domingo, 27 de fevereiro de 2011

pillow talk #2

[gary barlow] ela: você sabe que tem o direito de fugir de mim, né?
ele: tenho?
ela: tem, ué.
ele: que direito mais inútil.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

pitty hedren

[tippi hedren] desculpem a ausência! tenho muito a dizer e pouco tempo, pra variar. fiz uma lista dos assuntos pendentes:

- mãe da thaís;
- frustrações da vida adulta;
- morar junto antes de casar;
- batavo;
- sumiço;
- desapego em relação ao jornalismo;
- completo apego em relação à psicanálise;
- cisne negro;
- identidade de tippi;
- nikolai.

vou falar do que toma menos tempo e aguça os leitores: minha identidade real, rá! soube, via caixa de comentários e e-mails trocados com gary barlow, que ele mesmo, nosso ex-take that, foi identificado. ele se descuidou, jemt. e os stalkers não perdoam descuidos. eles se alimentam deles. eu também cometi descuidos e sei que corro riscos. mas, enquanto ninguém me descobre, fico aqui, toda pimpona.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

artimanhas femininas (00:50)

[gary barlow] não que isso tenha qualquer coisa a ver com vocês ou comigo, mas o peguete de uma colega de trabalho está doente. no hospital, internado. não sei exatamente o motivo. pelo jeito casual como ela deu a notícia ontem, entre uma risada e outra, não deve ser nada grave.

não vou ficar dizendo que ela deveria se sentir mal, visitá-lo ou algo do tipo, porque eles nem são tão próximos assim e, francamente, não é da minha conta. mas fiquei levemente chocado com o que ela disse depois.

"será que ele vai sair do hospital mais magro? ele engordou um pouco desde que a gente começou a ficar. era tão mais bonitinho."

eu ri, claro, assim como todos que estavam no elevador. já vi muitas garotas reclamarem da forma física dos parceiros e arquitetarem planos para fazê-los perder peso. nada de novo. pelo visto os planos têm ficado cada vez mais ousados. as mulheres estão perdendo os escrúpulos de vez, pensei.

daí lembrei da garota deste post (não direi "peguete" porque foi vetado).

ela, que solta muxoxos quando eu falo que, para variar, seria legal se fizéssemos três refeições num dia.

ela, que sempre acaba me convencendo a tomar café na hora do almoço, almoçar na hora do jantar e jantar... as pessoas ainda jantam hoje em dia?

ela, que aparentemente desenvolveu a habilidade de se alimentar somente de bisnaguinhas, coca-cola e (claro) remédios para dor de estômago.

eu engordei seis quilos desde dezembro. quando ela me conheceu, eu já estava com meu peso atual. mas mesmo assim fiquei intrigado. seria eu vítima de um plano feminino para me emagrecer à força? caso a estratégia falhe, qual poderia ser o próximo passo?

quando o elevador chegou ao meu andar, o riso já tinha se transformado em preocupação. preciso parar de adiar minha volta à academia.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

o dia em que descobri que eu não era bom

[gary barlow] quando eu decidi participar deste blog, o maior motivo foi minha vontade de dividir esta história. falei dela há alguns dias e tenho ensaiado o texto desde então. vai ficar enorme e um pouco melodramático, mas é assim que ele deve ser. a quem tiver disposição de ler, faço duas promessas. tudo o que está escrito abaixo é verdade, e nada te fará sentir empatia ou compaixão.

já escrevi aqui sobre minha segunda traição, com a garota da faculdade. foi o início de um relacionamento doloroso e inesquecível. mas não contei que essa era apenas parte de uma história maior, que começou de um jeito parecido e mudou para sempre minha maneira de ver o mundo e os relacionamentos. para sempre e para a pior.

ela começa com um típico namoro colegial. depois de alguns beijos sem muito significado, acabei me tornando metade de um desses casais ingênuos e felizes. daqueles que percebem o ceticismo de todos ao redor, mas que nem por isso deixam de fazer planos para os 40 ou 50 anos seguintes, ou de trocar juramentos maravilhosos e quase impossíveis de cumprir.

"eu sempre, sempre vou te dizer a verdade."

falhei em todos os outros. mas esse, sem dúvida, foi o pior deles.

o dia em que descobri que eu não era bom foi uma segunda-feira, no começo de 2003. eu tinha entrado há pouco tempo na faculdade, que costuma ser a sentença de morte dos namoros do colégio. eu e ela estávamos brigando constantemente por algum desses motivos ridículos que levam adolescentes de 18 anos a se desentender, se é que eles precisam de motivos.

em meio a essas brigas, conheci a garota do interior. ela não fazia meu tipo em absolutamente nenhum sentido, o que não impediu que começássemos a conversar na sala de aula e a levar nossas conversas para o intervalo. até essa segunda-feira, em que estávamos sentados em uma das escadas do campus e ela perguntou se eu tinha namorada.

respondi que não e ela me roubou um beijo.

eu poderia até dizer que aquele beijo foi culpa dela, apesar de eu ter mentido que era solteiro. mas os beijos seguintes foram culpa minha. foi culpa minha quando liguei para minha namorada e disse que ia ficar na faculdade até mais tarde para estudar. quando levei a garota para o meu carro. quando me despedi dela falando que nos veríamos no dia seguinte.

à noite, quando encontrei minha namorada, achei que ela perceberia que havia algo de errado. ela não desconfiou de nada. do cumprimento à despedida, aquele foi mais um encontro normal daquele casalzinho apaixonado do colégio, que brigava por bobagens e depois voltava às boas. exceto pelo fato de que eu não era uma pessoa boa.

ao menos nos círculos que eu frequento, todos têm a convicção de que são pessoas boas, assim como seus pais, irmãos e amigos. um elogio comum a alguém de fora desse pequeno grupo é dizer que se trata de "uma pessoa boa". uma de nós. eu também pensava assim até aquele dia. foi aí que descobri que eu, um menino que beijava os pais antes de dormir, tirava notas altas e tinha um namoro supostamente perfeito, poderia ser um tremendo filho da puta.

e o que mais me surpreende, olhando para o passado, não é a minha falta de coragem para abrir o jogo com a minha namorada, ou a completa irracionalidade da minha conduta - afinal, eu havia traído na primeira oportunidade que tivera, com uma garota por quem eu tinha interesses no mínimo superficiais. o que mais me surpreende é que eu não tinha a menor intenção de parar.

passei algumas semanas com a garota do interior, até que ela começou a se apaixonar e eu tive de dizer que, sim, eu era comprometido. ela ficou justificadamente transtornada. chegou a pegar o número de telefone da minha namorada no meu celular e ligar para ela, mas não teve coragem de dizer nada.

inventei uma história. disse que a garota era louca e tinha pego meu celular emprestado. minha namorada acreditou. cortei o contato com a garota do interior e só voltei a vê-la há alguns meses. ela me confessou que ainda gostava de mim. eu disse que não merecia esse sentimento e que ela deveria procurar alguém melhor. ela insistiu; disse que eu estava me diminuindo. eu disse que sabia que eu estava certo. não a vi mais depois disso.

***

depois desse susto, eu e minha namorada voltamos à instabilidade tradicional. continuei a omitir tudo o que havia acontecido com a garota do interior. vivemos um ano de quase felicidade, até eu conhecer aquela outra garota.

na primeira vez em que beijei a garota da faculdade, eu e minha namorada estávamos brigados. de traidor, eu passei a ser amante. durante a semana, eu e ela levávamos uma vida de casal, a ponto de frequentarmos as casas um do outro e sairmos para almoçar com amigos. os fins de semana ela passava com o namorado, em outra cidade. ela dizia que iria terminar com ele, mas sempre voltava na segunda-feira com uma desculpa para não tê-lo feito. eu merecia.

já disse que a história terminou depois de três meses, com duas traições, quatro corações destruídos, um trancamento definitivo e uma prescrição de fluoxetina. mas não disse como terminou.

quando triângulo amoroso havia completado dois meses, minha namorada voltar a me procurar. marcamos um encontro. ela me abraçou e chorou, dizendo que sentia minha falta. eu já não sentia quase nada por ela, mas não tive coragem de dizer que não queria mais e estava com outra garota. me sentia em dívida com ela por tudo o que havia feito. nós reatamos sem que eu dissesse nada sobre a garota do interior, ou sobre a garota da faculdade. não tive coragem de cumprir minha promessa.

a garota da faculdade ficou abalada com a notícia. nunca mais foi a mesma comigo e parou de prometer que terminaria o namoro. ainda assim, mantivemos nosso relacionamento por mais um mês, sem que minha namorada ou o namorado dela soubessem de nada. continuamos nessa felicidade precária até as férias de julho, quando ela foi passar um mês na cidade dela e eu fiquei em são paulo com minha namorada. nenhum dos dois se sentiu à vontade para ligar. quando voltamos a nos ver, o interesse dela por mim havia morrido. ela começou a fazer outro curso e não nos vimos mais na faculdade.

eu, que já detestava as aulas, agora tinha um motivo a mais para não querer olhar para o prédio, as pessoas e as paredes. tudo me lembrava dela. passei a tirar notas baixas e faltar às aulas. tranquei minha matrícula na faculdade. conheci meu primeiro psiquiatra. o segundo. o terceiro. tomei os remédios mais populares para depressão: esses que os médicos se acostumaram a receitar sem perguntar qualquer coisa. não fizeram efeito porque meu problema era moral. mas eu não admitiria isso nunca - nem mesmo em uma consulta psiquiátrica.

minha namorada me via desabar, mas não podia saber o motivo. tive de inventar desculpas. disse que era por problemas familiares, por insatisfação com o curso, por razões químicas (como se eu soubesse algo do assunto). cheguei a dizer que a culpa era dela. continuamos nesse pesadelo por mais três anos, até que aquele grande amor adolescente se transformasse em nada. terminamos o namoro quando ela decidiu não atender mais aos meus telefonemas depois de uma de nossas brigas cotidianas.

pouco depois disso, encontrei a garota da faculdade por acaso num restaurante. estava sentado com dois amigos quando ela passou pela minha mesa, em direção à porta. num impulso, levantei e fui atrás dela. ela continuou andando, sem tirar os fones de ouvido. consegui alcançá-la e andei ao lado dela por três quarteirões. disse que precisávamos conversar e que eu ainda pensava nela todos os dias (era verdade). enquanto dizia isso, segurei a mão dela. ela disse que precisava ir embora e não queria ouvir nada. continuei segurando sua mão; ela se afastou e atravessou a rua. não fui atrás. voltei ao restaurante algumas vezes, mas nunca nos encontramos de novo.

***

a história merecia um epílogo amargo.

dois anos depois do fim do namoro, eu e minha ex-namorada nos encontramos na internet e ela me mandou uma mensagem. voltamos a conversar e reencontramos a sintonia dos primeiros anos. depois de duas semanas de conversas virtuais, ela me convidou para tomarmos um café. eu vivia os últimos meses de um relacionamento duro e passional, mas mesmo assim aceitei o convite.

nos encontramos em uma padaria de que gostávamos e conversamos por duas horas. ela me falou da vida, dos trabalhos, das viagens. e deu de presente uma medalha como esta, que ela tinha comprado no vaticano. disse que sabia que eu estava comprometido, mas que ainda gostava de mim e queria tentar de novo.

eu não estava disposto a tentar. em dois anos se aprende alguma coisa, e eu sabia que não conseguiria guardar todas as mentiras do passado e manter a nossa sanidade, ou a mais remota chance de sermos felizes. mas ao mesmo tempo não achava justo dispensá-la e deixar que ela pensasse que foi rejeitada por uma pessoa boa, digna do amor que ela sentia.

sem pensar muito, decidi cumprir a promessa feita sete anos antes. contei toda a verdade.

há um limite para as descrições, e este é o meu limite. mesmo se eu abusasse de metáforas e adjetivos, não saberia descrever a expressão de alguém que acaba de descobrir que foi enganado durante cinco anos. só posso dizer que eu vi esse rosto. é uma cena que me assombra de tempos em tempos, embora eu tenha aprendido a pensar no passado o mínimo possível.

segurei a mão dela assim que ela começou a chorar e contei a história até o final. pedi uma água. ela tomou e quis ir embora. caminhamos juntos, sem olhar um para o outro. em frente ao carro dela, perguntei se ela queria a medalha de volta. ela disse que tinha comprado pensando em mim e queria que ela ficasse comigo. está na minha carteira até hoje. é a prova de que minha história é verdadeira. de que ser uma pessoa boa não é uma condição nata, mas uma decisão tomada ao longo da vida.

quando nos olhamos pela última vez, ela ainda chorava muito. eu a abracei e disse a única palavra que cabia naquele momento. "desculpa." ela me abraçou mais forte, não respondeu e se despediu. acompanhei o carro dela com os olhos até o fim da rua, como fazia nos primeiros anos de namoro. eu não a veria mais depois disso.

ainda naquela tarde, por e-mail, ela me diria tudo o que eu merecia ouvir e ela não teve forças para dizer em nosso encontro. eu respondi com um novo pedido de desculpas. ela encerrou a conversa e pediu que eu nunca mais a procurasse.

"eu não quero que você me diga mais nada. a pior coisa em você é que você tenta parecer bom e consegue. você é um canalha que convence as pessoas. deveria escrever um livro ou uma peça de teatro. eu não vou acreditar em mais nada que vier de você."

nunca um elogio doeu tanto.

nunca mais traí ninguém.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

eu tentei (21:39)

[tippi hedren] segui os conselhos de alguns de vocês e tentei, mal e porcamente, estabelecer contato com a minha mãe. como ligar é complicado -- e soaria forçado -- mandei um e-mail. o assunto era "oi!". perguntei se estava tudo bem. fui incapaz de escrever mais coisas. medo de ela me magoar na resposta. ou orgulho puro e simples. ela me respondeu que sim, está tudo bem. e perguntou dos meus gatos, que ela chama de "bebês". ainda não respondi.

quem nunca

se pegou cantarolando isto?


terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

23:20

[tippi hedren] primeiro, rodeios: tive a ilusão de que podia escrever este post de bruços -- não posso, não tenho firmeza. o gato branco se aproveitou desse breve momento e veio massagear minhas costas, com aquelas patas enormes que ele tem. dói, por causa das unhas, mas também é gostoso, porque é o jeito do gato de fazer carinho. eu entendo. gato 1 x 0 cachorro.

este post vai ficar enorme. é sobre uma garota que vive um momento de dúvidas avassaladoras e que não consegue se aproximar da própria mãe, coisas que não estão relacionadas. preciso falar delas neste post porque sou de urgências. minha sessão de análise vai demorar e me dei conta de que se eu não registrar, corro o risco de esquecer o que eu estou pensando, como um mecanismo de defesa, talvez. aí, vou acabar levando outras questões pro divã, o que seria bom se os problemas atuais não voltassem a me assombrar. mas -- e sempre tem um mas -- eles vão. então pare agora. ou não.

mais dois preâmbulos (dizem que quando a pessoa faz rodeio é porque existe resistência. é possível resistir a si mesmo, no próprio blog? hmmm):

encontrei um cara bem gatinho no ponto de ônibus. meio jake gyllenhaal, que não faz o meu tipo, by the way. fui pedir informações e, quando vi, tínhamos engatado uma conversa. ele era perdido. nem sabia o nome do ônibus que deveria pegar, mas jurava que ele passava naquela rua escura em que estávamos. segundo ele, eu precisava pegar esse mesmo ônibus. ele sabia conversar. e, como eu disse, também era bem pegável. foi então que me peguei querendo fugir dele, da conversa, antecipando o momento em que nos sentaríamos juntos no banco do ônibus. o momento chegou, tratei de me sentar antes da catraca. dei um tchau simpático antes, é claro.

isso, meus caros, é uma coisa que eu jamais teria feito. mesmo sem nenhum interesse, eu provavelmente teria continuado a conversa -- que mal tem? percebi, porém, que nenhum outro garoto além do meu garoto me interessa no momento. e que eu não preciso me cercar de pretendentes pra me sentir segura. provavelmente, pela primeira vez na história do meu coração, não há dúvidas: eu só quero você, querido.

essa historinha do ponto de ônibus se passou antes da minha reunião com o diretor de redação mais legal do mundo. ele é tão legal, mas tão legal, que topou tomar um café comigo mesmo sem poder me prometer um emprego. nem vaga existe na revista dele. gestos simpáticos assim me ganham. me ganham!

o cara está nessa revista há anos. vejam bem: ANOS. e nunca pegou um café da máquina do próprio andar. não sabia que botões apertar, colocou um copo a mais na engenhoca, se atrapalhou todo, em resumo. o que só me fez amar mais a pessoa. conversamos sobre cinema, sobre figurões do jornalismo cultural, sobre freud, o cachorro do freud e sobre lacan. acho que ele gostou deveras de saber que estou estudando psicanálise (eu estou! não é incrível?).

agora sim, as questões urgentes.

desde novembro, acho, sou voluntária do cvv. sim, aquele "serviço" telefônico que ajuda pessoas em situação de desespero. pela terceira vez, faltei. eu deveria estar lá agora, no momento em escrevo este post quilométrico. não consegui. embora eu consiga lidar muito bem com certas ligações, outras acabam comigo, com a minha paciência.

é assim: eu consigo conversar longamente com quem descobriu que tem HIV, por exemplo, mas não tenho boa vontade alguma com pessoas que ligam toda semana, com o mesmo problema. tendo a desprezá-las e mesmo a ter raiva de sua imobilidade. e eu sei, por deus eu sei, o quanto pode ser difícil sair do lugar.

outra coisa que neste momento me faz repensar o voluntariado é a dedicação que ele exige. toda terça -- das 22h às 2h. isso me complica, porque falta tempo pra dormir, pra ficar de bobeira, pra estudar, pra postar aqui (tava precisando!) e no blog famoso. ou talvez eu só esteja procurando desculpas.

outra coisa é que eu não acredito totalmente na minha utilidade. acho que certas demandas -- pra não dizer todas as demandas -- dependem de um trabalho contínuo. uma ligação pode, no máximo, ajudar a pessoa a se sentir melhor por desabafar. mas rá! eu não consigo apenas ouvir. eu me envolvo. eu fico analisando. faço perguntas, desejo que a pessoa se questione. e isso contraria a filosofia do cvv. e contraria muitas das pessoas que ligam. algumas delas não querem ser questionadas. têm seus motivos, é claro. outras, por outro lado, topam o desafio e, quando a ligação acaba, estamos ambos bem. porque, né? eu me destruo com cada dor. eu me espanto. eu não fico alheia jamais. talvez por isso eu esteja cansada. e fugindo.

semana passada, discuti com um voluntário que me pediu para desligar ou pelo menos guardar o celular. eu expliquei que não atendia ligações, apenas usava a internet durante o intervalo das ligações para o cvv. ele não quis saber. disse que uma instituição só se sustenta porque existem regras bla bla bla. travamos uma longa e tensa conversa sobre direitos e deveres. eu disse que não iria guardar o celular coisa nenhuma, porque a qualidade do meu atendimento não é garantida com base nisso. ele disse que eu deveria me queixar à direção. eu odeio burocracia e deixei isso bem claro. ele me acha arrogante, provavelmente. e agora que eu faltei, também deve me achar irresponsável. não posso dizer que ele está de todo errado.

sobre a minha mãe, poucas linhas: tenho saudade dela, penso nela, mas não consigo manter contato. isso acaba comigo. me dedico mais a estranhos do que a pessoas próximas. l de loser pra mim.

1:44

[gary barlow] - eu já te disse que eu quero te ver de novo? - perguntou ele, com a cabeça afundada no travesseiro. ela continuou distraída com alguma dessas bobagens que passam na tevê no domingo à noite.

- o que você falou?

- nada. agora essa frase vai ser um mistério para sempre. tudo porque você estava aí assistindo a... sei lá ao que você está assistindo.

mas não era um mistério, porque ele já tinha dito. e talvez nem precisasse.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

19:58

[gary barlow] na redação, quinta-feira é um dia de muito trabalho e muita espera. depois de entregar os textos do dia, resta aguardar até que eles sejam aprovados. é um processo tedioso e demorado. o desafio é inventar coisas para fazer.

ontem eu e a garota de óculos decidimos fazer uma maratona stalker: encontrar o maior número de perfis de ex-namorados(as) na internet no menor tempo possível.

sobre a garota de óculos, escrevo mais outro dia. por enquanto, é o bastante dizer que ela senta do meu lado e é, assim como tippi hedren, uma das poucas pessoas no trabalho com quem me sinto à vontade para falar de assuntos pessoais. e que ela tem um senso de humor parecido com o meu. ao menos o suficiente para embarcar na arqueologia amorosa digital.

tinha me esquecido do quanto eu era bom nisso. em menos de vinte minutos, achamos todos. consegui até o e-mail do primeiro namorado dela - embora ela jure que não vá mandar nada.

curioso foi perceber que não existe nenhuma relação entre a duração de um relacionamento e o tamanho da dor de cotovelo. comentávamos tranquilamente sobre namoros que duraram anos. mas a gente se doía só de olhar as fotos de outros, que acabaram em poucos meses.

não que os relacionamentos longos não deixem cicatrizes. ainda dói pensar na garota do colégio, que namorou comigo por cinco anos e me fez questionar, pela primeira vez, se eu era mesmo uma pessoa boa. (outro dia escrevo sobre isso. até hoje não sei a resposta.) mas não me incomodou nem um pouco ver que minha última namorada, a garota jornalista que ficou comigo por dois anos, está "em um relacionamento sério". com um ex que, segundo ela, "não tinha personalidade". match made in heaven, my dear.

o mais difícil foi ver as fotos daquela garota da faculdade, depois de sete anos. ela parece não ter mudado nada. as mesmas poses. as mesmas roupas. o mesmo sorriso capaz de me fazer largar tudo, mesmo sabendo que me arrependeria no instante seguinte.

ao contrário dela, eu acredito que mudei muito. mas não o bastante para o passado não me machucar.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

16:42

[gary barlow] ela: você vai escrever um post sobre isso?
eu: não. (não ia, mas você me deu a ideia.)

***

ela: você chegou aí faz muito tempo?
eu: não, cheguei agora há pouco. (há uns 20 minutos. mas não me importo.)
ela: a gente tem que pegar a fila, né? é aqui?
eu: não, acho que é lá. (estamos furando a fila do cinema, meu deus.)
ela: aqui?
eu: isso. (continuamos furando, mas menos. tudo bem, é só não olhar para trás.)

***

ela: eu sinto que você está um pouco acuado.
eu: acuado? (sim, claro.)
ela: sério, eu tenho a impressão de que eu deixo você acuado, por isso você fala tão pouco.
eu: eu sempre falo pouco. (ok, não tão pouco. mas é a reação natural de um homem tímido perto de uma mulher tão bonita.)
ela: você não tem cara de quem fala tão pouco assim.
eu: ah, eu me sinto um pouco acuado, sim. (um pouco mais que um pouco.)
ela: por quê?
eu: não sei como explicar. (preciso de cinco minutos para organizar meus pensamentos e falar algo coerente.)

***

eu: eu fico acuado porque eu quero te ver de novo. eu sei que não é bonito dizer isso, mas faz tempo que eu não saio com uma garota que eu tenha vontade mesmo de rever. (desaprendi a ter medo. é isso.)
ela: você é daqueles que falam que vão ligar para as meninas e não ligam, é?
eu: não, não. (mesmo quando não tenho vontade de ver de novo, eu ligo. o que não importa, porque não é o caso.)
ela: mas você não tem que se sentir acuado por causa disso. a gente pode se ver tal dia, ué.
eu: eu sei. (eu sei?)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

post rascunhado ontem, editado hoje, postado agora

[tippi hedren] acho que gary barlow cumpre melhor do que eu a função de escritor de blog diarinho. eu disse a ele: "sabe o que eu acho? que vou acabar dando o contrastalker pra você". para minha infelicidade, ele respondeu: "jamais ficarei sozinho no blog", de modo que continuo aqui, com meus posts que não geram comentários (sim, estou toda trabalhada no recalque e não vou esconder).

gary e eu nos conhecemos há quase dois anos. não entendo como a amizade nasceu, para ser sincera. ele passava perto da minha mesa, erguia a mão direita e me dava um animado "oi". eu achava curioso, porque não tínhamos sido apresentados. mais tarde, entendi que ele me via como uma igual, um animal da mesma espécie, ameaçado pelos mesmos predadores. trocando em miúdos, ele achava que eu era estagiária, assim como ele. de acordo com gary barlow, eu não aparento a idade.

o que eu acho, porém, é que o meu lado fofo e gentil faz com que as pessoas me vejam como um ser inocente, desprovido de maldade, uma característica perdida ao longo do tempo nesse mundo hostil que nos abriga. mas há as exceções. sou uma delas e trago a palavra naïve tatuada no peito. seria isso -- a inocência do coração -- garantia de juventude eterna?

voltando ao início de minha amizade com gary barlow.

um dia, após tantos cumprimentos afáveis, fui me juntar a ele no restaurante da firma. nesse dia, eu estava atrapalhada e fiz a mesma pergunta duas vezes ou mais. não sei como continuamos conversando. não sei como passamos a conversar ainda mais. e depois a frequentar animadas festinhas no baixo augusta. ok, foi só uma. hoje, chegamos ao ponto em que toda boa amizade chega: uma mistura de honestidade, sarcasmo e amor. a gente diz o que pensa, dá pitaco, tira sarro, magoa de levinho e volta às boas.

por isso, adoro o fato de ele escrever aqui. adoro o que ele escreve aqui. mas sinto ciuminho, dorzinha de cotovelo e quetais. não porque o mundo vai saber como ele é legal. isso eu adoro. o problema é aprender a dividir o espaço, a reconhecer a fama do coleguinha -- ou do filho preferido. vou tentar elaborar na terapia. beijos.

16:21

[tippi hedren] socorro, estou parecendo a minha mãe! a vida inteira ela me exigiu amor exclusivo e agora eu estou fazendo a mesma coisa com os meus amigos. eu não quero ser assim! me lembro de voltar feliz da casa do meu pai - que eu só via em raros finais de semana - e ela ficar emburrada porque eu tinha me divertido. isso quando ela não falava mal dele e de toda a família dele até a 53ª geração. eu sei que o problema não era eu me divertir. o problema era ela perder seu suposto controle sobre mim. e a dor que ela devia sentir por não ter mais marido. não o meu pai, a pessoa dele, mas um homem a quem ela chamaria de marido e com quem poderia dividir a responsabilidade. essas coisas ela não sabia expressar. o que ela fazia era tentar apagar qualquer traço do meu pai em mim.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

21:30

[gary barlow] muitas coisas a dizer, pouca ordem nos pensamentos. a solução de emergência é dividir e enumerar.

(1)

existem pessoas que arranjam encontros para os amigos. existem pessoas que sabotam sem querer os encontros dos amigos. e existe tippi hedren, que faz as duas coisas simultaneamente - embora seja melhor na primeira do que na segunda.

como não conheço minha cidade, pedi dicas de um lugar que estivesse aberto ontem. ela me disse que o bar y era "bem legal aos domingos" (transcrição direta). logo antes de sair de casa, resolvi entrar no site do lugar para checar o endereço.

"aberto de terça a sábado."

eu deveria ter desconfiado. há algum tempo, ela havia me falado de uma festa black "muito animada" que acontecia todos os domingos em uma balada que ela costumava frequentar. passei por lá várias vezes em minhas caminhadas pela região. só vi o toldo levantado, a luz apagada e uma porta de ferro. confesso que não me pareceu tão animada assim.

precisamos conversar sobre os domingos, tippi hedren.

não hoje. outro dia. hoje é dia de te agradecer.

(2)

preciso de ajuda com uma definição de encontro às cegas. imagino que alguém aí conheça as regras. é permitido trocar telefones antes? o encontro prévio entre alter egos é completamente vetado ou contatos em ambientes virtuais não contam?

(3)

ela: "a maioria dos meus amigos é gay."
eu: "eu também"
ela: "..."
eu: "digo, a maioria dos meus amigos também é gay."

(4)

pode ser autopreconceito da minha parte, se é que a palavra existe. mas tenho a impressão de que as minhas melhores conversas são aquelas em que eu só escuto, sem falar nada.

(5)

de volta aos encontros às cegas. não estou familiarizado com as regras. mas quando uma noite começa com uma caminhada de dez quadras sem rumo e termina com um paulistano sendo guiado por uma carioca, é possível falar em sucesso?

(6)


***

e não digo mais nada, porque aprendi que transformar uma pessoa em personagem pode ser constrangedor. especialmente quando há a possibilidade de que a pessoa em questão leia a história. mas três colegas vieram falar comigo hoje e repararam no tamanho do meu sorriso. talvez isso queira dizer alguma coisa.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

19:30

[gary barlow] no post anterior, aquele sobre a mensagem que insisto em não enviar, acabei me esquecendo de um detalhe.

pensando melhor, talvez detalhe não seja o termo ideal. na falta de outro, fiquemos com esse. mas devo tentar uma definição mais clara. há detalhes e detalhes. alguns são aspectos quase imperceptíveis da vida e só chamam nossa atenção quando decidimos reparar neles. e há detalhes que podem provocar acidentes aéreos, mudanças climáticas de proporções planetárias ou a infelicidade eterna.

o meu detalhe é do segundo tipo.

o detalhe é que eu esqueci de dizer que, embora tenha deixado de mandar essa mensagem algumas vezes, para amigas que teimo em não esquecer e cujos nomes poderia recitar agora, houve uma vez em que mandei a mensagem. ou quase isso.

era 2004. eu ainda acreditava que era uma boa ideia seguir na faculdade de letras, que eu começava a detestar. quanto mais detestava a faculdade, mais gostava da garota da carteira ao lado. era a garota da carteira ao lado porque invariavelmente, por iniciativa minha ou dela, acabávamos decidindo que ficar a poucos centímetros de distância um do outro era uma boa maneira de enfrentar o dia. ela também detestava a faculdade e demonstrava gostar da minha companhia.

mas vocês não estariam lendo esta história agora se ela tivesse final feliz. a garota da carteira ao lado namorava um rapaz de outra cidade. eu tinha um relacionamento difícil, daqueles em que a insatisfação é tão grande quanto o medo de terminar. o que não impedia que nos separássemos brevemente, para logo depois reatarmos com a promessa de que tudo seria diferente, mesmo que nenhum de nós dois acreditasse nas palavras que dizia ou ouvia.

um dia depois de uma dessas separações, a garota da carteira ao lado sentou-se comigo novamente. e eu decidi que precisava fazer algo.

nós havíamos criado o hábito de trocar bilhetes em um caderno. reminiscências do colegial. até o dia em que peguei o caderno e decidi escrever um pouco mais do que estava acostumado. era uma manhã de terça-feira, aula de Literatura Brasileira I. não lembro de uma palavra que foi dita pelo professor naquele dia. mas lembro de tudo o que escrevemos, ainda que tenha destruído o caderno tempos depois, junto com ingressos de cinema, bilhetes e fotos que eu não queria ver nunca mais.

"senti que você estava meio chateado na sexta, gary. aconteceu alguma coisa? quer conversar?"

"não sei se devia falar disso com você."

"por que não? você sabe pode contar comigo sempre. qual é o problema?"

"o problema é que eu queria te beijar agora. do mesmo jeito que quis te beijar ontem. ou no fim de semana, quando não nos vimos. ou na sexta-feira, quando você percebeu que eu estava chateado.

sei que você tem namorado e deve me ver só como amigo. entendo se você não quiser nada comigo, ou até se ficar irritada por eu te escrever essas coisas. mas não sei lidar com isso sozinho. não consigo mais esconder e acho que você merece saber disso. nós somos amigos, e eu seria um péssimo amigo se continuasse a conversar com você todos os dias e escondesse a verdade.

só não queria que isso afastasse a gente. temos uma amizade muito bonita e seria muito triste te ver todos os dias na faculdade e não poder estar perto de você, nem conversar como sempre conversamos. se você não sentir o mesmo que eu sinto, posso tentar aprender a ser só seu amigo."

"tá..."

"fala."

"me explica uma coisa. você só queria me dar um beijo, é isso?"

"eu tenho vontade de te beijar todos os dias."

"eu sinto o mesmo que você."

***

a história terminou depois de três meses. com duas traições, quatro corações destruídos, um trancamento definitivo, uma prescrição de fluoxetina e algumas das minhas recordações mais dolorosas e difíceis de esquecer. também houve momentos ótimos. mas nada que justificasse acidentes aéreos, mudanças climáticas de proporções planetárias ou a infelicidade eterna.

estragar a amizade é o de menos. tenho medo é de estragar a vida.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

5:20

[gary barlow] oi, moça.

acabei de chegar em casa. obrigado por ter ligado para me convidar. adorei a noite, a música e a companhia. vamos repetir um dia desses? beijos.

ou melhor, beijos não. antes queria te dizer outra coisa.

talvez você não tenha percebido. mas, enquanto os nossos amigos procuravam seus prazeres momentâneos, eu não olhei para outra garota a noite toda. desde que te encontrei na festa, só pensava em te beijar. aliás, você estava linda com aquele vestido.

sei que isso tudo pode parecer insólito. afinal, já faz tempo que somos amigos - e mais nada.

a propósito, foi por isso que hesitei naquela hora em que te segurei pela cintura e minha boca chegou a encostar na sua, enquanto eu fingia que não te escutava por causa do som alto e me apoiava no seu ombro porque estava supostamente bêbado.

se você tivesse reparado em outras ocasiões, saberia que tenho uma ótima audição e que, mesmo quando estou bêbado, sempre mantenho uma distância respeitável das pessoas ao meu redor.

fiquei grudado em você porque quis. mas, ao mesmo tempo, não tive coragem de demonstrar minhas intenções de forma mais direta. deu medo de estragar nossa amizade, apesar de eu só ter me tornado seu amigo há tantos anos porque te acho uma mulher incrível. incrível demais para ser só minha amiga e me encontrar no bar uma ou duas vezes por mês para falarmos de banalidades.

é verdade que em algum momento acabei sublimando essa vontade e nos tornamos verdadeiramente amigos, a ponto de nos divertirmos juntos e trocarmos confidências. mas basta uma noite como esta para eu perceber que a sublimação não passava de autoengano, e que talvez as confidências fossem uma forma de tentar ganhar sua confiança, me aproximar de você e preparar o bote que eu não tenho coragem de dar.

patético, eu sei.

por isso resolvi te escrever. porque, mesmo que a sua vontade de me beijar seja talvez inexistente e com certeza menor do que a minha vontade de beijá-la, sinto que você merece saber a verdade.

eu não resisto a aproveitar a ocasião para dizer que você deveria me dar uma chance. nossos signos combinam e eu sei ser uma ótima companhia, principalmente quando supero a barreira do primeiro contato e deixo de ser um poço de insegurança e introspecção. sei que você está sozinha há um tempo. acho, sinceramente, que sou capaz de te fazer gostar de mim.

mas não é para isso que estou escrevendo esta mensagem. a decisão, afinal, é sua. não posso te forçar a me escolher, assim como não fui forçado quando te escolhi. se é que tive escolha.

estou escrevendo porque somos amigos, ao menos até segunda ordem. em uma relação como essa, a honestidade deve superar a timidez e o medo de rejeição. mesmo que você não queira nada comigo e ache tudo isso um enorme delírio de alguém que consumiu uma quantidade de álcool muito superior à recomendável, você tem o direito de saber o que se passa em minha cabeça. e pode me ajudar superar isso da melhor maneira possível, sem que percamos a cumplicidade que construímos com o tempo.

do contrário, a frustração enorme que sinto ao final de noites como esta pode acabar com nossa amizade. não sei se quero sentir isso de novo, e não sei se consigo passar outras noites ao seu lado enquanto estiver engasgado com essa sensação e todo este discurso sentimentalista, ainda que sincero. se não soubermos lidar com isso como adultos, sinto que vou me afastar de você, ainda que inconscientemente. por saber que nossos encontros terminam assim: com um idiota suspirando diante do teclado.

aliás, sinto que já estamos nos afastando.

agora sim, beijos.

gary barlow

nota de rodapé: mensagem não enviada mais de uma vez, para mais de uma garota.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

23:50

[gary barlow] greetings. este é meu décimo texto de hoje.

desnecessário dizer que estou exausto. e, se a qualidade do trabalho é inversamente proporcional ao nível de cansaço, existe uma alta probabilidade de que vocês estejam lendo uma porcaria.

se esse disclaimer não foi suficiente para você fechar a página ou ao menos abrir uma nova aba em seu navegador, segue outro: vou interromper brevemente os relatos de minha efervescente vida amorosa. escrevi este post com o único propósito de reclamar do trabalho.

pronto. agora que só eu estou lendo, vamos às palavras que importam. mais precisamente, à palavra que importa.

a palavra é "juvenil". e é para mim.

escrevendo sobre cinema, aprendi que uma crítica sutil é muito mais eficiente do que uma crítica grosseira. não imaginei que comprovaria a tese na prática. há alguns meses, ouvi de um chefe que meu texto tinha ficado uma bosta (sorry, ladies). hoje, ouvi de outro que eu havia escrito uma frase juvenil.

posso dizer que a segunda crítica é muito pior. quando alguém te diz que seu trabalho é uma bosta, a reação natural é discordar (ainda que mentalmente) e procurar razões para reerguer sua autoestima. afinal, você sabe que não é uma bosta.

quando alguém o chama de juvenil, porém, é provável que você concorde. principalmente de manhã, quando o o amor próprio ainda não acordou, mas a autocrítica continua em vigília. principalmente se você for jovem. e se tiver motivos para acreditar que o dia pode ser pior.

o texto juvenil foi o primeiro de nove, entre redação e edição. três vezes minha carga de trabalho usual. great start.

a palavra me assombrou durante todo o expediente. ou quase todo. lá pelo quinto texto, me dei conta que estava sendo juvenil. poucos hábitos são tão estúpidos quanto o de condicionar sua autoestima aos elogios alheios.

aí passei a escrever para mim, como estou escrevendo agora. pode ter ficado juvenil. mas foi o bastante para dar conta do dia e embarcar no próximo.

era necessário. um juvenil não amadurece de um dia para o outro.

jeremy davies

[tippi hedren] só nove anos mais novo que a minha mãe

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

gary pediu, gary vai ter

[tippi hedren] tudo devidamente explicado ao final de cada post da recente tag e-mails chats etc

amor, desamor e outras drogas
o passado
rodeios
relações não saudáveis

18:39

[tippi hedren] achei que deveria explicar o que significa a tag e-mails chats etc, embora ela seja autoexplicativa.

bom.

decidi compartilhar conversas via e-mail, msn e gtalk porque elas são o registro de quem eu era, de acordo com os outros e de acordo comigo mesma. vocês não sabem, mas entre esses e-mails há uma porção que escrevi e não tive coragem de enviar. mexo nesses esqueletos porque acho que eles têm muito a revelar.

sem o contexto, talvez não seja possível entender as conversas. porém, o que eu espero que aconteça é que cada um interprete os textos à sua maneira. afinal, os sentimentos são os mesmos, as histórias é que mudam.

tive a ideia de expor essas conversas quando comecei a ler correspondência incompleta. são cartas, postais e fotos que a escritora ana cristina cesar compartilhou com algumas amigas durante alguns anos. “cartas e biografias são mais arrepiantes do que a literatura”, ela disse. e tem toda razão. de tão intenso, não aguentei. parei no começo, tentando me proteger.

entre o final de 2006 e o início de 2007

[tippi hedren] "... essa última conversa deixou uma sensação ruim. incapacidade de compreender por que estávamos nos massacrando daquele jeito. como é possível duas pessoas serem tão duras uma com a outra, sendo que se gostam?

foi mais uma discussão longuíssima, cheia de você isso, você aquilo – dos dois lados – e nada prazeroso ou uma nova ideia.

o mais estranho é que há tempos a gente se prendeu nessa teia de desprazeres e mesmices. achávamos que o melhor caminho era a conversa. eu até acho que seja. mas com a gente não funcionou. falávamos demais e não tínhamos tempo de viver. vivemos muito pouco ou poucas coisas boas.

mesmo quando tudo estava bem, eu não vivi o que poderia ter vivido. medo de falar alguma bobagem, medo de cobrar algo, medo de fazer algo "errado" e estragar tudo. o medo. sempre ele."

nota de rodapé: e-mail escrito por mim. nunca chegou ao destinatário. aliás, ele não recebeu 90% dos e-mails que eu escrevi. ele destruiu meu coração.