sábado, 5 de fevereiro de 2011

5:20

[gary barlow] oi, moça.

acabei de chegar em casa. obrigado por ter ligado para me convidar. adorei a noite, a música e a companhia. vamos repetir um dia desses? beijos.

ou melhor, beijos não. antes queria te dizer outra coisa.

talvez você não tenha percebido. mas, enquanto os nossos amigos procuravam seus prazeres momentâneos, eu não olhei para outra garota a noite toda. desde que te encontrei na festa, só pensava em te beijar. aliás, você estava linda com aquele vestido.

sei que isso tudo pode parecer insólito. afinal, já faz tempo que somos amigos - e mais nada.

a propósito, foi por isso que hesitei naquela hora em que te segurei pela cintura e minha boca chegou a encostar na sua, enquanto eu fingia que não te escutava por causa do som alto e me apoiava no seu ombro porque estava supostamente bêbado.

se você tivesse reparado em outras ocasiões, saberia que tenho uma ótima audição e que, mesmo quando estou bêbado, sempre mantenho uma distância respeitável das pessoas ao meu redor.

fiquei grudado em você porque quis. mas, ao mesmo tempo, não tive coragem de demonstrar minhas intenções de forma mais direta. deu medo de estragar nossa amizade, apesar de eu só ter me tornado seu amigo há tantos anos porque te acho uma mulher incrível. incrível demais para ser só minha amiga e me encontrar no bar uma ou duas vezes por mês para falarmos de banalidades.

é verdade que em algum momento acabei sublimando essa vontade e nos tornamos verdadeiramente amigos, a ponto de nos divertirmos juntos e trocarmos confidências. mas basta uma noite como esta para eu perceber que a sublimação não passava de autoengano, e que talvez as confidências fossem uma forma de tentar ganhar sua confiança, me aproximar de você e preparar o bote que eu não tenho coragem de dar.

patético, eu sei.

por isso resolvi te escrever. porque, mesmo que a sua vontade de me beijar seja talvez inexistente e com certeza menor do que a minha vontade de beijá-la, sinto que você merece saber a verdade.

eu não resisto a aproveitar a ocasião para dizer que você deveria me dar uma chance. nossos signos combinam e eu sei ser uma ótima companhia, principalmente quando supero a barreira do primeiro contato e deixo de ser um poço de insegurança e introspecção. sei que você está sozinha há um tempo. acho, sinceramente, que sou capaz de te fazer gostar de mim.

mas não é para isso que estou escrevendo esta mensagem. a decisão, afinal, é sua. não posso te forçar a me escolher, assim como não fui forçado quando te escolhi. se é que tive escolha.

estou escrevendo porque somos amigos, ao menos até segunda ordem. em uma relação como essa, a honestidade deve superar a timidez e o medo de rejeição. mesmo que você não queira nada comigo e ache tudo isso um enorme delírio de alguém que consumiu uma quantidade de álcool muito superior à recomendável, você tem o direito de saber o que se passa em minha cabeça. e pode me ajudar superar isso da melhor maneira possível, sem que percamos a cumplicidade que construímos com o tempo.

do contrário, a frustração enorme que sinto ao final de noites como esta pode acabar com nossa amizade. não sei se quero sentir isso de novo, e não sei se consigo passar outras noites ao seu lado enquanto estiver engasgado com essa sensação e todo este discurso sentimentalista, ainda que sincero. se não soubermos lidar com isso como adultos, sinto que vou me afastar de você, ainda que inconscientemente. por saber que nossos encontros terminam assim: com um idiota suspirando diante do teclado.

aliás, sinto que já estamos nos afastando.

agora sim, beijos.

gary barlow

nota de rodapé: mensagem não enviada mais de uma vez, para mais de uma garota.

9 comentários:

Anônimo disse...

Menino, acho vc um fofo. Sei que muita gente não curte esse adjetivo, mas é um elogio. :)
Sorte ae com sua amiga.

gary barlow disse...

thank you, i guess. :)
quanto à sorte, acho que não se aplica a esse caso. ou a esses casos. tem coisas que só se resolvem com uma máquina do tempo ou alguns anos de análise. talvez as duas coisas.

Paty disse...

Será que não é o momento de mandar a mensagem pra uma delas?

Anônimo disse...

Hum, pensa assim então: sendo vc como é (precisa explicar que eu sei que não somos o que aparentamos ser em um texto num blog?), sendo as mulheres como são (mulheres sempre são de um tudo, daí que acho que o verbo se aplica bem), sempre haverá ocasião para enviar esse tipo de mensagem. E qdo rolar, quem sabe, o final possa ser diferente. Ou não. (filosofando a la Caetano, perdoe, é que é domingo e eu tenho sono).

gary barlow disse...

pensei nisso ontem. acho que concordo com vocês. não mandarei agora, claro. timing, etc. mas se houver outras oportunidades (e minha má sorte indica que haverá), tentarei quebrar o ciclo.

só não sei se uma mensagem escrita é a melhor maneira de fazer isso.

Autor disse...

Vim parar aqui pq vi um link em outro blog e cá estou.
Que legal a msg naõ mandada. E fiquei pensando que eu sempre aperto o ENTER e envio as coisas antes de perder a coragem.
Será que não é isso que lhe falta? É só uma tecla (rs).

gary barlow disse...

autor: acho que meu superego foi programado pela microsoft. "você tem certeza? (ok) (cancelar)". eu penso e cancelo.

tippi hedren disse...

always a lover, always a loser.

gary barlow disse...

i'll keep playing until i win.