sábado, 15 de janeiro de 2011

7:10

[gary barlow] há alguns dias eu disse que não corria o risco de ser feliz. era verdade. mas bastam alguns minutos de jogo do contente para perceber que há, afinal, um lado bom nisso. quem não corre o risco de ser feliz não se decepciona. nunca. e com ninguém.

mas chega de drama por enquanto. para não aborrecer o leitor, vou direto à parte boa. é curta. depois disso, cada um decide se quer ou não acompanhar o resto de meus lamentos. já aviso logo: passei a noite em claro e estou levemente alcoolizado. nesse estado, posso fazer pouco além de me envergonhar publicamente. e há vexames que não podem ser mitigados nem mesmo pelo anonimato.

a parte boa é que dancei a noite inteira.

pronto. se você quiser ler o restante, é porque o meu chororô te interessa. não entendo, mas respeito. peço apenas que releve o pedantismo e o tom de desabafo.

como disse, quem não corre o risco de ser feliz nunca se decepciona. atravessei a noite de sexta sem uma hora de sono. agora, não tenho qualquer motivo para dormir bem. embora a tentação de transmitir a culpa exista, não há álcool que me faça esquecer que ela só cabe a mim.

por melhor que seja a companhia, não há a menor chance de sucesso em um flerte se falta a coragem para arriscar. não há risco de final feliz sem risco de rejeição. e, ao que parece, também não há álcool que me faça esquecer esse último. ou esquecer que sou um tremendo medroso. e que, por mais que eu possa ter algumas qualidades, nunca vou deixar de invejar quem não tem esse defeito. como invejei hoje.

talvez o medo não seja o bastante para explicar tudo. como uma amiga gosta de me relembrar, há também uma dose generosa de exagero. assumo. sou assim com assuntos sentimentais. de propósito. pior ainda: não posso fazer nada.

atribuir aos sentimentos de outra pessoa um valor desproporcionalmente grande é uma decisão completamente racional. mas é também irreversível. poucos vícios são tão poderosos quanto o de criar histórias de amor a partir do nada.

para quem sai à noite em busca de diversão, um beijo de um desconhecido pode trazer um prazer momentâneo. talvez um pouco mais - mas não muito, e certamente não muitas vezes. para quem sai à noite para tentar concretizar uma história de amor, um simples beijo pode ser uma experiência inesquecível. lembro-me de todos. uma vez que se experimenta o milagre de tornar realidade um beijo antecipado tantas vezes na imaginação, não há mais sentido em dar espaço para beijos que ainda não foram imaginados. melhor apostar alto, mesmo se for para perder.

quando se exagera, porém, o medo de rejeição torna-se tão grande que se perde tudo antes de começar. como hoje. como era esperado.

por isso, nesta manhã de sábado, há várias palavras para descrever o meu estado. mas decepção não é uma delas. resignação me parece mais adequada. engraçado. será que mesmo depois de uma noite de festa, com algumas garrafas de cerveja na cabeça, a formação judaico-cristã ainda conseguiria me agarrar pelos calcanhares?

por um momento acredito que sim. mas então lembro que há uma palavra melhor. no carro, enquanto levava ela e seus amigos de volta para casa, só conseguia pensar no refrão da última música que ouvi naquela noite. nunca a tinha ouvido em uma pista de dança. deve ser coincidência, claro.




see you later, queridos. bom fim de semana para vocês.


8 comentários:

tippi hedren disse...

"para quem sai à noite para tentar concretizar uma história de amor, um simples beijo pode ser uma experiência inesquecível. lembro-me de todos. uma vez que se experimenta o milagre de tornar realidade um beijo antecipado tantas vezes na imaginação, não há mais sentido em dar espaço para beijos que ainda não foram imaginados. melhor apostar alto, mesmo se for para perder".

bonito.

vou torcer para que seus beijos por tanto tempo sonhados aconteçam.

a falta de coragem pode ser invejada. mas eu ainda prefiro os sonhadores.

tippi hedren disse...

eu odeio esse "1 TIVERAM a dignidade de comentar". e, como ninguém comenta, eu vou ser obrigada a fazê-lo. mas é só por causa da concordância.

gary barlow disse...

a man's gotta dream what a man's gotta dream, darling. ou caríssima, como se diz por aí. kiss kiss.

M. disse...

o destemor é um perigo. por vezes ele descaminha e vira destempero. o mais comum, porém, é virar desprezo – e aí, todo beijo é um beijo qualquer.

gary barlow disse...

para virar desprezo demora. mais fácil virar doença.

Anônimo disse...

sooo last last century

gary barlow disse...

guilty as charged.

Anônimo disse...

barlow,

adorei ambos tempo perdido e suas lamúrias. não deixe nunca de ser sonhador, baby, nem de ser poesia. e não vou te perdoar se te vir dirigindo um luxo deste, interior de madeira. te prefiro num novo fusca. te prefiro na melhor, do que pior performance.

abraços afetuosos e até a próxima,
caríssimo.