quinta-feira, 6 de maio de 2010

21:04

Preguiça ou fobia?

A fobia social é bem mais do que uma simples falta de vontade de estar com os outros ou timidez. Trata-se de um medo exagerado de sentir vergonha ou sofrer humilhação quando a pessoa acha que será avaliada pelo grupo. Por isso, ela foge de situações como falar em público, comer na frente de outras pessoas e até assinar cheques diante de estranhos. Segundo o psicólogo Ari Rehfeld, da PUC de São Paulo, muitos fóbicos não conseguem olhar e nem mesmo falar com outras pessoas e acabam evitando sair. Qualquer desconforto desse tipo é capaz de desencadear sintomas de ansiedade exacerbada, como taquicardia, tremores, sudorese e boca seca, o que acaba prejudicando atividades sociais e trabalho. O tratamento é feito com remédios e psicoterapia. (Folha de S.Paulo)

em verdade vos digo que, até a idade dos 16 anos, eu era popular. ao lado de mais três ou quatro amigos, era uma das alunas mais antigas da escola. entrei naquela instituição de ensino no berçário e fui até o segundo colegial. não concluí o ensino médio lá apenas porque meu colégio querido foi à falência.

acho que sempre fui emo. no dia em que anunciaram o encerramento das atividades da escola, lembro de ter chorado rios, abraçado professores, diretores, funcionários e amigos. se não me engano, até escrevi uma carta ou fiz um discurso. sim, eu era meio bocó. ou não. é que hoje acho ridículo expressar o pesar na frente de muita gente, ainda mais quando isso pode ser interpretado como puxa-saquismo. mas, no passado, eu me expressava em público, para as massas.

sofri aquela falência. era o fim de uma era. uma era sobretudo confortável. sempre transitei por lá como se fosse a dona do pedaço. todos me conheciam, me achavam engraçada e simpática. eu era meio líder da turma, conselheira, bom e mau exemplo ao mesmo tempo. nunca precisei me esconder dentro do uniforme, mesmo sendo um desastre no que diz respeito aos jogos esportivos. eu era a garota que sempre sabia o que fazer, o que falar.

então meu sonho acabou e precisei me matricular num outro colégio. alguns dos meus amigos foram para um de elite, maior, e eu os segui. aquilo ali me ensinou a ser quieta. primeiro porque a maioria dos alunos era rica e eu não era. hoje, acho calça jeans e camiseta a coisa mais digna do mundo para se vestir. na época, eu sentia que era a pessoa mais desprezível do mundo por usar essa combinação de peças enquanto as demais garotas usavam saias das mais bonitas, blusas das mais charmosas. e elas faziam tratamentos estéticos jamais sonhados por mim. e elas tinham carro e outras quinquilharias materiais que eu secretamente invejava.

essas coisas parecem bobas se olhadas hoje. sobretudo porque eu não dou a mínima para o luxo. mas vai pensar assim tendo 17 anos num colégio de patys e boys. é criar uma tribo ou se sentir deslocado. eu acabei ficando na minha. outra coisa que me incomodava é que eu não sabia mais puxar assunto. descobri que era tímida, que morria de vergonha de falar a coisa errada e ser zoada para todo o sempre. sobrevivi a esse ano de 2001 com poucos e bons amigos, o que se repetiu no ano seguinte, no cursinho, nos quatro anos após o cursinho e não parou até hoje. nem nunca vai parar, eu acho.

que bom que o colégio faliu, se a gente for ver. conheci um outro mundo, uma outra parte de mim. no entanto, ainda é meio estranho sentir vontade de não interagir, de ficar contemplando meus pensamentos, de ler durante o almoço. não é que eu não goste de pessoas. eu gosto muito de algumas e algumas também gostam muito de mim. é só que às vezes eu não sei o que fazer com elas. aí, entro no meu retiro emocional. a sorte é que sempre vem um pra me salvar.

p.s.: enquanto concluía este texto, veio uma garota fofa aqui da redação conversar. foi uma conversa ótima, até profunda. realmente gosto dela e sempre vou gostar quando as pessoas me lembrarem que existe vida além do quarto. ou dos livros. ou do cinema. ou da redação. ou seja, além de todos os lugares onde costumo me esconder.

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