quarta-feira, 22 de setembro de 2010

22:08

d: vc viajou pra onde, l?
hedren, t.: mistério

d: tô muito interessado em saber.
hedren, t.: pq?

d: sei lá. acho legal sua vida.
hedren, t.: hahahahahahahaha*


*porque, né? é claro que é uma piada.

15:32

um dia que nem a mais deliciosa previsão de susan miller salvaria. tá tudo fora de lugar e eu não vejo como pode melhorar. desde ontem, quando voltei de férias, tô lerda. paralisada numa vontade de driblar as obrigações e finalmente ver sentido no que eu faço. pra ser sincera, poucas vezes eu vi. ele, de novo. aquele desejo de ser relevante, de ir atrás de uma pauta por instinto, pela emoção que ela provoca. acho que não sei fazer diferente. eu preciso de humanidade.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

19:25

eu fui pra augusta e as pessoas ainda estavam lá. foi por acaso. fiquei feliz. e extremamente desconcertada. eu poderia estar lá com elas, se as coisas ainda fossem as mesmas. de todo modo, é bom saber que as coisas são diferentes e, mesmo assim, elas continuam lá, no bar favorito. é preciso atravessar a rua mais vezes ou esperar? é preciso não fazer nada, talvez. do mesmo jeito que começou acaba. e volta a ser. e continua. até que os blogs não tenham mais nada a dizer. o meu ainda tem. preciso pegar a tv. e pagar em vodca. sempre me lembro.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

23:04

não consigo ir pro meu quarto dormir, não consigo. todos os hóspedes já foram e eu, a louca do computador, tô aqui. eu sei que eles pensam isso de mim. que eu sou louca. e agora paranóica.

nem sei o que eu tô sentindo, mas a vontade de escrever é inesgotável. esqueço às vezes que isso aqui é meu e que eu posso vir sempre e ficar à vontade. quando lembro, é essa avalanche.

falei com um amigo querido hoje. fazia um tempão que a gente não se falava. tipo... anos. casou, teve filho, separou. incrível como a vida das pessoas acaba se parecendo quando passa o tempo. já tenho pencas de amigos separados. aí, você vai ouvir os detalhes e - pânico! - os motivos também são os mesmos, na essência. dura quanto o amor? suporta o que?

dói pra cacete se separar de alguém. quando eu tava esquecendo dessa dor, revejo brilho eterno de uma mente sem lembranças e volta tudo. aí, eu leio o blog dela e tão lá as partes mais fucking hard da história emocional da humanidade. de todo modo, acho que a maior parte das pessoas pode fazer outra coisa com essas dores. é deixar virar outra coisa. e a gente sai melhor desse processo chato, longo, cruel. eu acredito piamente nisso, piamente.

por outro lado, sempre desconfio quando me dizem que o amor acabou e foi isso. eu mesma tô tentando sempre explicar pra mim porque eu parei de amar o garoto da fotografia. sempre me pego tentando dizer que "amor acaba" e aí vem ela pra me dizer o momento exato em que eu matei o amor. tem até sessão-chave. medo.

visitei meu pai nas férias. foi como se nunca tivéssemos ficado longe um do outro. primeira vez na vida que eu não choro pós-infância na frente dele. quer dizer, eu chorei, mas ele não viu. vou ganhar mais um irmão. ou irmã.

21:45

eu falo mais do que "oi" com cinco pessoas daqui. primeiro veio a a., que é uma menina de são paulo, como eu. a a. tem 37 anos, mas a gente olha pra ela e dá uns 27. ela trabalha no tribunal de justiça, acho. se formou em tradução. é ruiva, extremamente tímida, usa aparelho e pesa a mesma coisa que eu. ela já perdeu um monte de quilos antes de vir pra cá.

a a., eu já percebi, é obstinada. cortou os doces da vida, não come nem os dietéticos que servem aqui. anda rápido e deixa todo mundo pra trás na caminhada. comprou um relógio que conta a pulsação e tá toda feliz com o brinquedinho.

ela tem alergia a um monte de coisas e na quinta-feira eu vou pra "cidade" com ela, porque ela precisa tomar vacinas toda semana.

eu não sei o que eu sinto por essa moça. às vezes, ela me irrita com o radicalismo todo. outras vezes, eu tenho vontade de cuidar dela.

depois, veio a l., que a a. me apresentou. a l. é uma senhora bonita, refinada. demanda muita atenção, porque gosta de falar pelos cotovelos. tem opinião sobre tudo. está aqui há mais de um mês e só perdeu uns 2 quilos. ela diz que o seu metabolismo é lento. eu acho que ela sofre muito, na verdade.

aí tem a menina que eu não sei o nome. ela é a mais empolgada com tratamentos estéticos, massagens orientais, com lama, banho disso, daquilo etc. ela é divertida. tem um sotaque ótimo, do interior. faz questão de mostrar pras pessoas a foto de quando ela era gorda. eu ainda não vi. e também não fiz nenhum tratamento estético. acho que dá pra pensar nisso com uns 40 anos. até lá, quero preservar meu lado trash.

a s. (nome da minha filha, se eu tiver uma) é a que tem o papo mais legal. ela deve estar perto dos 40, é dentista, mas fez direito depois e agora só trabalha com advocacia. ela poderia ser chata, uma vez que ela tem uma voz muito chata, mas ela é muito agradável. tem mil histórias familiares e a gente pensa de um jeito meio parecido sobre a criação de animais e crianças, embora eu não me sinta nem um pouco apta a criar seres humanos. ela tem um bulldog e isso conta 50 pontos a favor dela. ela também tem muitas expressões faciais, o que eu acho ótimo.

por último, o melhor. com vocês, m. m. tem 65 anos e é viúva há 13. ela joga toda a culpa dos seus 130 quilos na morte do marido. ela reclama muito da comida. a gente começou a conversar porque ela estava justamente blasfemando contra a dieta. e eu tentando consolar. aí, ela veio com o papo do "rosto lindo e corpo zoado" e eu desanimei.

mas então ela me surpreendeu. fui tomar uma ducha e ela elogiou as minhas tatuagens. achou tudo lindo e disse que vai fazer algumas em homenagem aos netos. "borboletinha pras meninas, né?", ela disse. os filhos dela criticam muito essa vontade. eu dei a maior força. depois, ela desembestou a falar, porque eu fui perguntando tudo.

me contou que tinha um namorado, também criticado pelos filhos. e agora ela deu um basta nessa relação, porque descobriu que ele é "mulherengo", mas não tenho certeza de que foi essa a palavra que ela usou.

ela viajou para os estados unidos com esse cara, bancando tudo. até roupa e declaração para o visto. ele é mais novo. tem menos de 50. eu só disse "cuidado pra ele não se aproveitar da senhora". ela respondeu "ah, ele não tinha condição de pagar e eu queria ir com ele". eu, que defendo a livre crença e a ilusão terapêutica, não disse mais nada.

fiquei morrendo de curiosidade quando ela contou desse namorado. uma coisa que eu sempre quis saber como funciona é o sexo dos velhinhos. aí, eu disse: "posso fazer uma pergunta íntima"? e ela: "claro". perguntei: "como era er... o sexo? bom?" ela abriu o maior sorriso da piscina e disse que é melhor do que antes, que ela tem o maior fogo agora, embora o marido fosse um "safado bom de cama". ela se divertia com o ex três vezes por noite (bem melhor do que a minha média, diga-se).

ela fala disso tudo com as netas, principalmente sobre usar camisinha. isso desperta a ira das mães das meninas (?!). m. me chama de "amiguinha".

17:27

tô de maiô, evitando molhar a cadeira do spa. tô cheia de energia também. tentei dormir à tarde, na piscina e no quarto, porque eu adoro dormir. a surpresa gigante foi que eu não consegui, mesmo pegando no sono só às 2h de ontem. nasceu um pique em mim que... uau. agora entendo quem malha feliz. quero tanto conseguir fazer isso quando sair daqui... descobri que suco de morango com banana é o céu. também descobri que era triste acordar ao meio-dia. perdia um tempão cultivando a minha pancinha quando poderia estar matando todas as malditas células adiposas que brotaram em mim. e isso me faria uma pessoa mais feliz. feliz em uma simples calça jeans. tô achando que desta vez não vou desistir de uma vida melhor e de um reflexo animador no espelho. mas sempre tem a porra de um big mac no meio do caminho. tudo bem se eu comer sem culpa e depois correr milhas?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

20:36

um spa. eu. nós. imaginava que seria revistada na entrada e que aquele chocolatinho escondido no fundo da mala seria confiscado. também imaginava obrigações esportivas sem fim. meu estômago rugia em protesto à fome que ele sabia estar próxima.

imaginei certo, exceto pela parte do chocolatinho, que eu não trouxe. autoenganação: vamos estar evitando.

um alívio: aqui é bonito. fica no alto de uma montanha, e dá pra ver algumas cidades desse interiorzão de são paulo. quando eu quero relaxar, eu sento num banquinho e fico vendo a paisagem. depois, eu deito e fico olhando o céu. é um jeito de pensar em outra coisa além das coisas gostosas que eu não estou comendo.

depois da natação, que eu fiz porque deu vontade, sem professor, e da hidroginástica da tarde, lá fui eu pro banquinho. de roupão. é legal chocar os outros hóspedes.

eles me irritam um pouco. falam demais, palpitam demais, perguntam demais. é como se cada um precisasse falar de si e se comparar ao outro pra aliviar o peso da privação. alguns são muito reclamões também. hoje uma mulher se exaltou no almoço. ela dizia "no prato dela tem mais comida do que no meu!". eu achei bem engraçado.

outro exemplo do comportamento doentio observado: duas hóspedes decidiram passar a tarde no shopping, em vez de fazer exercícios. vida delas, né? mas criticaram, claro. e com ar de deboche, fruto do mais puro ódio. é todo mundo espelho do outro aqui. vai tentar quebrar pra você ver. te fuzilam. enche um pouco o saco.

mas dá pra entender. estamos em uma situação limite. e as pessoas ficam selvagens quando estão nos seus limites. só acho besteira fazer os exercícios de qualquer jeito, parando quando dói ou cansa. seremos gordinhos pra sempre se não aceitarmos os desafios! viram? já tô adotando um discurso motivador chato. bocejem.

é o que eu faço mentalmente quando algum professor grita palavras de estímulo e nos convoca a malditos abraços grupais.

fora essa amargura, tô mais ok do que pensava que estaria. comendo MUITO pouco (muitas vezes ao dia, pra compensar), mas descobrindo que é possível se sentir superbem depois de correr ou de nadar. e que se eu fizer isso com frequência, eu posso sempre comer coisas deliciosas e continuar tendo uma vida divertida.

comida, eu deveria saber, é só comida. mas ignoro essa informação. e comida vira alegria, afeto, companhia e outras coisas que nem sei nomear. "faz bem" pra cacete comer uma panela de brigadeiro. foda é fazer isso quase a vida inteira e descobrir que só umas três peças de roupa te servem. ou ser sempre tomada por gestante. ou ouvir a pior frase ever, que é "tem um rosto tão lindo...". porque se eu não tivesse, segundo quem diz, eu poderia comer até a morte, é isso?

pense antes de falar, mundo, pense.