tão mal. sobretudo porque eu me esforço. num mundo onde existe justiça, cósmica que seja, isso deveria contar. mas esse mundo existe? claro que não. as coisas podem simplesmente dar errado. ou dar certo de um jeito torto.

se a promoção não vier, eu vou tirar férias, coisa que jamais aconteceu em toda a minha vida profissional. e lá se vão sete anos de labuta. na volta, devo bater em outras portas. de jornais, talvez. este é o segundo caminho.

a terceira possibilidade, por incrível que pareça aos que já ouviram todo o meu repertório sobre a paixão pelo jornalismo, é o que mais me agrada. consiste em voltar para a faculdade.

para isso, eu precisaria trabalhar em alguma agência de comunicação que pague bem. aí, cursaria psicologia. me tornaria uma acadêmica. depois, com algum dinheiro guardado, montaria um consultório, ao mesmo tempo em que frequentaria aulas da escola de psicanálise. ouviria os outros e ajudaria essas pessoas a escrever suas próprias histórias, a enxergar esses enredos tão inacessíveis por vezes.

no meio do caminho, achei que a construção de histórias era jornalismo. literário, para ser mais exata. demorei para notar que dificilmente é. se você não for um gay talese da vida você vai ficar na superfície. e eu quero mergulhar, como sempre.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

17:18

e o triste é que a gente perde tudo junto ao se perder. e em nome de quê. tem nome isso, pra começar?

quinta-feira, 20 de maio de 2010

21:06

o nobre tratamento da presidência da república a um (não tão) reles jornalista. grande história. aqui.

16:18

Fagulha

Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.

Eu queria entrar,
coração ante coração,
inteiriça
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando

Eu queria até mesmo
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.

Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.

Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.

Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio

Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las

Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.

ana cristina césar

sexta-feira, 14 de maio de 2010

17:39

e então me ligaram e eu finalmente vou ser voluntária do cvv. quer dizer, vou fazer o curso preparatório, que dura dez semanas, e aí, se eles acharem que eu tenho o perfil, vou começar a trabalhar.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

19:43

hoje, eu tive que falar com um monte de gente na redação. tive que andar pelo vasto salão de piso amarelo em busca dessas pessoas. e tive também que entrar na salinha de vidro da instância máxima de poder. senti que as pessoas estavam olhando de um jeito estranho pra mim. compreensível, uma vez que tenho feito combinações toscas de roupa. não que eu goste, mas tem sido uma constante usar as piores peças quando todas as outras estão sujas e espalhadas pelo chão do quarto. organização e apresentação visual não são exatamente os meus fortes. aí, depois que a avalanche do fechamento passou, fui ao banheiro lavar as mãos. e, no espelho, a trágica surpresa. minha saia tinha subido dois palmos, o que eu não percebi porque estou de meia-calça e não senti um vento, um desconforto, nada assim que pudesse me alertar. pensem na seguinte imagem: uma garota com uma saia ofensivamente curta para os padrões do ambiente profissional. e nem é sexy, uma vez que ela não tem pernas incríveis. bom, essa sou eu. pagando todos os meus pecados em questão de minutos. tive que ligar pra minha mãe e desabafar toda a minha vergonha. ela riu, claro. eu também quis rir. mas, nervosamente, me controlei. porque, né? despertar a compaixão alheia não é das coisas mais legais do mundo. e eu só pensava em quanto tempo iria demorar pra esquecerem aquela cena. ou eu seria lembrada pra sempre por isso? ai, melhor num pensar. pelo menos, não aconteceu comigo o que aconteceu a uma amiga da minha mãe. essa aí saiu do banheiro sem a parte de trás da saia, que ficou presa na meia-calça. e ela estava em uma festa. e demorou muito pra alguém avisar.

shit my kids ruined

um blog dedicado apenas às cagadas infantis.

como esta:

14:59

o 44 está em festa! ontem, chegaram presentes e a era da informação vai passar a existir no quarto número dois daquele lar. finalmente, peguei o desktop que me emprestaram. de brinde, veio um notebook. é lento, como todos os anciãos, mas funciona. e é tão bonitinho! dá pra ouvir música, dá pra entrar na internet, dá pra escrever no word e bater papo no messenger com relativa rapidez. eu tô feliz. adeus lan house, adeus distrações no horário de trabalho. um salve pros amigos que doam coisas.

o roomie e eu estamos ficando íntimos. ele me conta coisas da vida dele enquanto toma conhaque, eu conto coisas da minha enquanto tento refrear os ímpetos diabólicos do gato. fomos, mais uma vez, dormir às 3 da manhã. trocamos receitas de torrada - porque pão é o que mais tem naquela casa - e fizemos planos de hospedagem de camaradas durante a virada cultural. parece que a sala vai ficar pequena.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

personal jesus (ou um texto que é sobre você)

é difícil escrever sobre o que a gente não entende. vai ver é por isso que demorei. não que agora eu entenda. mas, no ônibus, eu tive um insight e achei que deveria aproveitar. escrevi rascunhos. o último deles estava até que ficando bom. aí reli, antes de postar, e percebi que era mentira. o insight é justamente esse: o post tinha um pouco do que eu sinto, mas não tinha o principal, que é essa minha hesitação, o meu não saber. não tenho resposta. aí, decidi escrever sem buscar uma resposta, embora minha vontade seja explicar tudo pra você. e pra mim. um pouco eu consegui, mas não o suficiente. se bem que acho que o suficiente vai ser quando ninguém mais se sentir mal. e tenho que confessar: também escrevo para me ajudar, porque não aguento mais sentir tanta coisa, não saber por que. e existe o medo. será que o "café", a buatchy e o msn serão os mesmos? será que ainda vai ter isso? se depender da sua educação, creio que sim. mas e aí dentro, como fica? como está? acabei de pensar no que parece impossível. te vi como você é. ignorei a sua árvore genealógica. acho que a bebida entra aí. de repente, todos os empecilhos vão embora e a gente se liberta. aquela voz que dentro da gente, no começo, grita vai ficando cada vez mais fraca. até que fica inaudível. e a gente cede. antes de ceder, houve a escolha. porque um carro e não o outro? pensei, não tentei me enganar e não vou mentir. fui no carro com você porque me senti mais protegida. eu achava que assim poderia evitar mais um fracasso cardíaco. mal eu sabia que ia doer ainda mais em mim e em mais gente. perdemos o controle. e essa dor não passa nunca. não quero que passe com o tempo. porque o tempo, por mais triste que seja, cura tudo. é um alívio. mas também não sobra nada além de lembrança. ele vai curar seu amor e vai curar suas perdas. eu queria ter o poder de curar, e poder ser curada. não queria deixar nas mãos do tempo. vai ficar tudo esmaecido e eu vou ser a lembrança ruim. virar história é não poder mexer em mais nada. é museu. "não toque, por favor." e eu quero tocar, ir até onde for preciso pra que tudo fique bem. então, eu digo enquanto é tempo que aquela noite começou antes, uma semana antes, e não num carro. não ter ido em frente era o melhor a se fazer. mas fui, fomos. e que entenda quem for capaz. certo ou errado não explicam muita coisa.

acho que consegui. pelo menos ecoou e, portanto, é de verdade. mensuro assim.

personal jesus é uma música do johnny cash. não tenho religião, acho que você sabe. mas, diante de tudo isso, bem que precisei de um personal jesus. pra ouvir minhas preces, pra se importar com o que eu senti. porque, nessa vida, tem coisa que é stronger than him.

20:17

quando comecei a ler o texto da marcia tiburi, achei que se tratasse de mais um levante contra a cultura de massa, assunto da maioria das aulas da faculdade de jornalismo, além da semiótica e dos causos dos professores que confundiam a disciplina que lecionavam com realizações próprias.

ainda assim, decidi ler até o final. no quinto parágrafo, comecei a sentir o êxtase. nunca tinha pensado, por exemplo, que a performance de lady gaga traria, na apresentação estética, elementos do pós-feminismo.

ela explica bem melhor do que eu poderia:

O tema da mulher morta torna-se quase um lugar-comum na arte contemporânea, como foi no século 19. Naquele tempo, ele representava o impulso próprio do romantismo que via na mulher falecida e inválida um ideal agora retomado de modo irônico por diversas artistas contemporâneas. Lady Gaga vai, no entanto, muito além dessas artistas em termos de coragem feminista. Enquanto elas zombam das mulheres estereotipadas que morrem como Ofélias por um homem, Lady Gaga, de modo mais surpreendente e corajoso do que importantes artistas cultas, dá um passo adiante.

No vídeo de “Paparazzi” fica exposto o amor-ódio que um homem nutre por uma mulher, a invalidez à qual ela é temporariamente condenada por sua violência e, por fim, uma vingança inesperada com o assassinato desse mesmo homem. “Incitação à violência”, pensarão as mentes mais simples; “feminismo como ódio aos homens”, dirá a irreflexão sexista acomodada, quando na verdade se trata de uma irônica inversão no cerne mesmo do jogo simbólico que separa mulheres e homens. Se em “Paparazzi” o deboche beira o perverso autorizado psicanaliticamente (a mulher sai da posição deprimida ou melancólica e aprende a gozar com seu algoz, que ela transforma em vítima), em “Bad Romance”, “o vídeo mais visto de todos os tempos”, mulheres de branco – como noivas dançantes – surgem de dentro de esquifes futuristas para curar uma louca que chora querendo ter um “mau romance” com um homem.

depois, ela fala sobre a estética de telephone, ressaltando o desprezo pelo amor dos homens e a subversão da imagem da mulher-mãe, que se dedica a alimentar seu homem.

não sei se lady gaga ou alguém de sua equipe pensou nesses conceitos para elaborar os vídeos. e ninguém vai se importar com essas coisas também, a não ser os doutores. e eu, pelo visto.

na íntegra.

terça-feira, 11 de maio de 2010

21:34

eu, para o chefe:

fulano,

a exemplo da coisa x, acha que seria viável fazer y? acho que seria um exercício interessante para mim, mas não sei se você teria confiança ou se estou indo com muita sede ao pote.

obs.: vou carregar perpetuamente o erro histórico de ter feito z, né? ok, é justo. mas tenho minhas dúvidas. pode ser que o tenham cometido antes e deixado passar batido. é um consolo.

ele, para mim:

sim, esta semana estou cuidando de n. é uma boa semana para vc se virar sozinha.

sobre o erro, precisa pagar um pedágio, né? vc ainda vai ter que ouvir um tempinho.

é possível que tenham cometido esse erro no passado, embora eu ache que não. já vi outros, o pior deles foi no w...

21:21

nove graus em são paulo. enquanto todas as meninas desfilam, lindas, em suas meias-calças, a loser aqui passa frio porque não lavou as suas. aliás, falta de roupa é uma constante na minha vida. sem máquina de lavar, tô fazendo a amélia no braço. e de dia, o que é pior, uma vez que a lâmpada da lavanderia queimou. isso é sair de casa pela primeira vez.

16:23

estou me preparando para escrever um post difícil. não consegui entender muito bem a história e os meus sentimentos. engraçado que ontem, na ânsia de compartilhar com alguém, pensei em chamar meu amigo mais velho pra conversar. perto dos 50, livre do veneno que é a classificação, ele talvez conseguisse me ouvir.

por enquanto, as palavras de um nostálgico. também na casa dos 50, também um pária.

"Quando eu não passava de um jovem repórter, já lá vão três décadas, lembro-me de que recorríamos aos jornalistas mais velhos para obter alguma informação útil ou para resolver dúvidas. Eles eram figuras importantes no ambiente de trabalho. A gente os considerava cidadãos veneráveis e dignos de atenção. Desafortunadamente, agora que seria a minha hora de figurar como referência e exemplo para os outros, só me sobrou ouvir as maldisfarçadas gargalhadas de desprezo daqueles que recorrem às bases de dados e aos mecanismos de busca da internet para consultar e pedir conselhos. Lembro de ter escrito uma crônica sobre isso, e talvez alguém a encontre na blogosfera. Eu afirmei, se não me falha a memória, que os venerandos sábios anciãos foram substituídos pelo Google search. E eu era Google e não sabia! Um Google search meio gauche, mas ainda assim repleto de memórias, verdadeiras, verazes e até inventadas. Ou melhor, em um passado não tão distante, eu poderia ter sido respeitado como um sábio, mas não houve tempo. E poderia ter criado fatos e dados e ninguém me questionaria. Vários conhecidos meus fizeram carreira assim, na mistificação mais desavergonhada. Eles podiam inventar lembranças. Agora a gente erra uma vírgula e lá vem o sabichão acenando sua busca infalível... Mas esta é outra crônica e um outro tempo, mais adiantado do que o da crônica em questão."

na íntegra.

domingo, 9 de maio de 2010

22:41

da fonte do passado nada espero
e tudo quero
sou quem toca
sou quem dança
quem na orquestra desafina

sexta-feira, 7 de maio de 2010

16:08

levaram meus fones de ouvido. e foi em plena redação. agora, não posso mais passar tardes e noites ouvindo minhas canções, as que tanto me divertem, emocionam e ajudam na concentração. não sei como tem gente que acha ok ir pegando algo que não lhe pertence. não mesmo. foi assim também com meu guarda-chuva novinho que esqueci no restaurante da editora.

olha, se são os moleques do centro*, eu entendo. agora, gente que é colega e inclusive ganha mais do que eu**... ah, por favor.

(fora que eu tô pobre demais. demais.)

* ontem, o cobrador e o motorista do ônibus deram carona a uns sete meninos de rua. achei tão legal. eles estavam cantando funk, o que eu também achei legal. ao contrário de quem coloca o celular pra tocar funk no último volume, que desperta apenas o meu ódio. um deles falou umas baixarias e pediu desculpas pra mim logo depois. o maior contou que ia no baile da rose bombom (que eu achei tinha falecido nos anos 80) e que não podia levar os menores, que seriam barrados na entrada. "lá só tem gostosa", afirmou.

** meu contrato é uma bizarrice aqui, pois é de cinco horas enquanto o de todos os demais é de sete. por isso, acho que ganho menos do que o povo. mas não menos que os estagiários e auxiliares, acho.


quinta-feira, 6 de maio de 2010

21:04

Preguiça ou fobia?

A fobia social é bem mais do que uma simples falta de vontade de estar com os outros ou timidez. Trata-se de um medo exagerado de sentir vergonha ou sofrer humilhação quando a pessoa acha que será avaliada pelo grupo. Por isso, ela foge de situações como falar em público, comer na frente de outras pessoas e até assinar cheques diante de estranhos. Segundo o psicólogo Ari Rehfeld, da PUC de São Paulo, muitos fóbicos não conseguem olhar e nem mesmo falar com outras pessoas e acabam evitando sair. Qualquer desconforto desse tipo é capaz de desencadear sintomas de ansiedade exacerbada, como taquicardia, tremores, sudorese e boca seca, o que acaba prejudicando atividades sociais e trabalho. O tratamento é feito com remédios e psicoterapia. (Folha de S.Paulo)

em verdade vos digo que, até a idade dos 16 anos, eu era popular. ao lado de mais três ou quatro amigos, era uma das alunas mais antigas da escola. entrei naquela instituição de ensino no berçário e fui até o segundo colegial. não concluí o ensino médio lá apenas porque meu colégio querido foi à falência.

acho que sempre fui emo. no dia em que anunciaram o encerramento das atividades da escola, lembro de ter chorado rios, abraçado professores, diretores, funcionários e amigos. se não me engano, até escrevi uma carta ou fiz um discurso. sim, eu era meio bocó. ou não. é que hoje acho ridículo expressar o pesar na frente de muita gente, ainda mais quando isso pode ser interpretado como puxa-saquismo. mas, no passado, eu me expressava em público, para as massas.

sofri aquela falência. era o fim de uma era. uma era sobretudo confortável. sempre transitei por lá como se fosse a dona do pedaço. todos me conheciam, me achavam engraçada e simpática. eu era meio líder da turma, conselheira, bom e mau exemplo ao mesmo tempo. nunca precisei me esconder dentro do uniforme, mesmo sendo um desastre no que diz respeito aos jogos esportivos. eu era a garota que sempre sabia o que fazer, o que falar.

então meu sonho acabou e precisei me matricular num outro colégio. alguns dos meus amigos foram para um de elite, maior, e eu os segui. aquilo ali me ensinou a ser quieta. primeiro porque a maioria dos alunos era rica e eu não era. hoje, acho calça jeans e camiseta a coisa mais digna do mundo para se vestir. na época, eu sentia que era a pessoa mais desprezível do mundo por usar essa combinação de peças enquanto as demais garotas usavam saias das mais bonitas, blusas das mais charmosas. e elas faziam tratamentos estéticos jamais sonhados por mim. e elas tinham carro e outras quinquilharias materiais que eu secretamente invejava.

essas coisas parecem bobas se olhadas hoje. sobretudo porque eu não dou a mínima para o luxo. mas vai pensar assim tendo 17 anos num colégio de patys e boys. é criar uma tribo ou se sentir deslocado. eu acabei ficando na minha. outra coisa que me incomodava é que eu não sabia mais puxar assunto. descobri que era tímida, que morria de vergonha de falar a coisa errada e ser zoada para todo o sempre. sobrevivi a esse ano de 2001 com poucos e bons amigos, o que se repetiu no ano seguinte, no cursinho, nos quatro anos após o cursinho e não parou até hoje. nem nunca vai parar, eu acho.

que bom que o colégio faliu, se a gente for ver. conheci um outro mundo, uma outra parte de mim. no entanto, ainda é meio estranho sentir vontade de não interagir, de ficar contemplando meus pensamentos, de ler durante o almoço. não é que eu não goste de pessoas. eu gosto muito de algumas e algumas também gostam muito de mim. é só que às vezes eu não sei o que fazer com elas. aí, entro no meu retiro emocional. a sorte é que sempre vem um pra me salvar.

p.s.: enquanto concluía este texto, veio uma garota fofa aqui da redação conversar. foi uma conversa ótima, até profunda. realmente gosto dela e sempre vou gostar quando as pessoas me lembrarem que existe vida além do quarto. ou dos livros. ou do cinema. ou da redação. ou seja, além de todos os lugares onde costumo me esconder.

14:13

tenho medo de escrever as minhas coisas aqui e depois ser classificada como louca-depressiva-que-provoca-arrepios. minha analista me disse mais de uma vez que estou longe de ser louca. nunca tive diagnóstico de depressão também. ainda assim, eu temo a exposição e a maledicência, porque este é um mundo hostil aos sentimentos mais duros. todo mundo vai querer me classificar, alguns podem até trocar de calçada. espero, de coração, que quem me lê entenda essas coisas.

sempre penso que poderia manter um diário, e poupar as pessoas de ler certas coisas. confesso, porém, que tenho necessidade de falar, de transformar os sentimentos em algo legível e não apenas para mim. é muito ego, é muita pretensão artística, é muito new generation? o que é, por favor? alguém me diz?

de todo modo, a ideia de criar um blog novo, que eu sei que a minha mãe não vai ler, trazia, na essência, um desejo de liberdade, de escrever com menos amarras, de não dar importância ao julgamento alheio e à preocupação que eu posso vir a despertar. porém, estou mais longe disso do que pensava. me censuro demais.

hoje, acordei em cima da hora, como acontece todos os dias. antes, eu dizia para mim mesma que isso acontecia porque gosto muito de dormir. não posso negar a verdade, entretanto. e a verdade é que eu durmo para parar um pouco de pensar. não aguento mais pensar nas coisas que eu gostaria de fazer, que eu gostaria que acontecessem, nas que eu preciso resolver, nas que estou sentindo. há toneladas em cima de mim, a vida não está fácil. eu achei que ela só melhoraria depois de um limite que precisei cruzar. não é de todo verdade, nem de todo mentira. é só que os problemas de antes ficaram mais agudos, mais na cara. outros deixaram de existir.

e daí que eu estou no lugar onde sempre quis estar? não consegui, até o momento, ser o que eu quero ser.

não vou fazer sessão de desculpas aqui, prometo. você me lê, você pode pensar o que melhor lhe aprouver. eu sou mais do que está aqui. e menos também. aqui tem só parte de mim. a parte mais esquisita, inacabada e em dúvida de todas.

terça-feira, 4 de maio de 2010

20:17

tenho picos. de euforia, de coração apertado. e mesmo vivendo as agruras de um término mal explicado, consigo me divertir. bastante até. cheguei em casa ontem e o roomie tava ouvindo canções da fase blues de cazuza. como fiquei feliz com isso. uma das melhores noites no 44, sem dúvida. lendo revista, ouvindo a elaboração poética daquele perturbado-mor, sentindo a vida, apesar de você.

texto de 23/04, das 13h51

18:21

já que falei tanto dela, acho justo postar um texto seu. um que tenha me tocado. li hoje o artigo que segue, após uma reunião com três advogadas. elas criaram uma ong que busca garantir o direito de defesa dos acusados de cometer crimes, especialmente os mais pobres. gostei imensamente de ter encontrado gente que, como eu, enxerga o indivíduo, a complexidade emocional do indivíduo, e não o "bandido".

com vocês, maria rita kehl.

A morte do sentido
03 de abril de 2010 | 0h 00

Maria Rita Kehl - O Estado de S.Paulo

O que tanta gente foi ver do lado de fora do tribunal onde foi julgado o casal Nardoni? Torcer pela justiça, sim: as evidências permitiam uma forte convicção sobre os culpados, muito antes do encerramento das investigações. Mas para torcer pela justiça não era necessário acampar na porta do tribunal, de onde ninguém podia pressionar os jurados. Bastava fazer abaixo-assinados via internet pela condenação do pai e da madrasta da Isabella. O que foram fazer lá, ao vivo? "Ver" a morte? "Lá onde moro não tem esse negócio de morte violenta. Lá só tem árvores e passarinhos", disse à TV um rapaz que viajou de Ibiúna para dormir ao relento na frente do fórum de Santana. Ele foi ver a morte.

Mas a morte não se vê de fora do tribunal. Nem pelo lado de dentro. Nem de lugar nenhum. A morte mesmo, mesmo, é aquilo que não se vê. Vê-se o corpo sem vida. Vêm-se marcas de violência, decrepitude, doença. A morte está fora de nossa capacidade, tanto de representação em imagem quanto de simbolização. Por isso (assim como o gozo sexual) ela dá tanto o que falar.

Talvez um assassino chegue muito perto de ver, frente a frente, a morte que causou. Como pode suportar? Matar alguém é um ato que rompe a tela de proteção que separa o indivíduo de um gozo excluído da consciência, da lei dos homens, da linguagem. Matar não traumatiza somente a família da vítima. Traumatiza o assassino. Não precisamos ser piedosos para reconhecer esse fato que, por si, não perdoa ninguém. Importa entender que a repetição é a resposta do psiquismo ao trauma. O sujeito que mata uma vez é compelido a repetir seu ato na busca inconsciente de sentido não só para o horror que cometeu, mas também para a identificação indelével na qual se precipitou: a de assassino.

Todos os assassinos primários deveriam ter direito a tratamento psicológico. Independente da magnitude da pena. Imaginemos quantos meninos da Febem não estão neste momento ruminando seus atos, tentando combinar o antes e o depois, sem encontrar outra alternativa para reorganizar-se psiquicamente a não ser se convencer de que são assassinos. Elaborar o trauma não diminui o mal que foi feito, mas pode minimizar a possibilidade de que repitam o ato que também os destruiu psiquicamente, além de ter destruído a vida alheia. A alternativa solitária é parar de pensar e mergulhar de vez no mal absoluto.

Volto ao julgamento dos assassinos da criança Isabella. Penso que as pessoas não torceram apenas pela condenação dos principais suspeitos. Torceram também para que a versão que inculpou o pai e a madrasta fosse verdadeira. Alguém me disse, depois do assassinato dos queridos Glauco e Raoni, que sentiu alívio ao saber que o criminoso era conhecido das vítimas. Ora essa: por quê? Afinal, um crime cometido entre amigos - ou, pior ainda, por alguém da família - não é muito mais hediondo do que a violência praticada por um estranho? Certamente sim. Quem pode se conformar com a ideia de que um pai tenha participado do assassinato da filha pequena?

O relativo alívio que se sente ao saber que um assassinato se explica a partir do círculo de relações pessoais da vítima talvez tenha duas explicações. Primeiro, a fantasia de que em nossas famílias isso nunca há de acontecer. Em geral temos mais controle sobre nossas relações íntimas do que sobre o acaso dos maus encontros que podem nos vitimar numa cidade grande. Nada mais assustador do que a possibilidade do mau encontro: um ladrão armado, nervoso, cabeça fraca, que depois de roubar resolve atirar sem saber por que, porque sim, porque já matou outras vezes e então, por que não? Morrer na mão de um semelhante a quem não se pode dizer palavra alguma.

Segundo porque o crime familiar permite o lenitivo da construção de uma narrativa. Se toda morte violenta, ou súbita, nos deixa frente a frente com o real traumático, busca-se a possibilidade de inscrever o acontecido numa narrativa, ainda que terrível, capaz de produzir sentido para o que não tem tamanho nem nunca terá, o que não tem conserto nem nunca terá, o que não faz sentido.

Até hoje não se inventou nada melhor do que as narrativas para proporcionar algum sentido para o sem sentido do real. Não é o simbólico que faz efeito de verdade sobre o real, é o imaginário. O mar de histórias, lendas, mitos, fofocas, as mil versões que correm de boca em boca, ainda que mentirosas, ainda que totalmente inventadas, promovem um pequeno descanso na loucura que é estar nesse mundo sem bússola, sem instruções de voo, sem verdade, sem amparo.

Desde que o renascimento abalou a narrativa hegemônica que a Igreja impôs ao homem medieval, as pessoas se lamentam de que o mundo perdeu sua antiga ordem. A modernidade, primeiro, pulverizou as grandes narrativas, depois tentou consolidar utopias mortíferas da razão e agora procura recobrir a face do mundo com imagens industrializadas. Mas ainda não foi capaz de inventar narrativas à altura da complexidade das forças humanas que ela própria liberou.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

23:04

comprei spray e fiz topete. achava que ia desistir na última hora, como sempre desisto quando se trata de uma coisa nova. não por falta de coragem, acho, mas porque sempre se pode adiar. queria que tivesse ficado maior, na verdade, mas funcionou. gostei do resultado e devo fazer mais vezes, mesmo quando ser pin-up sair de moda, uma vez que eu sempre quis ser pin-up.

como o topete, tudo funcionou bem até determinado momento naquela noite. pessoas que sabem como se divertir por perto, música boa, bebida doce, promessas. aí, ele chegou.

eu desandei assim que o vi. não acreditava que ele tinha ido, que ele estava vindo na minha direção dar "oi". atônita, vi seu desfile de cumprimentos. quando chegou minha vez, não só me disse "oi" como disse que eu estava linda. quem merece ouvir isso do cara que há dias partiu seu coração?

durante o resto da noite, ficou tentando segurar minha mão. eu escapava. ele brincava com a minha pulseira. eu ia falar com desconhecidos. perguntava sobre a minha mãe e eu dizia "vai bem, muito obrigada" com uma educação que é típica de mim, mas não com música alta, não ali. reclamava do calor, me oferecia vodka pura. por que conversar, por que? e por que estar ali, naquele lugar? e por que oferecer carona na volta? por que, por que, por que?

e por que eu, apesar de tudo, fiquei tão estupidamente feliz sabendo que ele estava lá? feliz recebendo migalhas. por que? feliz sem entender o que aconteceu. por que? feliz com o meu topete e beijando quem não deveria, que não, não era ele.

21:57

acho que foi o sonho mais esquisito da minha história recente. acordei achando que era real, de tão plausível. mas é sempre assim com certos sonhos, não? agora, examinando à luz da razão, vejo que era meio descabido.

estava em busca de um novo analista e decidi me tratar com a irmã da maria rita kehl, de quem já falei aqui (droga, não posso linkar meu blog antigo). mas digo que ela é ótima. além de ser psicanalista e de ter escrito um livro que adorei, entre tantos outros livros e ensaios e palestras, ela teve a decência de olhar para o rap dos racionais sem preconceito e analisar o movimento proposto por mano brown e demais e pela própria periferia.

pois bem. decidi me tratar com a irmã da maria rita kehl, a juliana kehl. no meu sonho, ela era uma senhora de uns 70 anos de imensos olhos azuis e cabelos loiros. na vida real, a juliana tem pouco mais de 30 anos e é cantora ligeiramente conhecida da cena indie paulistana.

no meu sonho, o consultório dela ficava em um prédio com cara de repartição pública, desses baixos, completamente antigos, dos rodapés ao elevador. quando cheguei, descobri que em frente ao elevador que eu precisava usar, ficava um necrotério. mas não era um necrotério oficial, com placa e tudo. era mais um lugar onde ficavam cadáveres, todos eles classificados como produtos de "morte violenta" ao que parecia. estavam lá para estudo, talvez.

achei de um tremendo mau gosto colocar aquele lugar tenebroso ali, naquele prédio, e deixar a porta aberta. e o pior: havia um trânsito frenético de corpos. o primeiro que vi estava coberto por um lençol. os seguintes estavam completamente à mostra.

como me perdi, precisei voltar à cena dantesca uma segunda vez. e o que vi foi o tronco de um homem que morrera afogado. estava totalmente inchado. o segundo, também um homem, tinha um imenso buraco que compreendia o espaço entre o nariz e a boca. estava afundado. parecia que não tinha sido feito por uma arma. era como se ele tivesse aspirado com muita força o próprio rosto. o terceiro corpo eu achei que era de mulher, mas não tive como me certificar. estava coberto por um plástico transparente e tudo que se via era sangue. alguém comentou algo comigo a respeito ou eu entendi alguma coisa sobre esses corpos, especialmente o ensaguentado, mas não consigo me lembrar.

assustada com essas visões, cheguei ao consultório. era como uma sala de aula do pré-primário. mesas pequenas, talvez coloridas, muita gente. foi só aí que descobri que se tratava de terapia de grupo. fiquei incomodada, porque não queria ter que falar das minhas questões para muita gente ou ter que dividir o tempo do analista, o meu tempo, com outras pessoas.

aí que a juliana kehl ficava mesmo como uma professora, passando de mesa em mesa com questões professorais. ela ouvia um pouco do que dizíamos e soltava uma pergunta meio clichê, que eu sentia que era um clichê, uma vez que ela precisava dar atenção a toda aquela gente. eram boas perguntas, mas eu precisava de mais atenção, eu não queria ouvir conselho de gente tão perdida quanto eu. acho que foi assim, com essa angústia, que o sonho acabou.

agora a parte real de tudo isso.

tenho me interessado cada vez mais pela psicanálise. antes eu apenas gostava, mas não lia a respeito. há algum tempo, um ano talvez, tenho lido não só livros que me emprestam como tenho buscado comprar. ontem, estava com um amigo na livraria e mostrei a ele um livro da maria rita kehl do qual gosto muito, o tempo e o cão. ele, que é um enamorado das cantoras da cena indie mundial, me disse que a juliana kehl, que ele andava ouvindo, é irmã da maria rita. mas claro. sobrenome mais incomum. eu deveria ter desconfiado. ficamos de talvez vê-la em seu show na próxima virada cultural.

antes de dormir, li boas páginas do livro recém-comprado, que tem um título cafona, mas tem sido ótimo até aqui. chama-se o carrasco do amor e traz a história de alguns pacientes e da interação do analista com eles. o primeiro capítulo é sobre uma paciente de 70 anos, a mesma idade da "minha" juliana kehl no sonho. no livro, o autor fala sobre a terapia de grupo, o que acho que explica o fato de ser esse o modelo de terapia do sonho. o autor diz, no livro, que essa modalidade de terapia é boa porque, no grupo, repetimos comportamentos que temos fora dele, e isso pode ser tremendamente útil no processo de identificação dos problemas e na terapia em si. me convenceu.

há também uma boa passagem sobre como tememos a morte. acho que isso tem a ver com os corpos do sonho. a violência ali talvez seja explicada pela violência da própria morte. lembro de, no sonho, ter ouvido a terapeuta falar sobre isso. que era preciso encarar a morte, mas não me lembro direito. fiquei pensando, no próprio sonho, se o fato de ela estar tão perto daquela espécie de necrotério não era uma estratégia terapêutica macabra. terapia de choque. isso se a morte fosse a questão central naqueles grupos. não sei se era. nem me lembro de qual era a minha questão.

só sei que tenho sentido muita falta das minhas sessões de análise. precisei diminuir a frequência após sair de casa e começar a pagar aluguel, de modo que há questões fervilhando dentro de mim que eu não tenho como compartilhar.

escrevi ao som de juliana kehl. gostei. mas maria rita feelings. devo ir ao show ainda assim.