quarta-feira, 12 de maio de 2010

20:17

quando comecei a ler o texto da marcia tiburi, achei que se tratasse de mais um levante contra a cultura de massa, assunto da maioria das aulas da faculdade de jornalismo, além da semiótica e dos causos dos professores que confundiam a disciplina que lecionavam com realizações próprias.

ainda assim, decidi ler até o final. no quinto parágrafo, comecei a sentir o êxtase. nunca tinha pensado, por exemplo, que a performance de lady gaga traria, na apresentação estética, elementos do pós-feminismo.

ela explica bem melhor do que eu poderia:

O tema da mulher morta torna-se quase um lugar-comum na arte contemporânea, como foi no século 19. Naquele tempo, ele representava o impulso próprio do romantismo que via na mulher falecida e inválida um ideal agora retomado de modo irônico por diversas artistas contemporâneas. Lady Gaga vai, no entanto, muito além dessas artistas em termos de coragem feminista. Enquanto elas zombam das mulheres estereotipadas que morrem como Ofélias por um homem, Lady Gaga, de modo mais surpreendente e corajoso do que importantes artistas cultas, dá um passo adiante.

No vídeo de “Paparazzi” fica exposto o amor-ódio que um homem nutre por uma mulher, a invalidez à qual ela é temporariamente condenada por sua violência e, por fim, uma vingança inesperada com o assassinato desse mesmo homem. “Incitação à violência”, pensarão as mentes mais simples; “feminismo como ódio aos homens”, dirá a irreflexão sexista acomodada, quando na verdade se trata de uma irônica inversão no cerne mesmo do jogo simbólico que separa mulheres e homens. Se em “Paparazzi” o deboche beira o perverso autorizado psicanaliticamente (a mulher sai da posição deprimida ou melancólica e aprende a gozar com seu algoz, que ela transforma em vítima), em “Bad Romance”, “o vídeo mais visto de todos os tempos”, mulheres de branco – como noivas dançantes – surgem de dentro de esquifes futuristas para curar uma louca que chora querendo ter um “mau romance” com um homem.

depois, ela fala sobre a estética de telephone, ressaltando o desprezo pelo amor dos homens e a subversão da imagem da mulher-mãe, que se dedica a alimentar seu homem.

não sei se lady gaga ou alguém de sua equipe pensou nesses conceitos para elaborar os vídeos. e ninguém vai se importar com essas coisas também, a não ser os doutores. e eu, pelo visto.

na íntegra.

2 comentários:

LiC disse...

Bueno... analisando um pouco lady gaga com base em algumas entrevistas, acredito q seus clips podem ser sim pensados, não sei se com essa análise da Saia Justa mais chata do mundo, mas como uma das maneiras de ter um choque em cima daquilo que as pessoas idolatram e até (de repente) uma lembrança do american way of life numa tangente aos 15 minutos de fama de Mr Warhol (falando nele, vc viu a exposição na Estação Pinacoteca???). Se vc quiser alguém pra conversar sobre isso, tem o professor Dr. Sidney Ferreira Leite. Frequentei as aulas dele na Casper. Não sei onde se meteu agora (talvez Belas Artes ou USP - pouco improvável... pois já estava em alguma fase do pós-doutorado), mas depois q sai de lá, fiz um curso dele na Fapcom.
Caso queira delirar por email, só me manda uma mensagem, pq tb adoro essas análises.

tippi hedren disse...

ela é chata? nunca vi saia justa, então não sei. acho que algumas vezes vi a moça no café filosófico e achei ok. mas me conta. (não vi o warhol). já ouvi uma palestra do sidney em algum momento da vida também. acho que gostei, pelo que eu lembro. explica melhor sua análise por e-mail, se estiver a fim.