sexta-feira, 28 de maio de 2010

15:35

agora eu tô assim. adicionando como amigo no facebook tudo quanto é artista mezzo desconhecido que eu gosto. tem leo cavalcanti, tulipa ruiz, tita lima e karina buhr. fazer o quê se eu amo a sensação de que estou perto deles? difícil é controlar a vontade de tietar no bate-papo. com certeza, eles devem suspirar resignadamente cada vez que um fã tenta se fazer de amigo. ou eles ficam animados. de todo modo, que assunto que a gente puxa? só rola puxar o saco mesmo. e isso eu me recuso a fazer, porque é o que todo mundo faz. mas bem que eu queria ter coragem de ficar no senso comum e babar dúzias de ovos. pior que não ter o que falar é ver leo no meio da rua durante o show da tulipa na virada cultural. tão perto, tão longe. #suspiros. fiquei tentando fazer contato visual, mentalizei dicumforça um "olha pra mim, olha pra mim". e nada. também eu queria o quê? paquerar o cara? que puta coisa de groupie.

13:33

malditas as pessoas que conseguiam ficar batendo papo enquanto aquela mulher incrível cantava. ou melhor, cochichava. tudo nela era sussuro. até o jeito de olhar pra gente. e de pedir para que mudassem o volume do microfone. era um movimento suave do indicador. nenhuma palavra.

nunca pensei que veria chan marshall mandando beijo, fazendo coraçãozinho com as mãos e enxugando uma lágrima imaginária. eu ouvi sobre seu lado mais frágil, desencontrado e introspectivo, justamente o que ela mostra no palco.

e agora, para nosso espanto, ela parecia feliz. tenho medo de quem, subitamente, aparenta felicidade. é como a melhora repentina antes da morte ou a estranha alegria do suicida.

eu queria ouvir todas as canções que me marcaram e fizeram sentido. mas ela não veio aqui para mexer nas nossas lembranças, cutucar a nossa dor. veio para esquecer as suas lembranças, espantar a própria tristeza.

tudo bem, lute contra os fantasmas.

sorte que metal heart ficou, apesar da faxina. uma superação? um tributo? uma pista? jamais saberemos. ela, mesmo quando fala, não diz.

foi até o camarim e voltou com uma cesta de frutas e flores. nem roberto carlos se entrega tanto assim. pena que não fiquei nem com as pétalas. na falta de xícara, tenho a toalha que estava jogada no palco. nem usada foi.

ei, você. sim, você. muito obrigada. melhor presente de aniversário em anos.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

19:54

desenhei, na cabeça, três caminhos profissionais para mim. o primeiro é continuar na revista e seguir lutando bravamente para ser uma repórter de verdade, o que consiste basicamente em entregar textos com regularidade, coisa que eu não faço.

no entanto, isso só é viável se a "promoção" "prometida" vier. decidi que não posso mais ganhar tão mal. sobretudo porque eu me esforço. num mundo onde existe justiça, cósmica que seja, isso deveria contar. mas esse mundo existe? claro que não. as coisas podem simplesmente dar errado. ou dar certo de um jeito torto.

se a promoção não vier, eu vou tirar férias, coisa que jamais aconteceu em toda a minha vida profissional. e lá se vão sete anos de labuta. na volta, devo bater em outras portas. de jornais, talvez. este é o segundo caminho.

a terceira possibilidade, por incrível que pareça aos que já ouviram todo o meu repertório sobre a paixão pelo jornalismo, é o que mais me agrada. consiste em voltar para a faculdade.

para isso, eu precisaria trabalhar em alguma agência de comunicação que pague bem. aí, cursaria psicologia. me tornaria uma acadêmica. depois, com algum dinheiro guardado, montaria um consultório, ao mesmo tempo em que frequentaria aulas da escola de psicanálise. ouviria os outros e ajudaria essas pessoas a escrever suas próprias histórias, a enxergar esses enredos tão inacessíveis por vezes.

no meio do caminho, achei que a construção de histórias era jornalismo. literário, para ser mais exata. demorei para notar que dificilmente é. se você não for um gay talese da vida você vai ficar na superfície. e eu quero mergulhar, como sempre.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

17:18

e o triste é que a gente perde tudo junto ao se perder. e em nome de quê. tem nome isso, pra começar?

quinta-feira, 20 de maio de 2010

21:06

o nobre tratamento da presidência da república a um (não tão) reles jornalista. grande história. aqui.

16:18

Fagulha

Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.

Eu queria entrar,
coração ante coração,
inteiriça
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando

Eu queria até mesmo
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.

Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.

Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.

Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio

Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las

Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.

ana cristina césar

sexta-feira, 14 de maio de 2010

17:39

e então me ligaram e eu finalmente vou ser voluntária do cvv. quer dizer, vou fazer o curso preparatório, que dura dez semanas, e aí, se eles acharem que eu tenho o perfil, vou começar a trabalhar.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

19:43

hoje, eu tive que falar com um monte de gente na redação. tive que andar pelo vasto salão de piso amarelo em busca dessas pessoas. e tive também que entrar na salinha de vidro da instância máxima de poder. senti que as pessoas estavam olhando de um jeito estranho pra mim. compreensível, uma vez que tenho feito combinações toscas de roupa. não que eu goste, mas tem sido uma constante usar as piores peças quando todas as outras estão sujas e espalhadas pelo chão do quarto. organização e apresentação visual não são exatamente os meus fortes. aí, depois que a avalanche do fechamento passou, fui ao banheiro lavar as mãos. e, no espelho, a trágica surpresa. minha saia tinha subido dois palmos, o que eu não percebi porque estou de meia-calça e não senti um vento, um desconforto, nada assim que pudesse me alertar. pensem na seguinte imagem: uma garota com uma saia ofensivamente curta para os padrões do ambiente profissional. e nem é sexy, uma vez que ela não tem pernas incríveis. bom, essa sou eu. pagando todos os meus pecados em questão de minutos. tive que ligar pra minha mãe e desabafar toda a minha vergonha. ela riu, claro. eu também quis rir. mas, nervosamente, me controlei. porque, né? despertar a compaixão alheia não é das coisas mais legais do mundo. e eu só pensava em quanto tempo iria demorar pra esquecerem aquela cena. ou eu seria lembrada pra sempre por isso? ai, melhor num pensar. pelo menos, não aconteceu comigo o que aconteceu a uma amiga da minha mãe. essa aí saiu do banheiro sem a parte de trás da saia, que ficou presa na meia-calça. e ela estava em uma festa. e demorou muito pra alguém avisar.

shit my kids ruined

um blog dedicado apenas às cagadas infantis.

como esta:

14:59

o 44 está em festa! ontem, chegaram presentes e a era da informação vai passar a existir no quarto número dois daquele lar. finalmente, peguei o desktop que me emprestaram. de brinde, veio um notebook. é lento, como todos os anciãos, mas funciona. e é tão bonitinho! dá pra ouvir música, dá pra entrar na internet, dá pra escrever no word e bater papo no messenger com relativa rapidez. eu tô feliz. adeus lan house, adeus distrações no horário de trabalho. um salve pros amigos que doam coisas.

o roomie e eu estamos ficando íntimos. ele me conta coisas da vida dele enquanto toma conhaque, eu conto coisas da minha enquanto tento refrear os ímpetos diabólicos do gato. fomos, mais uma vez, dormir às 3 da manhã. trocamos receitas de torrada - porque pão é o que mais tem naquela casa - e fizemos planos de hospedagem de camaradas durante a virada cultural. parece que a sala vai ficar pequena.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

personal jesus (ou um texto que é sobre você)

é difícil escrever sobre o que a gente não entende. vai ver é por isso que demorei. não que agora eu entenda. mas, no ônibus, eu tive um insight e achei que deveria aproveitar. escrevi rascunhos. o último deles estava até que ficando bom. aí reli, antes de postar, e percebi que era mentira. o insight é justamente esse: o post tinha um pouco do que eu sinto, mas não tinha o principal, que é essa minha hesitação, o meu não saber. não tenho resposta. aí, decidi escrever sem buscar uma resposta, embora minha vontade seja explicar tudo pra você. e pra mim. um pouco eu consegui, mas não o suficiente. se bem que acho que o suficiente vai ser quando ninguém mais se sentir mal. e tenho que confessar: também escrevo para me ajudar, porque não aguento mais sentir tanta coisa, não saber por que. e existe o medo. será que o "café", a buatchy e o msn serão os mesmos? será que ainda vai ter isso? se depender da sua educação, creio que sim. mas e aí dentro, como fica? como está? acabei de pensar no que parece impossível. te vi como você é. ignorei a sua árvore genealógica. acho que a bebida entra aí. de repente, todos os empecilhos vão embora e a gente se liberta. aquela voz que dentro da gente, no começo, grita vai ficando cada vez mais fraca. até que fica inaudível. e a gente cede. antes de ceder, houve a escolha. porque um carro e não o outro? pensei, não tentei me enganar e não vou mentir. fui no carro com você porque me senti mais protegida. eu achava que assim poderia evitar mais um fracasso cardíaco. mal eu sabia que ia doer ainda mais em mim e em mais gente. perdemos o controle. e essa dor não passa nunca. não quero que passe com o tempo. porque o tempo, por mais triste que seja, cura tudo. é um alívio. mas também não sobra nada além de lembrança. ele vai curar seu amor e vai curar suas perdas. eu queria ter o poder de curar, e poder ser curada. não queria deixar nas mãos do tempo. vai ficar tudo esmaecido e eu vou ser a lembrança ruim. virar história é não poder mexer em mais nada. é museu. "não toque, por favor." e eu quero tocar, ir até onde for preciso pra que tudo fique bem. então, eu digo enquanto é tempo que aquela noite começou antes, uma semana antes, e não num carro. não ter ido em frente era o melhor a se fazer. mas fui, fomos. e que entenda quem for capaz. certo ou errado não explicam muita coisa.

acho que consegui. pelo menos ecoou e, portanto, é de verdade. mensuro assim.

personal jesus é uma música do johnny cash. não tenho religião, acho que você sabe. mas, diante de tudo isso, bem que precisei de um personal jesus. pra ouvir minhas preces, pra se importar com o que eu senti. porque, nessa vida, tem coisa que é stronger than him.

20:17

quando comecei a ler o texto da marcia tiburi, achei que se tratasse de mais um levante contra a cultura de massa, assunto da maioria das aulas da faculdade de jornalismo, além da semiótica e dos causos dos professores que confundiam a disciplina que lecionavam com realizações próprias.

ainda assim, decidi ler até o final. no quinto parágrafo, comecei a sentir o êxtase. nunca tinha pensado, por exemplo, que a performance de lady gaga traria, na apresentação estética, elementos do pós-feminismo.

ela explica bem melhor do que eu poderia:

O tema da mulher morta torna-se quase um lugar-comum na arte contemporânea, como foi no século 19. Naquele tempo, ele representava o impulso próprio do romantismo que via na mulher falecida e inválida um ideal agora retomado de modo irônico por diversas artistas contemporâneas. Lady Gaga vai, no entanto, muito além dessas artistas em termos de coragem feminista. Enquanto elas zombam das mulheres estereotipadas que morrem como Ofélias por um homem, Lady Gaga, de modo mais surpreendente e corajoso do que importantes artistas cultas, dá um passo adiante.

No vídeo de “Paparazzi” fica exposto o amor-ódio que um homem nutre por uma mulher, a invalidez à qual ela é temporariamente condenada por sua violência e, por fim, uma vingança inesperada com o assassinato desse mesmo homem. “Incitação à violência”, pensarão as mentes mais simples; “feminismo como ódio aos homens”, dirá a irreflexão sexista acomodada, quando na verdade se trata de uma irônica inversão no cerne mesmo do jogo simbólico que separa mulheres e homens. Se em “Paparazzi” o deboche beira o perverso autorizado psicanaliticamente (a mulher sai da posição deprimida ou melancólica e aprende a gozar com seu algoz, que ela transforma em vítima), em “Bad Romance”, “o vídeo mais visto de todos os tempos”, mulheres de branco – como noivas dançantes – surgem de dentro de esquifes futuristas para curar uma louca que chora querendo ter um “mau romance” com um homem.

depois, ela fala sobre a estética de telephone, ressaltando o desprezo pelo amor dos homens e a subversão da imagem da mulher-mãe, que se dedica a alimentar seu homem.

não sei se lady gaga ou alguém de sua equipe pensou nesses conceitos para elaborar os vídeos. e ninguém vai se importar com essas coisas também, a não ser os doutores. e eu, pelo visto.

na íntegra.

terça-feira, 11 de maio de 2010

21:34

eu, para o chefe:

fulano,

a exemplo da coisa x, acha que seria viável fazer y? acho que seria um exercício interessante para mim, mas não sei se você teria confiança ou se estou indo com muita sede ao pote.

obs.: vou carregar perpetuamente o erro histórico de ter feito z, né? ok, é justo. mas tenho minhas dúvidas. pode ser que o tenham cometido antes e deixado passar batido. é um consolo.

ele, para mim:

sim, esta semana estou cuidando de n. é uma boa semana para vc se virar sozinha.

sobre o erro, precisa pagar um pedágio, né? vc ainda vai ter que ouvir um tempinho.

é possível que tenham cometido esse erro no passado, embora eu ache que não. já vi outros, o pior deles foi no w...

21:21

nove graus em são paulo. enquanto todas as meninas desfilam, lindas, em suas meias-calças, a loser aqui passa frio porque não lavou as suas. aliás, falta de roupa é uma constante na minha vida. sem máquina de lavar, tô fazendo a amélia no braço. e de dia, o que é pior, uma vez que a lâmpada da lavanderia queimou. isso é sair de casa pela primeira vez.

16:23

estou me preparando para escrever um post difícil. não consegui entender muito bem a história e os meus sentimentos. engraçado que ontem, na ânsia de compartilhar com alguém, pensei em chamar meu amigo mais velho pra conversar. perto dos 50, livre do veneno que é a classificação, ele talvez conseguisse me ouvir.

por enquanto, as palavras de um nostálgico. também na casa dos 50, também um pária.

"Quando eu não passava de um jovem repórter, já lá vão três décadas, lembro-me de que recorríamos aos jornalistas mais velhos para obter alguma informação útil ou para resolver dúvidas. Eles eram figuras importantes no ambiente de trabalho. A gente os considerava cidadãos veneráveis e dignos de atenção. Desafortunadamente, agora que seria a minha hora de figurar como referência e exemplo para os outros, só me sobrou ouvir as maldisfarçadas gargalhadas de desprezo daqueles que recorrem às bases de dados e aos mecanismos de busca da internet para consultar e pedir conselhos. Lembro de ter escrito uma crônica sobre isso, e talvez alguém a encontre na blogosfera. Eu afirmei, se não me falha a memória, que os venerandos sábios anciãos foram substituídos pelo Google search. E eu era Google e não sabia! Um Google search meio gauche, mas ainda assim repleto de memórias, verdadeiras, verazes e até inventadas. Ou melhor, em um passado não tão distante, eu poderia ter sido respeitado como um sábio, mas não houve tempo. E poderia ter criado fatos e dados e ninguém me questionaria. Vários conhecidos meus fizeram carreira assim, na mistificação mais desavergonhada. Eles podiam inventar lembranças. Agora a gente erra uma vírgula e lá vem o sabichão acenando sua busca infalível... Mas esta é outra crônica e um outro tempo, mais adiantado do que o da crônica em questão."

na íntegra.

domingo, 9 de maio de 2010

22:41

da fonte do passado nada espero
e tudo quero
sou quem toca
sou quem dança
quem na orquestra desafina

sexta-feira, 7 de maio de 2010

16:08

levaram meus fones de ouvido. e foi em plena redação. agora, não posso mais passar tardes e noites ouvindo minhas canções, as que tanto me divertem, emocionam e ajudam na concentração. não sei como tem gente que acha ok ir pegando algo que não lhe pertence. não mesmo. foi assim também com meu guarda-chuva novinho que esqueci no restaurante da editora.

olha, se são os moleques do centro*, eu entendo. agora, gente que é colega e inclusive ganha mais do que eu**... ah, por favor.

(fora que eu tô pobre demais. demais.)

* ontem, o cobrador e o motorista do ônibus deram carona a uns sete meninos de rua. achei tão legal. eles estavam cantando funk, o que eu também achei legal. ao contrário de quem coloca o celular pra tocar funk no último volume, que desperta apenas o meu ódio. um deles falou umas baixarias e pediu desculpas pra mim logo depois. o maior contou que ia no baile da rose bombom (que eu achei tinha falecido nos anos 80) e que não podia levar os menores, que seriam barrados na entrada. "lá só tem gostosa", afirmou.

** meu contrato é uma bizarrice aqui, pois é de cinco horas enquanto o de todos os demais é de sete. por isso, acho que ganho menos do que o povo. mas não menos que os estagiários e auxiliares, acho.


quinta-feira, 6 de maio de 2010

21:04

Preguiça ou fobia?

A fobia social é bem mais do que uma simples falta de vontade de estar com os outros ou timidez. Trata-se de um medo exagerado de sentir vergonha ou sofrer humilhação quando a pessoa acha que será avaliada pelo grupo. Por isso, ela foge de situações como falar em público, comer na frente de outras pessoas e até assinar cheques diante de estranhos. Segundo o psicólogo Ari Rehfeld, da PUC de São Paulo, muitos fóbicos não conseguem olhar e nem mesmo falar com outras pessoas e acabam evitando sair. Qualquer desconforto desse tipo é capaz de desencadear sintomas de ansiedade exacerbada, como taquicardia, tremores, sudorese e boca seca, o que acaba prejudicando atividades sociais e trabalho. O tratamento é feito com remédios e psicoterapia. (Folha de S.Paulo)

em verdade vos digo que, até a idade dos 16 anos, eu era popular. ao lado de mais três ou quatro amigos, era uma das alunas mais antigas da escola. entrei naquela instituição de ensino no berçário e fui até o segundo colegial. não concluí o ensino médio lá apenas porque meu colégio querido foi à falência.

acho que sempre fui emo. no dia em que anunciaram o encerramento das atividades da escola, lembro de ter chorado rios, abraçado professores, diretores, funcionários e amigos. se não me engano, até escrevi uma carta ou fiz um discurso. sim, eu era meio bocó. ou não. é que hoje acho ridículo expressar o pesar na frente de muita gente, ainda mais quando isso pode ser interpretado como puxa-saquismo. mas, no passado, eu me expressava em público, para as massas.

sofri aquela falência. era o fim de uma era. uma era sobretudo confortável. sempre transitei por lá como se fosse a dona do pedaço. todos me conheciam, me achavam engraçada e simpática. eu era meio líder da turma, conselheira, bom e mau exemplo ao mesmo tempo. nunca precisei me esconder dentro do uniforme, mesmo sendo um desastre no que diz respeito aos jogos esportivos. eu era a garota que sempre sabia o que fazer, o que falar.

então meu sonho acabou e precisei me matricular num outro colégio. alguns dos meus amigos foram para um de elite, maior, e eu os segui. aquilo ali me ensinou a ser quieta. primeiro porque a maioria dos alunos era rica e eu não era. hoje, acho calça jeans e camiseta a coisa mais digna do mundo para se vestir. na época, eu sentia que era a pessoa mais desprezível do mundo por usar essa combinação de peças enquanto as demais garotas usavam saias das mais bonitas, blusas das mais charmosas. e elas faziam tratamentos estéticos jamais sonhados por mim. e elas tinham carro e outras quinquilharias materiais que eu secretamente invejava.

essas coisas parecem bobas se olhadas hoje. sobretudo porque eu não dou a mínima para o luxo. mas vai pensar assim tendo 17 anos num colégio de patys e boys. é criar uma tribo ou se sentir deslocado. eu acabei ficando na minha. outra coisa que me incomodava é que eu não sabia mais puxar assunto. descobri que era tímida, que morria de vergonha de falar a coisa errada e ser zoada para todo o sempre. sobrevivi a esse ano de 2001 com poucos e bons amigos, o que se repetiu no ano seguinte, no cursinho, nos quatro anos após o cursinho e não parou até hoje. nem nunca vai parar, eu acho.

que bom que o colégio faliu, se a gente for ver. conheci um outro mundo, uma outra parte de mim. no entanto, ainda é meio estranho sentir vontade de não interagir, de ficar contemplando meus pensamentos, de ler durante o almoço. não é que eu não goste de pessoas. eu gosto muito de algumas e algumas também gostam muito de mim. é só que às vezes eu não sei o que fazer com elas. aí, entro no meu retiro emocional. a sorte é que sempre vem um pra me salvar.

p.s.: enquanto concluía este texto, veio uma garota fofa aqui da redação conversar. foi uma conversa ótima, até profunda. realmente gosto dela e sempre vou gostar quando as pessoas me lembrarem que existe vida além do quarto. ou dos livros. ou do cinema. ou da redação. ou seja, além de todos os lugares onde costumo me esconder.

14:13

tenho medo de escrever as minhas coisas aqui e depois ser classificada como louca-depressiva-que-provoca-arrepios. minha analista me disse mais de uma vez que estou longe de ser louca. nunca tive diagnóstico de depressão também. ainda assim, eu temo a exposição e a maledicência, porque este é um mundo hostil aos sentimentos mais duros. todo mundo vai querer me classificar, alguns podem até trocar de calçada. espero, de coração, que quem me lê entenda essas coisas.

sempre penso que poderia manter um diário, e poupar as pessoas de ler certas coisas. confesso, porém, que tenho necessidade de falar, de transformar os sentimentos em algo legível e não apenas para mim. é muito ego, é muita pretensão artística, é muito new generation? o que é, por favor? alguém me diz?

de todo modo, a ideia de criar um blog novo, que eu sei que a minha mãe não vai ler, trazia, na essência, um desejo de liberdade, de escrever com menos amarras, de não dar importância ao julgamento alheio e à preocupação que eu posso vir a despertar. porém, estou mais longe disso do que pensava. me censuro demais.

hoje, acordei em cima da hora, como acontece todos os dias. antes, eu dizia para mim mesma que isso acontecia porque gosto muito de dormir. não posso negar a verdade, entretanto. e a verdade é que eu durmo para parar um pouco de pensar. não aguento mais pensar nas coisas que eu gostaria de fazer, que eu gostaria que acontecessem, nas que eu preciso resolver, nas que estou sentindo. há toneladas em cima de mim, a vida não está fácil. eu achei que ela só melhoraria depois de um limite que precisei cruzar. não é de todo verdade, nem de todo mentira. é só que os problemas de antes ficaram mais agudos, mais na cara. outros deixaram de existir.

e daí que eu estou no lugar onde sempre quis estar? não consegui, até o momento, ser o que eu quero ser.

não vou fazer sessão de desculpas aqui, prometo. você me lê, você pode pensar o que melhor lhe aprouver. eu sou mais do que está aqui. e menos também. aqui tem só parte de mim. a parte mais esquisita, inacabada e em dúvida de todas.

terça-feira, 4 de maio de 2010

20:17

tenho picos. de euforia, de coração apertado. e mesmo vivendo as agruras de um término mal explicado, consigo me divertir. bastante até. cheguei em casa ontem e o roomie tava ouvindo canções da fase blues de cazuza. como fiquei feliz com isso. uma das melhores noites no 44, sem dúvida. lendo revista, ouvindo a elaboração poética daquele perturbado-mor, sentindo a vida, apesar de você.

texto de 23/04, das 13h51

18:21

já que falei tanto dela, acho justo postar um texto seu. um que tenha me tocado. li hoje o artigo que segue, após uma reunião com três advogadas. elas criaram uma ong que busca garantir o direito de defesa dos acusados de cometer crimes, especialmente os mais pobres. gostei imensamente de ter encontrado gente que, como eu, enxerga o indivíduo, a complexidade emocional do indivíduo, e não o "bandido".

com vocês, maria rita kehl.

A morte do sentido
03 de abril de 2010 | 0h 00

Maria Rita Kehl - O Estado de S.Paulo

O que tanta gente foi ver do lado de fora do tribunal onde foi julgado o casal Nardoni? Torcer pela justiça, sim: as evidências permitiam uma forte convicção sobre os culpados, muito antes do encerramento das investigações. Mas para torcer pela justiça não era necessário acampar na porta do tribunal, de onde ninguém podia pressionar os jurados. Bastava fazer abaixo-assinados via internet pela condenação do pai e da madrasta da Isabella. O que foram fazer lá, ao vivo? "Ver" a morte? "Lá onde moro não tem esse negócio de morte violenta. Lá só tem árvores e passarinhos", disse à TV um rapaz que viajou de Ibiúna para dormir ao relento na frente do fórum de Santana. Ele foi ver a morte.

Mas a morte não se vê de fora do tribunal. Nem pelo lado de dentro. Nem de lugar nenhum. A morte mesmo, mesmo, é aquilo que não se vê. Vê-se o corpo sem vida. Vêm-se marcas de violência, decrepitude, doença. A morte está fora de nossa capacidade, tanto de representação em imagem quanto de simbolização. Por isso (assim como o gozo sexual) ela dá tanto o que falar.

Talvez um assassino chegue muito perto de ver, frente a frente, a morte que causou. Como pode suportar? Matar alguém é um ato que rompe a tela de proteção que separa o indivíduo de um gozo excluído da consciência, da lei dos homens, da linguagem. Matar não traumatiza somente a família da vítima. Traumatiza o assassino. Não precisamos ser piedosos para reconhecer esse fato que, por si, não perdoa ninguém. Importa entender que a repetição é a resposta do psiquismo ao trauma. O sujeito que mata uma vez é compelido a repetir seu ato na busca inconsciente de sentido não só para o horror que cometeu, mas também para a identificação indelével na qual se precipitou: a de assassino.

Todos os assassinos primários deveriam ter direito a tratamento psicológico. Independente da magnitude da pena. Imaginemos quantos meninos da Febem não estão neste momento ruminando seus atos, tentando combinar o antes e o depois, sem encontrar outra alternativa para reorganizar-se psiquicamente a não ser se convencer de que são assassinos. Elaborar o trauma não diminui o mal que foi feito, mas pode minimizar a possibilidade de que repitam o ato que também os destruiu psiquicamente, além de ter destruído a vida alheia. A alternativa solitária é parar de pensar e mergulhar de vez no mal absoluto.

Volto ao julgamento dos assassinos da criança Isabella. Penso que as pessoas não torceram apenas pela condenação dos principais suspeitos. Torceram também para que a versão que inculpou o pai e a madrasta fosse verdadeira. Alguém me disse, depois do assassinato dos queridos Glauco e Raoni, que sentiu alívio ao saber que o criminoso era conhecido das vítimas. Ora essa: por quê? Afinal, um crime cometido entre amigos - ou, pior ainda, por alguém da família - não é muito mais hediondo do que a violência praticada por um estranho? Certamente sim. Quem pode se conformar com a ideia de que um pai tenha participado do assassinato da filha pequena?

O relativo alívio que se sente ao saber que um assassinato se explica a partir do círculo de relações pessoais da vítima talvez tenha duas explicações. Primeiro, a fantasia de que em nossas famílias isso nunca há de acontecer. Em geral temos mais controle sobre nossas relações íntimas do que sobre o acaso dos maus encontros que podem nos vitimar numa cidade grande. Nada mais assustador do que a possibilidade do mau encontro: um ladrão armado, nervoso, cabeça fraca, que depois de roubar resolve atirar sem saber por que, porque sim, porque já matou outras vezes e então, por que não? Morrer na mão de um semelhante a quem não se pode dizer palavra alguma.

Segundo porque o crime familiar permite o lenitivo da construção de uma narrativa. Se toda morte violenta, ou súbita, nos deixa frente a frente com o real traumático, busca-se a possibilidade de inscrever o acontecido numa narrativa, ainda que terrível, capaz de produzir sentido para o que não tem tamanho nem nunca terá, o que não tem conserto nem nunca terá, o que não faz sentido.

Até hoje não se inventou nada melhor do que as narrativas para proporcionar algum sentido para o sem sentido do real. Não é o simbólico que faz efeito de verdade sobre o real, é o imaginário. O mar de histórias, lendas, mitos, fofocas, as mil versões que correm de boca em boca, ainda que mentirosas, ainda que totalmente inventadas, promovem um pequeno descanso na loucura que é estar nesse mundo sem bússola, sem instruções de voo, sem verdade, sem amparo.

Desde que o renascimento abalou a narrativa hegemônica que a Igreja impôs ao homem medieval, as pessoas se lamentam de que o mundo perdeu sua antiga ordem. A modernidade, primeiro, pulverizou as grandes narrativas, depois tentou consolidar utopias mortíferas da razão e agora procura recobrir a face do mundo com imagens industrializadas. Mas ainda não foi capaz de inventar narrativas à altura da complexidade das forças humanas que ela própria liberou.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

23:04

comprei spray e fiz topete. achava que ia desistir na última hora, como sempre desisto quando se trata de uma coisa nova. não por falta de coragem, acho, mas porque sempre se pode adiar. queria que tivesse ficado maior, na verdade, mas funcionou. gostei do resultado e devo fazer mais vezes, mesmo quando ser pin-up sair de moda, uma vez que eu sempre quis ser pin-up.

como o topete, tudo funcionou bem até determinado momento naquela noite. pessoas que sabem como se divertir por perto, música boa, bebida doce, promessas. aí, ele chegou.

eu desandei assim que o vi. não acreditava que ele tinha ido, que ele estava vindo na minha direção dar "oi". atônita, vi seu desfile de cumprimentos. quando chegou minha vez, não só me disse "oi" como disse que eu estava linda. quem merece ouvir isso do cara que há dias partiu seu coração?

durante o resto da noite, ficou tentando segurar minha mão. eu escapava. ele brincava com a minha pulseira. eu ia falar com desconhecidos. perguntava sobre a minha mãe e eu dizia "vai bem, muito obrigada" com uma educação que é típica de mim, mas não com música alta, não ali. reclamava do calor, me oferecia vodka pura. por que conversar, por que? e por que estar ali, naquele lugar? e por que oferecer carona na volta? por que, por que, por que?

e por que eu, apesar de tudo, fiquei tão estupidamente feliz sabendo que ele estava lá? feliz recebendo migalhas. por que? feliz sem entender o que aconteceu. por que? feliz com o meu topete e beijando quem não deveria, que não, não era ele.

21:57

acho que foi o sonho mais esquisito da minha história recente. acordei achando que era real, de tão plausível. mas é sempre assim com certos sonhos, não? agora, examinando à luz da razão, vejo que era meio descabido.

estava em busca de um novo analista e decidi me tratar com a irmã da maria rita kehl, de quem já falei aqui (droga, não posso linkar meu blog antigo). mas digo que ela é ótima. além de ser psicanalista e de ter escrito um livro que adorei, entre tantos outros livros e ensaios e palestras, ela teve a decência de olhar para o rap dos racionais sem preconceito e analisar o movimento proposto por mano brown e demais e pela própria periferia.

pois bem. decidi me tratar com a irmã da maria rita kehl, a juliana kehl. no meu sonho, ela era uma senhora de uns 70 anos de imensos olhos azuis e cabelos loiros. na vida real, a juliana tem pouco mais de 30 anos e é cantora ligeiramente conhecida da cena indie paulistana.

no meu sonho, o consultório dela ficava em um prédio com cara de repartição pública, desses baixos, completamente antigos, dos rodapés ao elevador. quando cheguei, descobri que em frente ao elevador que eu precisava usar, ficava um necrotério. mas não era um necrotério oficial, com placa e tudo. era mais um lugar onde ficavam cadáveres, todos eles classificados como produtos de "morte violenta" ao que parecia. estavam lá para estudo, talvez.

achei de um tremendo mau gosto colocar aquele lugar tenebroso ali, naquele prédio, e deixar a porta aberta. e o pior: havia um trânsito frenético de corpos. o primeiro que vi estava coberto por um lençol. os seguintes estavam completamente à mostra.

como me perdi, precisei voltar à cena dantesca uma segunda vez. e o que vi foi o tronco de um homem que morrera afogado. estava totalmente inchado. o segundo, também um homem, tinha um imenso buraco que compreendia o espaço entre o nariz e a boca. estava afundado. parecia que não tinha sido feito por uma arma. era como se ele tivesse aspirado com muita força o próprio rosto. o terceiro corpo eu achei que era de mulher, mas não tive como me certificar. estava coberto por um plástico transparente e tudo que se via era sangue. alguém comentou algo comigo a respeito ou eu entendi alguma coisa sobre esses corpos, especialmente o ensaguentado, mas não consigo me lembrar.

assustada com essas visões, cheguei ao consultório. era como uma sala de aula do pré-primário. mesas pequenas, talvez coloridas, muita gente. foi só aí que descobri que se tratava de terapia de grupo. fiquei incomodada, porque não queria ter que falar das minhas questões para muita gente ou ter que dividir o tempo do analista, o meu tempo, com outras pessoas.

aí que a juliana kehl ficava mesmo como uma professora, passando de mesa em mesa com questões professorais. ela ouvia um pouco do que dizíamos e soltava uma pergunta meio clichê, que eu sentia que era um clichê, uma vez que ela precisava dar atenção a toda aquela gente. eram boas perguntas, mas eu precisava de mais atenção, eu não queria ouvir conselho de gente tão perdida quanto eu. acho que foi assim, com essa angústia, que o sonho acabou.

agora a parte real de tudo isso.

tenho me interessado cada vez mais pela psicanálise. antes eu apenas gostava, mas não lia a respeito. há algum tempo, um ano talvez, tenho lido não só livros que me emprestam como tenho buscado comprar. ontem, estava com um amigo na livraria e mostrei a ele um livro da maria rita kehl do qual gosto muito, o tempo e o cão. ele, que é um enamorado das cantoras da cena indie mundial, me disse que a juliana kehl, que ele andava ouvindo, é irmã da maria rita. mas claro. sobrenome mais incomum. eu deveria ter desconfiado. ficamos de talvez vê-la em seu show na próxima virada cultural.

antes de dormir, li boas páginas do livro recém-comprado, que tem um título cafona, mas tem sido ótimo até aqui. chama-se o carrasco do amor e traz a história de alguns pacientes e da interação do analista com eles. o primeiro capítulo é sobre uma paciente de 70 anos, a mesma idade da "minha" juliana kehl no sonho. no livro, o autor fala sobre a terapia de grupo, o que acho que explica o fato de ser esse o modelo de terapia do sonho. o autor diz, no livro, que essa modalidade de terapia é boa porque, no grupo, repetimos comportamentos que temos fora dele, e isso pode ser tremendamente útil no processo de identificação dos problemas e na terapia em si. me convenceu.

há também uma boa passagem sobre como tememos a morte. acho que isso tem a ver com os corpos do sonho. a violência ali talvez seja explicada pela violência da própria morte. lembro de, no sonho, ter ouvido a terapeuta falar sobre isso. que era preciso encarar a morte, mas não me lembro direito. fiquei pensando, no próprio sonho, se o fato de ela estar tão perto daquela espécie de necrotério não era uma estratégia terapêutica macabra. terapia de choque. isso se a morte fosse a questão central naqueles grupos. não sei se era. nem me lembro de qual era a minha questão.

só sei que tenho sentido muita falta das minhas sessões de análise. precisei diminuir a frequência após sair de casa e começar a pagar aluguel, de modo que há questões fervilhando dentro de mim que eu não tenho como compartilhar.

escrevi ao som de juliana kehl. gostei. mas maria rita feelings. devo ir ao show ainda assim.