terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

23:20

[tippi hedren] primeiro, rodeios: tive a ilusão de que podia escrever este post de bruços -- não posso, não tenho firmeza. o gato branco se aproveitou desse breve momento e veio massagear minhas costas, com aquelas patas enormes que ele tem. dói, por causa das unhas, mas também é gostoso, porque é o jeito do gato de fazer carinho. eu entendo. gato 1 x 0 cachorro.

este post vai ficar enorme. é sobre uma garota que vive um momento de dúvidas avassaladoras e que não consegue se aproximar da própria mãe, coisas que não estão relacionadas. preciso falar delas neste post porque sou de urgências. minha sessão de análise vai demorar e me dei conta de que se eu não registrar, corro o risco de esquecer o que eu estou pensando, como um mecanismo de defesa, talvez. aí, vou acabar levando outras questões pro divã, o que seria bom se os problemas atuais não voltassem a me assombrar. mas -- e sempre tem um mas -- eles vão. então pare agora. ou não.

mais dois preâmbulos (dizem que quando a pessoa faz rodeio é porque existe resistência. é possível resistir a si mesmo, no próprio blog? hmmm):

encontrei um cara bem gatinho no ponto de ônibus. meio jake gyllenhaal, que não faz o meu tipo, by the way. fui pedir informações e, quando vi, tínhamos engatado uma conversa. ele era perdido. nem sabia o nome do ônibus que deveria pegar, mas jurava que ele passava naquela rua escura em que estávamos. segundo ele, eu precisava pegar esse mesmo ônibus. ele sabia conversar. e, como eu disse, também era bem pegável. foi então que me peguei querendo fugir dele, da conversa, antecipando o momento em que nos sentaríamos juntos no banco do ônibus. o momento chegou, tratei de me sentar antes da catraca. dei um tchau simpático antes, é claro.

isso, meus caros, é uma coisa que eu jamais teria feito. mesmo sem nenhum interesse, eu provavelmente teria continuado a conversa -- que mal tem? percebi, porém, que nenhum outro garoto além do meu garoto me interessa no momento. e que eu não preciso me cercar de pretendentes pra me sentir segura. provavelmente, pela primeira vez na história do meu coração, não há dúvidas: eu só quero você, querido.

essa historinha do ponto de ônibus se passou antes da minha reunião com o diretor de redação mais legal do mundo. ele é tão legal, mas tão legal, que topou tomar um café comigo mesmo sem poder me prometer um emprego. nem vaga existe na revista dele. gestos simpáticos assim me ganham. me ganham!

o cara está nessa revista há anos. vejam bem: ANOS. e nunca pegou um café da máquina do próprio andar. não sabia que botões apertar, colocou um copo a mais na engenhoca, se atrapalhou todo, em resumo. o que só me fez amar mais a pessoa. conversamos sobre cinema, sobre figurões do jornalismo cultural, sobre freud, o cachorro do freud e sobre lacan. acho que ele gostou deveras de saber que estou estudando psicanálise (eu estou! não é incrível?).

agora sim, as questões urgentes.

desde novembro, acho, sou voluntária do cvv. sim, aquele "serviço" telefônico que ajuda pessoas em situação de desespero. pela terceira vez, faltei. eu deveria estar lá agora, no momento em escrevo este post quilométrico. não consegui. embora eu consiga lidar muito bem com certas ligações, outras acabam comigo, com a minha paciência.

é assim: eu consigo conversar longamente com quem descobriu que tem HIV, por exemplo, mas não tenho boa vontade alguma com pessoas que ligam toda semana, com o mesmo problema. tendo a desprezá-las e mesmo a ter raiva de sua imobilidade. e eu sei, por deus eu sei, o quanto pode ser difícil sair do lugar.

outra coisa que neste momento me faz repensar o voluntariado é a dedicação que ele exige. toda terça -- das 22h às 2h. isso me complica, porque falta tempo pra dormir, pra ficar de bobeira, pra estudar, pra postar aqui (tava precisando!) e no blog famoso. ou talvez eu só esteja procurando desculpas.

outra coisa é que eu não acredito totalmente na minha utilidade. acho que certas demandas -- pra não dizer todas as demandas -- dependem de um trabalho contínuo. uma ligação pode, no máximo, ajudar a pessoa a se sentir melhor por desabafar. mas rá! eu não consigo apenas ouvir. eu me envolvo. eu fico analisando. faço perguntas, desejo que a pessoa se questione. e isso contraria a filosofia do cvv. e contraria muitas das pessoas que ligam. algumas delas não querem ser questionadas. têm seus motivos, é claro. outras, por outro lado, topam o desafio e, quando a ligação acaba, estamos ambos bem. porque, né? eu me destruo com cada dor. eu me espanto. eu não fico alheia jamais. talvez por isso eu esteja cansada. e fugindo.

semana passada, discuti com um voluntário que me pediu para desligar ou pelo menos guardar o celular. eu expliquei que não atendia ligações, apenas usava a internet durante o intervalo das ligações para o cvv. ele não quis saber. disse que uma instituição só se sustenta porque existem regras bla bla bla. travamos uma longa e tensa conversa sobre direitos e deveres. eu disse que não iria guardar o celular coisa nenhuma, porque a qualidade do meu atendimento não é garantida com base nisso. ele disse que eu deveria me queixar à direção. eu odeio burocracia e deixei isso bem claro. ele me acha arrogante, provavelmente. e agora que eu faltei, também deve me achar irresponsável. não posso dizer que ele está de todo errado.

sobre a minha mãe, poucas linhas: tenho saudade dela, penso nela, mas não consigo manter contato. isso acaba comigo. me dedico mais a estranhos do que a pessoas próximas. l de loser pra mim.

6 comentários:

O garoto disse...

Tippi querida, só tinha um jeito disso ficar melhor: se fosse nosso popularíssimo ex-presidente dizendo que "nunca antes na história desse coração"...

Aqui tampouco há dúvidas. Só quero você.

Anônimo disse...

Eu penso também em fazer alguma coisa voluntária, mas confesso que jamais algo tão intenso assim. Porque é difícil, é muito difícil lidar com pessoas (nem digo pessoas problemáticas, pq isso todos somos).

Sobre a sua mãe: tenta mais um pouquinho e se não conseguir, tente novamente e mais uma vez. :)(eu tenho issues com essa coisa de mãe, repara não).

gary barlow disse...

sobre o garoto, vocês são dois fofos. sobre a mãe, concordo com a terapia. sobre o trabalho voluntário, eu acredito que é impossível fazer algo do tipo se não te trouxer nenhuma satisfação pessoal. já bastam as frustrações que enfrentamos no trabalho involuntário...

Autor disse...

Eu já disse que adoro essa caixa de comentários?
Me sinto tão em casa, tão à vontade com pessoas estranhas que não conheço (tirando a terapia).
Enfim, depois que me mudei para longe dos meus pais passei a sentir mais falta deles. E hoje acho que me dedico um pouquinho e faço os nossos momentos juntos parecerem especiais.
Sobre o trabalho voluntário, não é pra mim. Sou egoista, chato e quero que o mundo se exploda (mentira, sou um bobão, faço quase tudo pelos meus amigos. Mas não me vejo dando de mim para ajudar os outros. Sou uma pessoa terrível, eu sei.
Do menino do ônibus, pq não passou meu telefone pra ele? (culpa do filme Amor & OUtras Drogas, que me deixou apaixonado pelo Jake) Rá!
Bjos

M. disse...

ah, sim. sobre o garoto, você deve ficar com ele assim pra sempre. sobre o trampo voluntário, já conversamos a respeito. sobre a sua mãe, tamos aí pro que der e vier - menos se baixar a von richtofen em você. rs

tippi hedren disse...

acho que ouvir isso do lula, aquele rouco, seria meio broxante. mas se for uma fantasia sua, podemos trabalhar.

sim, te-te (íntima), é difícil. muito difícil. sobre a minha mãe: é ainda mais difícil.

é, gary. mas tem gente precisando. e daí eu não consigo virar as costas. me sinto culpada. é terrível.

mas, autor, os seus pais devem se esforçar pra fazer desses momentos coisas especiais. a minha mãe não se esforça. #mimimi jake está incrível em "amor & outras dorgas (sic)".

garoto, eu não vou matar a minha mãe. aqui, a gente só trabalha com a morte simbólica.