quarta-feira, 16 de março de 2011

este texto não é triste

[gary barlow] temos um trato e eu acabo de quebrá-lo.

blogs como este existem, acredito, para abrigar desabafos sobre a vida. textos movidos a melancolia e escritos não por escolha, mas por necessidade de revisitar sentimentos difíceis. na vida offline, aprendemos cedo a ter discrição nos momentos de tristeza e a gritar nossas pequenas alegrias para todos, como se isso nos transformasse em pessoas melhores - quase normais. na vida virtual, vale o contrário: altruísmo na frustração, egoísmo na alegria. ninguém quer ler textos felizes, essas bolhas de ingenuidade que não ensinam nada. a tela existe para textos bonitos e tristes, com espaço apenas para a pequena dose de esperança necessária para encarar a vida até o próximo post. foi por isso que comecei a escrever aqui. é por isso que eu escrevo.

este texto não será um deles. depois de quase duas semanas de silêncio, sou forçado a burlar as regras e escrever um texto feliz.

tenho de escrever um texto feliz porque, neste último mês, vivi alguns dos momentos mais agradáveis da minha vida. resisti a falar disso. tentei mudar de assunto ou disfarçar minha alegria citando diálogos aleatórios e sem contexto. ficou difícil. não há como continuar a escrever textos tristes quando, diante do teclado, lembranças do último fim de semana (e do anterior, e do outro) invadem minha cabeça e minha vontade é repetir, a cada linha, a frase que joel disse a clementine. a frase que eu repetia mentalmente enquanto assistia a seriados e comia brigadeiro no sofá, abraçado à garota. ou quando acordava ao lado dela depois de combinarmos, sem sucesso, que naquela noite eu dormiria em minha casa. ou no dia em que prometemos parar de tomar coca-cola e quebramos a promessa depois de meia hora, só porque as bocas mereciam um gosto doce e quem está apaixonado tem a permissão do universo para agir como criança, ainda que por alguns instantes.

"i've never felt that before. i'm just exactly where i want to be."

confesso que me considerava incapaz de sentir algo assim. no ano passado, depois do fim de um relacionamento problemático, uma amiga me aconselhou. disse que eu deveria aprender a ser solteiro, e ser solteiro era como ser malabarista. o segredo era imitar aqueles garotos chineses do circo, que conseguem equilibrar vários pratos sem piscar, tremer ou deixar que um deles caia no chão. os garotos faziam malabarismo com pratos. eu deveria fazer malabarismo com pessoas.

quem conhece minha história sabe o quanto me custa lidar com isso. depois de traumas antigos, havia aderido à regra (muito razoável) de me interessar por uma garota de cada vez. ainda assim decidi tentar de novo, e devo dizer que aprendi. redescobri o prazer momentâneo de sair à noite sozinho e voltar acompanhado. reatei amizades antigas e mal-intencionadas. tratei de fazer amizades novas. vivi amores de verão. inventei paixões platônicas mirabolantes, por amigas e colegas de trabalho, para não perder o coração por falta de uso. administrei paixões platônicas alheias. machuquei pessoas - algumas, pouco; outras, um pouco mais. me machuquei um pouco mais que um pouco, mas menos do que eu esperava. bebi, liguei para amigos de madrugada, ouvi canções de amor e escrevi textos tristes. tudo sem perder o equilíbrio, como os garotos do circo.

mas a vida reserva surpresas para todos - até para quem tenta imitar a disciplina impassível dos malabaristas chineses. o inesperado pode dar as caras a qualquer hora. na fila de um bar, em uma cidade desconhecida, em uma janela de bate-papo ou em um blog cheio de textos tristes. você pensa que está preparado para tudo e o inesperado aparece, de saia preta e blusa azul turquesa, e antes de conseguir abrir a boca você se dá conta de que não aprendeu nada. ninguém aprende nada.

pensei que podia amar e desamar como os garotos chineses do circo. equilibrar paixões como pratos de porcelana. bastou um sorriso, uma caminhada de alguns quarteirões e algumas centenas de milhares de palavras para que eu abandonasse a tentativa e nem notasse o chão cheio de cacos. só existe vida onde há desequilíbrio. é por isso que este texto não é triste.

não vou me gabar da minha alegria. não sou equilibrista. não há sentido em criar a ilusão de controle num mundo feito de ajustes e precariedade. no futuro, posso ler este texto com saudade, raiva, melancolia - ou com a satisfação de quem comprova que estava certo. não importa. agora, para mim, este texto não é triste. e não vou fingir que isso seja pouco.

9 comentários:

Autor disse...

Definitivamente estamos na mesma vibe. Meus últimos dias tem sido irritantemente felizes e completos. E sinto um pouco de vergonha de expor tanta alegria. By the way, estou vivendo e aproveitando os dias. Levando o tal de carpe diem ao pé da letra. Seja feliz, meu caro. Por quanto tempo durar essa felicidade. Acredite, nós merecemos.

Obs: A quem interessar possa, não sou a garota do Mary :-P
Apenas calhou de estarmos in love na mesma época.

gary barlow disse...

...mary?

Anônimo disse...

Don't worry, be happy. :)

PS: fala com sua senhôra que eu a "descobri", e que o blog dela é fofim tbm. e q eu fico na torcida por ambos. (msm sabendo q blogs de gente sofrendinho rende mais posts, rs).

Anônimo disse...

* rendem, por fvr.

gary barlow disse...

obrigado pela torcida, terapia. tentarei manter o blog interessante para você não mudar de ideia. :P

Autor disse...

Mary, Gary, tudo igual.
Pelo menos pro corretor do meu celular, sr

Priscila Basile disse...

é o texto feliz mais bonito que existe.

Autor disse...

Kd o povo desse blog????

(li bem uma crítica sobre o cd da Adele do gary nas minhas férias e só lembrei de falar agora!!! Acho chique!)

gary barlow disse...

estamos trabalhando horrores. mas retornaremos muito em breve - possivelmente com novidades.

gostou da crítica? :)