domingo, 30 de janeiro de 2011

17:10

[gary barlow] - alô?
- garota ruiva?
- sim, sou eu. quem é?
- oi, é o gary barlow...
- (risos)
- você provavelmente não lembra de mim. sou o cara que você conheceu na balada y, na semana passada. ou um dos caras que você conheceu na balada y, na semana passada. não sei quão boa foi a sua noite... (acho que é a primeira vez que uso "quão" com uma garota. checarei.)
- eu lembro de você, sim.
- olha só! (assim minha autoestimazinha não aguenta...)
- (risos)
- então. estou ligando para saber se você estava a fim de sair, fazer alguma coisa. ou não, também. (é bom sempre deixar aberta uma rota de fuga, né?)
- não, não, eu acho uma boa ideia.
- oba. (transparência, brasil.)
- é que este fim de semana está um pouco cheio...
- ah, é? (insira flashbacks sombrios de telefonemas anteriores aqui.)
- sim... mas o que você vai fazer amanhã [sábado] à noite? (sábado à noite? muito cheio o seu fim de semana, hein, dear?)
- a princípio nada. (transparência, brasil².)
- ah, quer marcar alguma coisa?
- por mim, pode ser. barzinho, balada, jantar? o que você prefere? do que você gosta? (isso sim é um homem decidido, gente.)
- faz assim: vai pensando em um lugar que você goste, aí amanhã eu te ligo para a gente combinar.
- ok, fechado. beijo! (droga, vou ter de escolher.)
- beijo!

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

18:10

[tippi hedren]

cara conspiração do universo,

ou deveria chamá-la de acaso? não diga que você é o destino, por favor. é que eu tenho um problema com cartas marcadas. eu gosto de pensar que eu tenho responsabilidade sobre todas as coisas que me dizem respeito. as passadas, as presentes e as futuras.

sim, pode me chamar de controladora. em minha defesa, digo que é mais uma coisa com lacan, mesmo. não vou tentar explicar essa coisa, porque o meu conhecimento é parco. ainda. se você deixar - e esse pedido é a razão da minha carta -, eu gostaria muito (muito mesmo) de conseguir aquele emprego novo. aquele que vai pagar melhor e vai me dar condições de pagar o aluguel, pagar pela diversão e pelo conhecimento.

eu desejo do fundo do meu coração largar o jornalismo. meu ego vai sofrer, ainda mais agora que eu escrevo no blog mais lido da editora x. eu não me importo. não mais. eu quero seguir a minha vocação. e tudo o que precisa acontecer é a mulher y me ligar e me chamar para uma conversa. do resto eu dou conta. espero.

saudações,
tippi hedren

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

18:00

16:40

[gary barlow] dúvida prática:

por um lado, sou "um homem que liga", como diz uma colega ilustre. estou precisando conhecer pessoas novas. e é quase sempre melhor estar acompanhado do que sozinho.

por outro lado, talvez ela tenha dado o número mais por educação do que por interesse. talvez eu tenha pedido mais por educação do que por interesse. e talvez seja tarde. timing nunca foi meu forte.

ligo ou não ligo?

pode ser o caso de abrir uma votação. alguém quer ajudar a sabotar minha vida? às vezes cansa fazer isso sozinho.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

21:20

[gary barlow] era tarde demais para aproveitar aquela noite. mas havia a noite seguinte.

lembro que há alguns dias eu disse que sair e beijar desconhecidas era, no máximo, uma fonte de prazer momentâneo. ainda concordo. mas, em algumas circunstâncias, todos nós precisamos de uma dose de prazer momentâneo. mesmo os mais sonhadores. and by that i mean myself.

devo dizer que há meses não aproveitava tanto uma noite. quando a música, o ambiente e as companhias conspiram para o seu bem-estar, não se divertir é uma ofensa ao universo. e, se ainda assim eu estivesse relutante, a bebida existe para isso. para garantir que o universo não será ofendido.

dois dias depois, ainda sinto os efeitos colaterais da noite. um dia inteiro movido a água, café e tylenol. mas valeu a pena. mesmo que só para me sentir vivo. mesmo que só para poder contar histórias - algumas delas constrangedoras. mesmo que só para saber que sou capaz de flertar sem o peso das minhas expectativas. mesmo que só pelo prazer momentâneo que eu havia mencionado.

depois, como acontece com os prazeres momentâneos, percebi que daquela noite me sobrou pouco.

uma dor de cabeça insistente. um número de telefone para o qual eu dificilmente vou ligar. e a certeza de que posso me divertir muito. desde que deixe de ser quem eu sou.

sábado, 22 de janeiro de 2011

8:20

[gary barlow] você tenta de novo. sustenta o olhar por muitos segundos além do aceitável em busca de um contato. ela sorri, mas para o celular. e olha para ele como nunca olhou para você.

você disfarça encarando as paredes, como se algo ali te interessasse. toma a terceira dose do pior uísque da casa, mas não tem coragem de dizer nada. tarde demais para aproveitar a noite. cedo o bastante para rir de si.

e é nessa hora que você desiste. e não sabe até quando. mas sabe por quê.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

19 de outubro de 2006

O banho ajudou pouco, desta vez...

Ouço Elvis Costello. "North", um álbum feito inteiramente (ou quase) de melodias tristes. "This album is about melody, harmony, mood and emotion -- mostly emotion", disse o autor. Lembra-me o maravilhoso "In the Wee Small Hours", do Sinatra, que muitos consideram o primeiro álbum "conceitual" da história (e que o fulano precisa me devolver -- está há meses com ele!), bem antes daquelas pretensões progressivas que você tão bem conhece. (Não significam que sejam ruins, só por serem obras pretensiosas. E, de qualquer maneira, são milhões de vezes melhores do que as porcarias indies que você anda a "descobrir" atualmente, hehehe.)

Falando em "hehehe", você nota que mesmo durante nossas discussões há momentos de desconstração. É bom manter o humor, já dizia aquele professor. Ele reclama da falta disso na política, tanto na esquerda quanto na direita. E mostra um vídeo do subcomandante Marcos dando tiradas ótimas (há alguns vídeos dele no YouTube, mas não conferi se há humor neles).

Aliás, a declaração do voto em Lula feita pelo Ziraldo é um bom exemplo de humor na política: http://www.pt.org.br/site/noticias/noticias_int.asp?cod=45724

Tá vendo? É foda. Já tô desviando do assunto principal do e-mail.

(um parágrafo sobre o assunto principal do e-mail)

Porra, quando foi a última vez que falamos de futebol? Ah... Que tristeza.

nota de rodapé: e-mail escrito por um amigo que virou namorado e cujo coração eu destruí. não me orgulho. nem um pouco.

21:00

vivienne westwood, a senhora mais cool do planeta. não, rita lee, não é você.





15:51

[gary barlow] ela me manda um e-mail. quer discutir um assunto do trabalho.
ela me chama para tomar um café. descemos.
ela pede ajuda para desenvolver uma ideia.
ela divide encanações da vida. profissional. depois, pessoal.
ela dá risada. primeiro de mim. depois dela. depois da vida.
ela fala do ex.
ela fala de amores passados e futuros.
ela me chama para ir com os amigos ao bar.
ela se apressa.
ela agradece.

***

e eu? ora, eu continuo sendo um idiota.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

17:12

[tippi hedren] é aceitável sofrer por meses por causa de um texto? e adiar a entrega do texto até o limite do prazo?

não me sinto capaz de escrever de maneira decente, tampouco confio na minha apuração, mesmo tendo ouvido seis fontes.

acho que vou perder o prazo. também acho uma chatice o tema da minha reportagem, embora todo o processo de apuração tenha sido interessante.

queria escrever um e-mail choroso para o meu editor confessando a minha incapacidade. eu jogaria tudo para o alto e me sentiria livre. no segundo seguinte, louca. fora que ficaria difícil arranjar emprego depois.

por que eu ainda acho que posso ser feliz aqui?

maldita confiança no futuro.

sábado, 15 de janeiro de 2011

7:10

[gary barlow] há alguns dias eu disse que não corria o risco de ser feliz. era verdade. mas bastam alguns minutos de jogo do contente para perceber que há, afinal, um lado bom nisso. quem não corre o risco de ser feliz não se decepciona. nunca. e com ninguém.

mas chega de drama por enquanto. para não aborrecer o leitor, vou direto à parte boa. é curta. depois disso, cada um decide se quer ou não acompanhar o resto de meus lamentos. já aviso logo: passei a noite em claro e estou levemente alcoolizado. nesse estado, posso fazer pouco além de me envergonhar publicamente. e há vexames que não podem ser mitigados nem mesmo pelo anonimato.

a parte boa é que dancei a noite inteira.

pronto. se você quiser ler o restante, é porque o meu chororô te interessa. não entendo, mas respeito. peço apenas que releve o pedantismo e o tom de desabafo.

como disse, quem não corre o risco de ser feliz nunca se decepciona. atravessei a noite de sexta sem uma hora de sono. agora, não tenho qualquer motivo para dormir bem. embora a tentação de transmitir a culpa exista, não há álcool que me faça esquecer que ela só cabe a mim.

por melhor que seja a companhia, não há a menor chance de sucesso em um flerte se falta a coragem para arriscar. não há risco de final feliz sem risco de rejeição. e, ao que parece, também não há álcool que me faça esquecer esse último. ou esquecer que sou um tremendo medroso. e que, por mais que eu possa ter algumas qualidades, nunca vou deixar de invejar quem não tem esse defeito. como invejei hoje.

talvez o medo não seja o bastante para explicar tudo. como uma amiga gosta de me relembrar, há também uma dose generosa de exagero. assumo. sou assim com assuntos sentimentais. de propósito. pior ainda: não posso fazer nada.

atribuir aos sentimentos de outra pessoa um valor desproporcionalmente grande é uma decisão completamente racional. mas é também irreversível. poucos vícios são tão poderosos quanto o de criar histórias de amor a partir do nada.

para quem sai à noite em busca de diversão, um beijo de um desconhecido pode trazer um prazer momentâneo. talvez um pouco mais - mas não muito, e certamente não muitas vezes. para quem sai à noite para tentar concretizar uma história de amor, um simples beijo pode ser uma experiência inesquecível. lembro-me de todos. uma vez que se experimenta o milagre de tornar realidade um beijo antecipado tantas vezes na imaginação, não há mais sentido em dar espaço para beijos que ainda não foram imaginados. melhor apostar alto, mesmo se for para perder.

quando se exagera, porém, o medo de rejeição torna-se tão grande que se perde tudo antes de começar. como hoje. como era esperado.

por isso, nesta manhã de sábado, há várias palavras para descrever o meu estado. mas decepção não é uma delas. resignação me parece mais adequada. engraçado. será que mesmo depois de uma noite de festa, com algumas garrafas de cerveja na cabeça, a formação judaico-cristã ainda conseguiria me agarrar pelos calcanhares?

por um momento acredito que sim. mas então lembro que há uma palavra melhor. no carro, enquanto levava ela e seus amigos de volta para casa, só conseguia pensar no refrão da última música que ouvi naquela noite. nunca a tinha ouvido em uma pista de dança. deve ser coincidência, claro.




see you later, queridos. bom fim de semana para vocês.


sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

18:01

[tippi hedren] onde está a minha habilidade de enxergar além daquilo que é fácil ver? antes, eu abria a tampa das caixas, queria saber tudo o que elas continham, me surpreendia com cada grão de poeira ali. endureci. ganhei as rugas dos que apenas vivem a vida, não a fragilidade dos que são arrebatados por ela. eu tenho resistido. medo de ser tragada por esses sentimentos desconhecidos que me tomam em horas impróprias e me jogam pelos ares delicadamente, dramaticamente. decidi ser maquinal, precisa, ainda que, do lado de dentro, exista uma espuma, uma névoa. queria passar os dias escrevendo sobre esses meus sonhos de leite. mas.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

23:10

[tippi hedren] eu não sei se acredito em casamentos. porém, se eu me casar um dia, o vestido vai ser este:



só que não um vera wang, necessariamente. porque, né? eu não decolei em hollywood.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

20:31

[gary barlow] "mercúrio provoca instabilidade em comunicações e mercados. você, virginiano, faz parte da tribo que sente mais os aspectos de mercúrio, pois ele de muitas formas comanda seus caminhos. e hoje ele está descompassado, desatento, inclinado a acidentes."

diante disso, meus caros, a solução é ir embora. rápido. e tomar cuidado com a chuva. porque, de resto, não há nada que possa piorar.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

20:38

[gary barlow] greetings. passada a euforia de minha aventura litorânea, constato que continuo sendo uma das pessoas mais complicadas que eu conheço. top five, at least. e 2011, que tinha tudo para ser um ano calmo, começa com uma confusão amorosa.

outro dia me disseram que eu crio obstáculos para a minha felicidade. tenho de concordar. queria manter um recesso de relacionamentos, conforme planejado. em vez disso, acabei indo longe demais. mais precisamente, a alguns milhares de quilômetros de distância da charmosíssima capital paulista.

dizem que os amores de verão não sobem a serra. o meu foi até o aeroporto. por enquanto, só uma vez. fora isso, vivo a rotina patética de quem tenta usar recursos virtuais para prolongar um romance real. bobagem. em vez de encurtar as distâncias, a tecnologia só serve para te lembrar constantemente de quem não está lá. a vida, ao que parece, não é como aquelas propagandas de internet banda larga. para o meu azar. e, ao que tudo indica, nada deve mudar tão cedo. combinamos de ser só amigos, mas os dois sabem que o acordo é de mentirinha. a garota de muito longe parece não se incomodar. tenho de fingir que não me incomodo. ou pelo menos tento. não sou bom nisso.

sou bom é em complicar minha vida. ainda mais. a formação judaico-cristã diz que, em minha situação, eu deveria me comportar como um bom moço e esperar pela garota o tempo que fosse necessário. o pouco que aprendi com a vida me diz para fazer o contrário: esquecer a garota e tentar ser feliz por aqui. desnecessário dizer que não fiz nenhuma das duas coisas. continuo pensando na garota de muito longe. e olhando para as garotas de muito perto. para uma, em especial. paixão platônica antiga.

o problema - e sempre há um problema - é que a garota de muito perto está perto demais. nem dez metros. trabalhamos no mesmo lugar. fora isso, não temos nada em comum. poderia ser um empecilho, mas na prática é um atrativo. o que me sobra de autossabotagem me falta de autoestima. talvez por isso goste tanto de pessoas diferentes de mim. o que não gosto é de todo o resto. da possibilidade concreta de rejeição. das consequências disso no ambiente de trabalho. do meu sorriso de nervoso toda vez que tento falar com ela. e das cenas constrangedoras que repriso na minha cabeça toda vez que consigo.

não sou bom nisso.

hoje criei coragem e convidei a garota de perto para tomar uma cerveja. hoje a garota de longe disse que sente saudades. eu também sinto. não importa o que aconteça nesta semana, no mundo virtual ou no real, dentro ou fora do trabalho. não corro o risco de ser feliz.

20:27

[tippi hedren] tô melhor. entreguei a arte da minha matéria em tempo recorde. fiz tão rápido que ela deve estar errada. mas, se estiver aceitável, minha crença em mim mesma vai aumentar consideralvemente. por outro lado, vou morrer de raiva de mim por ter adiado por semanas essa droga dessa arte que foi tão ridícula de fazer, afinal.

ufa.

tô até mais animada para o meu plantão de hoje no cvv. porque eu sei que eu vou sofrer. toda segunda eu sofro. é dolorido ouvir sobre a dor das pessoas. os seus desacertos. eu também sei que eu vou ficar irritada. todo santo plantão, a mesma pessoa me liga. com o mesmo problema. e ela liga há anos. que triste essa imobilidade dela. meu coração se quebra. ela não consegue ter nenhum momento de felicidade.

e...

será que é esse o meu medo? de ficar presa como essa pessoa está presa? vai ver é por isso que ela me irrita tanto. projeção etc.

sendo otimista, meu dia foi de progressos. um arte entregue, duas bananas, uma barra de cereal, mais água do que o habitual, uma consulta médica marcada, pensando modos de usar o dinheiro com inteligência.

ainda falta eu ser mais sociável. nunca recusei tantos convites para almoçar ou tomar café. o problema não são as pessoas. o problema é que eu gosto de ficar no meu mundo, fazendo as minhas coisas. e aí, quando eu vejo, é hora de tocar a vida. e me falta tempo. então eu adio a interação, que é uma coisa fácil de fazer. espero que elas, as pessoas, me esperem. tô tentando ser melhor.

18:47

[tippi hedren] e sabe o que mais? eu sou uma fraude. eu prometo coisas pra mim. coisas que eu sei que eu não vou conseguir cumprir. a minha vida não é organizada. não é bonita de se mostrar. porque eu tenho que acordar cedo e fazer algum tipo de exercício e eu não faço. eu tenho um texto pra entregar. eu me perco, eu desconfio, eu escrevo mal, eu tenho preguiça e medo do resultado. não entrego. durante semanas, eu ignoro o texto. e quando faltam poucos dias para o prazo terminar, eu viro um turbilhão de culpa e sofro até perder a última célula do meu fígado. eu me destruo. me pego sonhando com trabalhos burocráticos. para acordar em seguida e recitar para mim mesma que eu preciso ser uma pessoa que pensa. estou presa nas minhas armadilhas. eu tenho listas. eu sei o que precisa ser feito. eventualmente, eu consigo. hoje, por exemplo, me forcei a comer direito e a marcar uma consulta médica. eu consegui. e que sacrifício por tão pouco. gostaria muito de saber como é levar uma vida regrada, com as coisas funcionando. o meu relógio... ele não respeita nada.